sexta-feira, 12 de setembro de 2014

DISTRAIDO (conto de Miguel Angel)

DISTRAIDO


Gildásio, preocupado com o concurso público a ser realizado em data próxima, estava tão envolvido que, distraído, pingou adoçante no olho, em lugar do colírio. Ardeu e assustou! A mulher dele mandou ir à farmácia da esquina.
Na farmácia, em cinco minutos, a farmacêutica o acalmou entre risadinhas zombeteiras e várias gotas de colírio.
Dia passou e tão distraído, ao bochechar com água morna, como fazia dia sim, dia não, por causa de um dente nervoso, botou um jorro de mertiolate no copo, em lugar da água oxigenada. Sentiu o raro gosto amargo, ardeu a boca toda e assustou!
 Na farmácia da esquina, em cinco minutos, a farmacêutica o acalmou entre risadinhas zombeteiras e maternais, mandando bochechar com bastante água limpa por cinco minutos e quantas vezes fossem necessárias até o gosto desaparecer.
Tão distraído três dias depois, adoçou o arroz e salgou o café; comeu e bebeu assim mesmo, de raiva, por facilitar à companheira caçoar dele com deboche rancoroso ao chegar do serviço com fome e cadê o arroz.
Passados dois dias, tão distraído, aparando as unhas, ceifou um pedaço de dedo junto com uma delas. Doeu e sangrou.

Na farmácia da esquina, a farmacêutica, Lucélia, lhe fez curativo, com aquele sorrisinho familiar e um tanto afável.

No dia da prova para o concurso, tão distraído, esqueceu as respostas certas.
A frustração e a culpa doeram. Menos que a gozação da mulher, vindo do serviço e saber do resultado; depois ela chorou, cansada de estar sustentando a casa sozinha. Com um alienado dentro dela.
Doeu.

Na farmácia da esquina, Gildásio foi se lamentar com Lucélia que o acalmou, garantindo que conhecia o remédio certo para essa dor – disse com um sorriso que ele só decifrou quando ela lhe deu o número de seu celular, sugerindo lhe telefonar depois de fechar a farmácia: às 20h30min.
Tão distraído, esqueceu de ligar para ela no horário indicado.
Ao lembrar às 22 h, doeu o tapa que se deu na bochecha, e o dente nervoso latejou o resto da noite. Doía.

No dia seguinte, na porta da farmácia da esquina, o sol e Lucélia encontraram Gildásio sentado na soleira da porta. Ela lhe receitou um sedativo, com um sorriso que de tão estranho, ele não soube decifrar; mas assim mesmo, arriscou se podia lhe telefonar às 20h30min...
Em casa, começou a fixar seus olhos no relógio a partir das 19h30min.

Às 20h30min, ligou.

Às 20h45min, subia as escadas que levavam ao andar de cima da farmácia da esquina, com um sorriso ardiloso de quem não tem nenhum dente nervoso, mas um coração apreensivo.

Tão distraído no dia seguinte que, ao acordar de manhã, chamou a companheira de ‘Lucélia’.

Doeu e assustou Marilda, a companheira, que entre chorando e berrando saiu para o serviço batendo porta: cansada de sustentar a casa sozinha com um alienado...
filho da puta dentro dela!

©Miguel Angel Fernandez

vergonha de escrever


Querendo não parecer racista, a Inglaterra tem sido leviana


Autor: ricardosetti
 
(Foto: Divulgação/VEJA)
O rapper L Jinny, identificado como o integrante do Estado Islâmico que decapitou o jornalista americano James Foley (Foto: Divulgação/VEJA)
A CEGUEIRA DA TOLERÂNCIA
O excesso de zelo em não parecer racista ou excludente leva a Inglaterra a ignorar a apologia do terrorismo e a reagir lentamente aos crimes cometidos por muçulmanos
Reportagem publicada em edição impressa de VEJA
Os ingleses foram surpreendidos na semana passada por duas consequências amargas do multiculturalismo que, de boa-fé, praticam no país, visto como um paraíso onde os preceitos anglo-saxões não podem ser considerados superiores às religiões e aos costumes de cidadãos das mais diferentes origens.
O primeiro choque veio no domingo 24, quando o jornal inglês Sunday Times revelou que o MI5, o serviço secreto inglês, identificou o mascarado integrante do grupo terrorista Estado Islâmico que decapitou o jornalista americano James Foley, na Síria, há duas semanas. O criminoso seria o rapper L Jinny, que vivia em Londres com sua mãe em uma casa de 3,7 milhões de reais.
Segundo os amigos, L Jinny tornou-se radical depois que se envolveu com seguidores do clérigo muçulmano Anjem Choudary, que circula livremente pelas ruas de Londres em uma perua e com um megafone elogiando o Estado Islâmico (antes conhecido como Isis). Quando perguntado na televisão sobre o assassinato de Foley, o clérigo respondeu que a decapitação é permitida pela lei islâmica.
"Não apoiamos os Estados Unidos, então temos de apoiar os terroristas", disse Choudary. Abdel-Majed Abdel Bary, o nome real de L Jinny, tem 24 anos e juntou-se ao Estado Islâmico no ano passado. Ele é filho de Adel Abdel Bary, que foi extraditado para os Estados Unidos em 2012 acusado de participar dos atentados de 1998 contra as embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia.
O segundo choque de realidade veio com a publicação de um relatório oficial revelando que mais de 1 400 meninas, algumas delas com apenas 11 anos, foram vítimas de exploração sexual entre 1997 e 2013 na cidade de Rotherham, no norte da Inglaterra. Os criminosos, a maioria de origem paquistanesa, organizavam estupros coletivos, sequestros, espancamentos e tráfico de garotas brancas.
Nesse intervalo de dezesseis anos, vítimas levaram aos policiais listas escritas a mão com o nome dos criminosos e pedaços de roupa com evidências, mas os policiais recusaram-se a agir porque temiam ser acusados de racismo. Na linguagem politicamente correta britânica, os paquistaneses e seus descendentes são chamados de "asiáticos". Era assim que os criminosos eram descritos nas denúncias feitas pelas vítimas.
Num trecho do relatório divulgado na semana passada, os policiais afirmam que relutavam em enfrentar as gangues de muçulmanos porque isso poderia prejudicar a "coesão da comunidade".
(Foto: Divulgação/VEJA)
Abdel-Majed Abdel Bary (verdadeiro nome de L Jinny), com a indumentária "ostentação", foi influenciado por um imã de Londres (Foto: Divulgação/VEJA)

Os paquistaneses pedófilos perceberam uma brecha para a impunidade porque os policiais e as autoridades de Rotherham costumavam ser omissos em relação a costumes retrógrados praticados pela comunidade muçulmana, como o casamento forçado de crianças. Ao saberem de mulheres que fugiam da violência doméstica, os policiais, em vez de ajudá-las, pediam a assistentes sociais que as encontrassem e depois tentassem devolvê-las ao convívio com o marido.
Sem uma instituição que coibisse práticas em conflito com o bom-senso e a lei, as violações adquiriram contornos maiores. Os indivíduos que se envolviam no estupro de meninas passaram a ganhar propostas de emprego e oportunidades financeiras para aliciar garotas brancas pobres, que chamavam de "lixo branco". Muitas eram abordadas na saída da escola e seduzidas com telefones celulares, álcool e drogas. Depois, eram violentadas por um ou vários homens e sofriam ameaças de morte constantes.
Apenas um caso resultou em condenação. Em 2010, cinco homens com idade entre 20 e 30 foram condenados pelo abuso de meninas de 12 a 16 anos. Foi uma exceção. Com medo de serem acusadas de intolerância étnica ou cultural, as autoridades inglesas permitiram atrocidades imensamente maiores.
A praga do multiculturalismo é entender que mesmo os atos mais nocivos cometidos por um membro de outra cultura não podem ser censurados, uma vez que isso seria um gesto de arrogância, etnocentrismo ou preconceito. O imã Choudary, que inspirou o rapper terrorista e quer implantar a lei islâmica na Inglaterra, por exemplo, também foi o mentor de Michael Adebolajo, londrino de ascendência nigeriana que atropelou um soldado inglês no ano passado e depois tentou decapitá-lo a facadas.
Apesar de tudo isso, Choudary continua pregando o ódio sem ser incomodado. Na sexta-feira 29, o primeiro-ministro David Cameron elevou o nível de alerta contra o terrorismo no país para "severo", o que significa que um ataque é altamente provável. Pelo menos 500 islamistas criados no bem-bom do multiculturalismo britânico e que foram lutar na Síria e no Iraque agora podem estar planejando retornar à Inglaterra para cometer atentados.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Os gays e o fim da amizade masculina


Autor: Mr X
 
Um artigo muito bem escrito (mas bem longo, e em inglês) adverte para um problema no qual eu jamais tinha pensado, mas que faz sentido: a propagação da cultura gay tem tido um efeito negativo sobre a amizade masculina.

O argumento é o seguinte: a aceitação pública dos gays mudou o sentido de certos comportamentos, antes comuns. Ao ver dois homens abraçados na rua, já pensamos: "é viado", embora poderiam ser apenas irmãos, ou amigos próximos. 

Pense na sua infância ou adolescência: talvez você tivesse algum amigo bem próximo com o qual passava grande parte do tempo, e aí, algum outro coleguinha invejoso, ou até alguma menina, insinuou: "esses aí são gays". E vocês, temerosos, afastaram-se um do outro, embora não houvesse absolutamente nada de remotamente sexual na relação.

Pense também nos filmes, na literatura. Quantas vezes agora dois personagens amigos homens (i.e. Frodo e Bilbo, Asterix e Obelix, Sherlock Holmes e Watson) já são interpretados como "gays" pelo simples fato de serem amigos próximos. Ver "gays" em tudo virou a nova norma; e a amizade masculina, com isso, sofreu um baque.  (Isso foi parodiado também naquele episódio de Seinfeld em que George e Seinfeld eram vistos como gays, "not that there's anything wrong with that")

O autor adverte também para um outro perigo: imagine, por exemplo, que o incesto e a pedofilia fossem liberados. Isso também mudaria a linguagem das relações humanas. Ao ver um pai abraçando a filha, já pensaríamos que pode ter algo mais aí do que o mero afeto filial. Ora, argumenta o autor, é justamente a proibição do incesto o que permite a proximidade familiar, assim como (antes) a proibição ou ao menos censura do comportamento gay é que permitia a amizade maior entre dois homens, sem que ninguém pensasse que um deles dava o cu. 

De fato isso já aconteceu um pouco: nos EUA, por exemplo, um homem que se aproxima mais de dois metros de crianças ou jovens desconhecidos já é visto como um tarado em potencial e chama-se a polícia, muito embora possa ser apenas um simpático vizinho. Mais de um fotógrafo já foi preso por ter tirado fotos de crianças em público, confundido com pedófilo. No Brasil, um pai e um filho podem ser agredidos ao ser confundidos com casal gay. Perdeu-se a sensação de inocência que antes havia; tudo agora é ou pode ser sexual. E portanto a amizade inocente de outros tempos também acabou. 
 Batman e Robin são gays, é claro.


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

frase victor hugo

susto gatuno

abra sua mente...

Assista ao vídeo: “O que quer que digam os esquerdistas, é o ‘Dia do Contrário’!”

Autor: felipemoura


Depois de "Como falar a língua da esquerda", trago aqui para o blog a tradução de mais um divertido e educativo vídeo do premiado escritor, roteirista e comentarista de mídia Andrew Klavan, autor, entre outros, dos livros "True Crime", que deu origem ao filme "Crime verdadeiro" de Clint Eastwood, e "Don't say a word", que resultou no filme "Refém do silêncio" com Michael Douglas. Dessa vez, Klavan reconta a ladainha das promessas do presidente Barack Hussein Obama e de seus companheiros, nenhuma das quais – como de hábito – é verdadeira. Em época de eleições dominadas pela esquerda no Brasil, é fundamental ter em mente o maior embuste americano.
www.youtube.com/watch?v=CRO2I3leKQw
Sou Andrew Klavan e este é o programa Revolting Truth [Verdade Revoltante].
É o Dia do Contrário – o dia em que tudo é exatamente o contrário do que foi dito.
Por exemplo, lembram que Barack Obama em 2011 nos disse "a maré da guerra está baixando"? Lembram, durante a campanha de reeleição naquele ano, quando ele disse que a Al Qaeda havia sido dizimada? Lembram depois, quando ele retirou todas as nossas tropas do Iraque e disse que estávamos "deixando para trás um Iraque soberano, estável e independente" e "A guerra da América no Iraque chegará ao fim"?
Bem, uhu! É o Dia do Contrário! Tudo que Obama disse é exatamente o contrário! A maré da guerra está uma inundação, engolindo boa parte do Oriente Médio. Os guerreiros assassinos da Al Qaeda reergueram o Estado Islâmico, mais poderoso e brutal do que nunca. E, claro, o Iraque está se banhando no derramamento de sangue e, se os Estados Unidos não o impedirem neste ponto, em breve ele estará aqui conosco.
Que dia maluco.
Aqui vai mais uma. Isto é divertido, né? Lembram-se do discurso em 2004 quando Obama disse "Não existe uma América negra e uma América branca… existem os Estados Unidos da América"? Lembram quando a The Economist e a New Yorker e a NPR disseram que a eleição de Barack Obama significava uma era pós-racial? E o New York Times anunciou sua eleição com a manchete: "Obama leva a América além da política racial"?
Surpresa! É o Dia do Contrário! Sim, [a cidade de] Ferguson, [no estado de] Missouri, foi tomada pelas piores revoltas raciais em anos. Uma pesquisa de New York Times/CBS revela que 87% dos americanos sentem que as relações raciais no nosso país continuaram as mesmas ou pioraram desde a eleição de Obama. E é a própria administração de Obama que instalou essas tensões, com o procurador-geral corrupto Eric Holder jogando a carta racial todas as vezes que é pego em um novo escândalo, e Joe Biden acusando republicanos de quererem pessoas negras acorrentadas novamente, e o próprio Obama sugerindo repetidamente que seus oponentes são motivados pelo racismo.
É um dia excelente, certo? Há, te peguei! É o contrário.
Não vamos parar por aí! Lembram quando Obama deixou o passado para trás para melhorar as nossas relações com a Rússia – esses caras que estão invadindo a Ucrânia? Ou lembram quando Obama prometeu uma administração transparente e ética que "conduziria seus afazeres à luz do dia" em vez de prender cineastas da oposição sob acusações forjadas, atrapalhar jornalistas investigativos, auditar grupos conservadores para exterminá-los e fiscalizar apenas as leis de que ele gosta enquanto edita outras leis sem o consentimento do Congresso?
Ah – e ei, lembram como esquerdistas sentiam-se virtuosos apoiando Obama e suas políticas? Não, espera, deixa para lá, esquerdistas ainda se sentem virtuosos… porque para eles é sempre… Dia do Contrário!
Sou Andew Klavan com Revolting Truth [a Verdade Revoltante].
* Tradução da colaboradora Silvia Kicis, a pedido e sob revisão sempre apressada de Felipe Moura Brasil.
Felipe Moura Brasil  http://www.veja.com/felipemourabrasil
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Tempos e pessoas: viagem ao coração da literatura

Autor: sergiorodrigues


Fernando Sabino: curinga na canastra
Fernando Sabino: curinga na canastra

Um dos conselhos literários mais importantes que já recebi – quase tão importante quanto aquele outro, o de desconfiar de todos os conselhos literários – me apareceu quando eu tinha vinte e tantos anos, lendo um artigo de Autran Dourado (citado aqui outro dia) sobre seu método de trabalho. Se a memória não me engana mais do que o habitual, o escritor mineiro revelava, embora não com essas palavras, uma forma de dar vida nova a textos deficientes, insatisfatórios, capengas ou falsos: trocar seu tempo verbal ou a pessoa da narração – ou as duas coisas ao mesmo tempo.
Ainda não era comum escrever em computador naquela época. O truque, se assim podemos chamá-lo, envolvia um bocado de trabalho pesado: rabiscar tudo com caneta era provavelmente o primeiro passo, mas no fim das contas, para ter um resultado apresentável, restava alimentar a máquina de escrever com papel novo e datilografar tudo outra vez. Da primeira à última palavra. Trocando, por exemplo, "fui" e "tinha" por "vou" e "tenho". Ou por "vai" e "tem". E "minha" por "sua". Etc.
É claro que, tendo feito tudo isso, e ainda que a princípio satisfeito com as mudanças, nada impedia o angustiado autor-datilógrafo de se arrepender no dia seguinte. Por alguma razão ainda pouco explicada, a virada da folhinha tem frequentemente essa capacidade de transformar felicidade autoral na frustração mais amarga. E lá iam tempos verbais e pessoas narrativas de volta ao estado de origem, à custa de mais batuque no teclado.
Divertido? Não, deve haver palavra que qualifique melhor esse tipo de exercício. Naquele tempo, a coisa tinha sem dúvida algo de insano, mas a função localizar/substituir do computador, eliminando como por milagre a maior parte do trabalho braçal, tornou forçado falar em insanidade. Hoje é bem mais fácil alterar o sujeito e os tempos verbais de uma narrativa, mesmo que ela seja um romance de 500 páginas. Claro que ajustes ainda precisam ser feitos manualmente, em flexões e tal, mas é indiscutível que o texto se tornou mais plástico, o caminho entre a cabeça e a página encurtou, a vida ficou mais confortável.
Curiosamente, junto com toda essa facilidade parece ter vindo também uma valorização ingênua de certa "espontaneidade", ao lado da desconfiança de que exercícios formais como aquela dança de tempos e pessoas – entre outros – não passem de disfarces para a falta do que dizer. Para esses cultores da "expressão pura", escritores são diferentes de pianistas, por exemplo, que dedicam boa parte da vida à repetição mecânica de escalas: já nascem sabendo tudo.
Sim, é possível que o problema de uma narrativa seja outro e que ela continue a mesma porcaria quando mudamos a narração da primeira para a terceira pessoa. Mesmo em tal caso, porém, o exercício não terá sido em vão. A razão disso é diabolicamente simples: ao brincar com o ponto de vista e o tempo verbal – a voz narrativa, em suma – estamos nada menos do que penetrando o coração dessa brincadeira, tomando posse daquilo que torna a literatura, literatura. Cervantes inventou o romance moderno quando inventou a voz maluca, autoconsciente, de D. Quixote. O resto veio depois.
"As virgens suicidas", de Jeffrey Eugenides, deve grande parte de seu encanto à opção pela narração na rara primeira pessoa do plural, que torna os vizinhos das irmãs Lisbon porta-vozes de todos os adolescentes apaixonados do mundo. Li há algum tempo uma entrevista em que Daniel Galera contava ter encontrado o tom de "Barba ensopada de sangue" no momento em que trocou a primeira pela terceira pessoa. Em meu romance "O drible", há trechos narrados em terceira, em primeira e até em segunda pessoa – uma alternância que nada tem de gratuita e que também não surgiu sem uma boa dose de experimentação, de tentativa e erro, em busca da melhor forma de contar aquela história.
É possível escrever tratados inteiros sobre cada pessoa e cada tempo verbal. O que todos têm em comum é o fato de cada escolha dar ao autor uma chave que abre algumas portas ao mesmo tempo que fecha outras. Nem todas as implicações são claras no momento em que se faz a opção. O excelente "O encontro marcado", narrado numa terceira pessoa colada ao ponto de vista de Eduardo Marciano, conduz Fernando Sabino a um impasse já perto do fim, quando precisa dar ao leitor uma informação (sobre o filho abortado de Marciano) que o próprio personagem, alter ego do autor, não tem. A solução que o escritor encontra é trair por algumas linhas a voz do livro, sujando com um curinga sua canastra de resto perfeita.

domingo, 7 de setembro de 2014

Deus e o diabo na terra do ‘só’

Autor: sergiorodrigues


fósforo

Então é só isso? Umas poucas palavras bem colocadas e pronto, ali está o leitor na ponta da linha, anzol cravado na bochecha? Sim, mas também pode ser só isso: uma única palavra em falso e o peixe desaparece nas profundezas para nunca mais passar perto do seu bote. O que vai ser?
Em qualquer praia estética, esteja ele muito ou nada interessado em ser acessível a um grande número de leitores, acredito que esta preocupação habite a cabeça de todo escritor digno desse nome, isto é, qualquer um que escreva para ser lido por alguém e não apenas para expressar seu eu profundo: como dar às palavras, uma após a outra, uma certa ressonância de verdade?
Estamos em terreno traiçoeiro. Em primeiro lugar convém deixar claro que a palavra verdade não tem aqui – não ainda – a menor fumaça filosófica, histórica ou mesmo emocional. Importa menos "a verdade" do autor ou da história que ele conta do que "uma certa ressonância de verdade". Sim, é claro que uma dimensão está ligada à outra em algum nível profundo, mas vamos supor que ainda não mergulhamos o suficiente para chegar lá. Estamos na superfície do texto, mal equilibrados em nosso botezinho. Tateantes, inseguros, estendemos a mão e escolhemos palavras para espetar no anzol. Como saber qual é a palavra certa?
Bom, certeza nunca se tem. Tentativa e erro, escrever e reescrever, serão sempre processos indispensáveis do ofício. Contudo, tanto o escrever quanto o reescrever podem e devem ser guiados por alguns princípios gerais, e entre estes acredito que os mais valiosos, quando se trata de buscar uma certa ressonância de verdade, são aqueles que giram em torno do detalhe eloquente, preciso, revelador.
A ideia já foi expressa de diversas formas por grandes escritores. Vladimir Nabokov recomendou "acariciar os detalhes" – isto é, tratar amorosamente as minúcias, prodigalizar-lhes atenção, gastar tempo com elas. Anton Tchékhov cunhou uma bela máxima: "Não me diga que a lua está brilhando; mostre-me seu reflexo num caco de vidro". Margaret Atwood discorreu de modo comovente sobre a capacidade que tem a literatura – em contraste com o cinema, por exemplo – de pintar cenários grandiosos com base em quase nada, a chaminha trêmula de um palito de fósforo passando por grande incêndio.
Diferenças sutis à parte, o que se percebe em todos esses casos é a valorização do específico sobre o genérico, da parte sobre o todo, do menos sobre o mais. O reconhecimento de que as palavras são só fagulhas que provocarão uma explosão – não na própria página, mas na cabeça do leitor.
É assim que, em vez de dizer que "o calor era senegalesco", esse lugar-comum fossilizado, ou mesmo que "o termômetro marcava 42 graus", quase sempre será mais eficaz em termos literários mencionar um dos efeitos concretos da alta temperatura – só isso. O asfalto amolecido que afunda sob o tênis do protanista. As ondas de vapor distorcendo a paisagem vista da janela. O cara que abre a geladeira de picolé da padaria e enfia a cabeça lá dentro. A louca de meia idade que tira toda a roupa e mergulha no chafariz da praça, sob o olhar complacente do guarda gordo que não se anima a deixar a sombra de sua árvore. A evaporação integral dos oceanos revelando os esqueletos de galeões naufragados sob montanhas de peixes mortos.
Escolhido num cardápio infinito que vai do mais prosaico ao mais fantástico, o tipo de detalhe, de metonímia, de condensação depende das intenções de cada um, claro. Não se trata aqui de ensinar a produzir harmonias e melodias, apenas de afinar o instrumento. O que importa é dar ao leitor a ilusão de que quem escreve habitou realmente aquela cena, motivo pelo qual é capaz de apontar – só isso – seus mínimos efeitos sensoriais, em vez de se limitar a sobrevoá-la e produzir uma platitude totalizante como "fazia um calor infernal".
As batalhas homéricas não teriam nem metade de sua violência se o texto não nos levasse a ouvir o ruído de ossos e tendões partidos a golpes de espada. Ah, então é só isso? Não, não é só isso. Mas é um bom começo.

A estrela!


Aranha gigante; 'Mem'


De la Bienal de San Pablo: ¿Quién toma en serio la opinión política de los artistas? Yo no. Dejé de hacerlo al ver la ruina de los regímenes totalitarios.


O
El arte de la fuga

¿Quién toma en serio la opinión política de los artistas? Yo no. Dejé de hacerlo al ver la ruina de los regímenes totalitarios.

En las pinturas de Isaak Brodsky (sobre Lenin); en las películas de Leni Riefenstahl (Hitler); y en las telas de Alessandro Bruschetti (sobre Mussolini), el "arte político" dejó un testamento vergonzoso, que paso a legitimar y exaltar las virtudes de los psicópatas.

Excepciones, siempre hay. Pero el 'matrimonio' entre el arte y la política suele tener malos resultados. "El arte por el arte" no es sólo un eslogan del siglo 19. Es un consejo prudente para los que tienen pretensiones para dedicar a el.

Por eso me reí alto con la carta abierta que 55 artistas enviaran a la Fundación Bienal de São Paulo.
Punto anterior: ninguna persona adulta escribe cartas abiertas en rebaño; cuando hablamos de artistas o pretendidos artistas, la cosa suena aún peor. O el arte vive de la autonomía individual, o no vive. Sólo los cobardes firman en manada.

Pero los 55 se rebelaron con el apoyo financiero que Israel dio a la Bienal. No quieren dinero judío porque creen que el dinero después de la guerra en Gaza, contaminan sus integridades estéticas.
Si el dinero fuese de la Autoridad Palestina o hasta del Hamas, tal vez la conversación fuese otra. No lo es. Es de Israel.

No voy a volver al conflicto entre Israel y Hamas, que ahora vive su tregua clásica antes de la próxima confrontación. Mientras el mundo no entienda lo bastante la naturaleza del islamismo e yihadista del Hamas, no vale la pena gastar latín con el asunto.

Pero tal vez no sea inútil hacer una pregunta puramente teórica: de que vive el arte, al final?
Arriesgo una respuesta: el arte vive de la libertad. Un cliché sin gran importancia?

Errado. Parafraseando a Saul Bellow, me gustaría de conocer el Balzac de los zulúes. No conozco. Si Nueva York, Londres o Berlín son centros de excelencia estética, esto se debe a la estabilidad política y la riqueza material de estas ciudades.

E incluso si el arte está "comprometido", que ya parece una corrupción de su vocación, es conveniente que el "compromiso" sea dirigido a los objetivos correctos.
Los 55 artistas en la Bienal fallan en dos planos.

Comenzando por la libertad, sólo consultar los rankings de ONG Freedom House de 2014 no voy a cansar al lector con números y más números. En resumen, sólo decir: Israel es el único país en el Medio Oriente y África del Norte considerado "libre". Asimismo, el resto oscila entre "parcialmente libres" (Túnez, Libia, Kuwait) y "no libres" (Irak, Irán, Arabia Saudita).

Y para mantenerse en el vecindario de Israel, es la desgracia: Jordania, Egipto o Siria continúan antros de represión. Los 55 artistas que deberían defender la libertad de expresión como quien defiende el oxígeno, firman una carta contra el único país que respeta esa libertad en todo el Oriente Medio.

¿Y sobre los derechos humanos? Hecho: Israel merece varias líneas de condena en los informes anuales de Human Rights Watch, otra organización no gubernamental independiente. Pero nada que se  compare al comportamiento de estos países de Oriente Medio, para no hablar de la vecindad alrededor.

Un buen indicador del respeto de los derechos humanos es el tema clásico de la pena de muerte. Israel abolió los delitos civiles. De Egipto a Jordania, del Líbano a la Autoridad Palestina, la ejecución judicial se sigue produciendo.
Digo "judicial" porque Hamas, como todos sabemos, prefiere las cosas de forma "extrajudicial", fusilando traidores en el medio de la calle.

Por otra parte, será necesario disertar sobre la diferencia entre los "derechos" de las mujeres o de los homosexuales en Israel y en los países de vecinos? Será preciso recordar la historia de las amputaciones y lapidaciones de adúlteras que existe por esos lados?
Y será preciso añadir algo a la barbarie del Estado Islámico de Irak y el Levante, que aparentemente no molesta a los 55 artistas de la Bienal de Sao Paulo?

Criticar a Israel es legítimo. Ningún gobierno está por encima de la crítica. Transformar Israel en un paria internacional es una forma de ceguera antisemita.

Respetaré sólo el "coraje" de los 55 artistas en el día de su viaje a Bagdad, Riad o Gaza y escribieren una carta contra los gobiernos locales. En defensa de la libertad y los "derechos humanos".

Esto, por supuesto, si todavía tuviesen manos para escribir.

Autor: João Pereira Coutinho / trad.Miguel Angel


A política da arte e o pobrismo de butique

Autor: rconstantino


Mural de Eder Oliveira na Bienal de SP: arte?

Se juntarmos uma elite fútil e culpada com oportunistas de plantão em tempos de intenso relativismo moral e estético, o que teremos como resultado? Resposta: a Bienal de São Paulo. O culto ao feio nunca esteve tão na moda, assim como a tentativa de se enaltecer a pobreza. É o velho "pobrismo" que tanta gente já condenou antes, com razão.
Se tudo é arte, então nada é arte. E a "arte" foi tomada por "artistas" engajados ideologicamente que só conseguem produzir lixo, que passa a ser tratado como pérola nas mãos de curadores igualmente incompetentes e politicamente engajados. É uma combinação fatal para a estética e a ética. Ou seja, é a morte da verdadeira arte.
A Bienal de São Paulo deste ano já tinha produzido uma aberração: "artistas" que escreveram uma carta de protesto ao governo de Israel, demonstrando seu duplo padrão moral, seu ranço ideológico, sua infantilidade e sua patologia, tudo de uma só vez, já comentado por mim aqui. Agora foi a vez de o editorial da Folha bater na politização da turma:
Já se noticiou que o público poderá ver uma pintura realista de presidiários de Belém; um vídeo que narra a transformação de um travesti em pastor; uma simulação cinematográfica da implosão do Templo de Salomão; uma coleta de imagens feitas pela polícia durante manifestações.
Em sintonia com esse figurino, um grupo de 55 dos 86 artistas assinou manifesto que pede à Fundação Bienal a devolução do patrocínio de Israel (R$ 90 mil num total de R$ 24 milhões) a título de protestar contra o massacre em Gaza.
Compreende-se a revolta contra a investida israelense, mas não faz sentido pressionar a Bienal a criar uma lista de negra de nações.
Quais seriam os critérios? Contribuições dos EUA, país com tradição de intervenções militares, deveriam ser vetadas? A China, uma ditadura, estaria impedida de doar? Não seria o caso de censurar o apoio do próprio Brasil, onde a violência mata muito mais do que no conflito israelo-palestino?
Apesar de seu pretenso simbolismo, o protesto dos artistas parece equivocado e pueril. Ganhará o público se a qualidade estética das obras expostas no Pavilhão do Ibirapuera mostrar-se mais sofisticada do que a visão política que embasou esse manifesto.
Claro que tal ilusão é infundada e ingênua. E uma excelente reportagem da Veja desta semana joga a pá de cal nesses iludidos, ao descrever com precisão o tipo de evento que vem por aí: o pobrismo de butique. Como dizem os autores, "Não faltam exercícios de relativização moral típicos do marxismo jacu".
O "coitadismo" das "minorias" é sua marca registrada, tudo para atacar o capitalismo, o papa, as "elites" – as mesmas que vão lá ver toda a porcaria, pois ninguém acha que o público-alvo são os pobres exaltados nos murais. A reportagem conclui:
pobrismo
Ouch! O que é invisível mesmo, nesse meio "artístico", é a habilidade, a criatividade, a verdadeira arte, aquela que se pretende eterna, e não efêmera, para ser consumida por gigolôs intelectuais e burgueses culpados pela situação de opulência material em um mundo desigual. Que essa elite covarde busque ajuda num divã, mas deixe a arte em paz, livre de tanta poluição ideológica!
Rodrigo Constantino

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Sai da frente!


Sai da frente!2


Povo asiático, povo superior?

Autor: Mr X


O povo asiático é muito inteligente. Dizem que tem o QI médio mais alto do planeta, se não contarmos o judeu asquenazi como categoria à parte. É claro que QI não é tudo e talvez até seja super-valorizado em detrimento de outras qualidades, mas mesmo assim. Burros eles não são.

Gosto em especial do povo japonês. Eles são educados e fazem ótimos filmes de animação. Tenho menos admiração pela cultura chinesa, mas não nego que sejam certamente um povo de inteligência e cultura milenar.

Pois bem, os asiáticos estão lentamente dominando a costa oeste americana e canadense. Não em termos numéricos, é certo (esse troféu pertence aos mexicanos), porém aparecem em números cada vez mais expressivos nas estatísticas do ensino superior e no quadro funcional das empresas do vale do silício como Google e Facebook. Embora o que tenha chamado a atenção da mídia tenha sido a escassa participação de negros e latinos, ninguém mencionou que os asiáticos estão super-representados, formando quase 35% do total de empregados. E em algumas importantes universidades da costa oeste americana, os asiáticos já são mais de 50% dos estudantes.

Cultura exemplar, muito legal, etc e tal. 

Uma coisa, no entanto, me intriga. Os asiáticos, e em especial os chineses (nota: nunca vi nada de semelhante nos japoneses, que por sinal amam os gatos), tendem a ser cruéis e insensíveis com os animais, e às vezes, até com as crianças.

Com os animais, bem, eu nem falo do hábito de comer cachorro ou outros animais que para nós são domésticos, mas da tendência em alguns casos de comer animais vivos ou recém-mortos, ou até de excitar-se com seu sofrimento. Também não vou falar do hábito de caçar impiedosamente os rinocerontes para fazer com seu chifre uma poção erótica de efeito duvidoso. Mas o que dizer, por exemplo, dos vídeos de crush? (Atenção, imagens fortes). Tais barbaridades parecem ocorrer em especial na China e Coréia, mas também houve algumas Filipinas envolvidas. E como explicar os cachorros perdidos mortos a pauladas em público, em vez de serem levados a um canil? 

Quanto às crianças, bem, o vídeo da criança morta numa fábrica da China sem que ninguém desse bola foi viral há um tempo atrás, mas nem é disso que falo: mas sim do tradicional hábito supostamente asiático de ser ultra-exigente com as crianças e forçá-las a estudar matemática e praticar violino oito horas por dia, como a famigerada "Tiger Mom" Amy Chua. Pode ser que o método tenha sua valia, mas, considerando que inteligência e talento tem em grande parte origem genética, parece uma crueldade inútil. Afinal, a maioria dos pianistas famosos começou muito cedo quando criança, mas, quase sempre, por interesse próprio, e já demonstrando grande talento desde o início (Aliás, outra curiosidade interessante: os maiores compositores musicais da história são certamente os germânicos, com segundo lugar para os italianos, mas a maioria dos melhores pianistas são judeus ou eslavos; ultimamente tem surgido músicos asiáticos bons, mas parecem preferir o violino e outros instrumentos de corda). E, além disso, a criança também deveria ter o tempo de brincar e desenvolver a sua criatividade, não?    

Enfim, apenas um post besta, pensando no que acontecerá quando os EUA forem de vez para a cucuia com seu multiculturalismo, e a China se tornar a principal potência mundial.