sábado, 8 de março de 2008

VEJA 7 – Bandoleiros primitivos IV – Por que Chávez quer a guerra


Por Thomaz Favaro:
O destempero verbal é uma característica dos caudilhos fanfarrões e, na maior parte das vezes, não deve ser tomado ao pé da letra. A saraivada de insultos e ameaças disparados por Hugo Chávez contra o governo da Colômbia pertence a uma dimensão mais perigosa – aquela na qual trafega o projeto de poder totalitário da esquerda radical na América Latina, único lugar do mundo onde essas sandices que envenenaram o século XX ainda parecem ter algum fôlego. A verborragia do presidente venezuelano é um elemento da estratégia de fomentar tensões na região. Caso os colombianos caíssem na armadilha de reagir à mobilização de tropas venezuelanas, na semana passada, Chávez talvez tivesse conseguido o que queria. Ele desejava uma escalada militar. Nas sombras, por procuração, Chávez já se envolveu na luta armada contra o governo democrático do país vizinho. O governo chavista é hoje o principal patrocinador político e financeiro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
(...)
Na madrugada de sábado, primeiro dia de março, um ataque aéreo colombiano devastou um acampamento das Farc instalado nas matas do Equador, a menos de 2 quilômetros da fronteira com a Colômbia. O bombardeio matou Raúl Reyes, o segundo na hierarquia da organização, e 22 de seus companheiros.
(...)
Chávez pranteou o morto com um minuto de silêncio em seu programa semanal de televisão. Em seguida, pôs-se a divagar sobre a longa amizade existente entre eles. Contou que, depois de deixar a prisão (fora preso como cabeça de um golpe militar fracassado), em 1994, compareceu a uma reunião do Foro de São Paulo, em El Salvador. Ali teve a oportunidade de conhecer Lula, então apenas um líder de oposição, e também o terrorista Reyes.
(do blogg de Reinaldo Azevedo)
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quinta-feira, 6 de março de 2008

Quando a vida começa?

O primeiro instante

Aborto é assassinato? Pesquisar células-tronco é brincar com pequenos seres humanos? Manipular embriões é crime? Polêmicas como essas só se resolverão ao determinarmos quando, de fato, começa a vida humana.
Por
Eliza Muto e Leandro Narloch

Ao lado de "paz" e "amor", "vida" é uma daquelas poucas palavras capazes de provocar unanimidade. Quem pode ser contra? "Amor" e "paz", no entanto, são conceitos cuja definição não desperta polêmica. Com "vida" é diferente. Ninguém é capaz sequer de explicar o que é vida. Só no Aurélio há 18 tentativas. Por mais de 2 mil anos, essa indefinição foi motivo de inquietação só para poucos filósofos. Em geral, nos contentamos em falar que vida é vida e pronto. Hoje, porém, a ciência mexe fundo neste conceito. Expressões como "proveta" e "manipulação genética" estão cada vez mais presentes no cotidiano. E a pergunta sobre o que é vida, e quando ela começa, virou uma polêmica que vai guiar boa parte da sociedade em que vamos viver. A resposta sobre a origem de um indivíduo será decisiva para determinar se aborto é crime ou não. E se é ético manipular embriões humanos em busca da cura para doenças como o mal de Alzheimer e deficiências físicas.

"Ter embriões estocados em laboratório é um evento tão novo e diferente para a humanidade que ainda não tivemos tempo de amadurecer essa idéia", diz José Roberto Goldim, professor de bioética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. "Biologicamente, é inegável que a formação de um novo ser, com um novo código genético, começa no momento da união do óvulo com o espermatozóide. Mas há pelo menos 19 formas médicas para decidir quando reconhecer esse embrião como uma pessoa."

Vida é quando acontece a fecundação? Isso significa dizer que cerca de metade dos seres humanos morre nos primeiros dias, já que é muito comum o embrião não conseguir se fixar na parede do útero, sendo expelido naturalmente pelo corpo. Vida é o oposto de morte - e então ela se inicia quando começam as atividades cerebrais, por volta do 2º mês de gestação? Vida é um coração batendo, um feto com formas humanas, um bebê dando os primeiros gritos na sala de parto? Ou ela começa apenas quando a criança se reconhece como indivíduo, lá pelos 2 anos de idade? Para a Igreja, vida é o encontro de um óvulo e um espermatozóide e, portanto, não há qualquer diferença entre um zigoto de 3 dias, um feto de 9 meses e um homem de 90 anos. Mas então por que não existem velórios com coroas de flores, orações e pessoas de luto para embriões que morrem nos primeiros dias de gravidez? Essa é uma discussão cheia de contradições e respostas diferentes. Um debate em que a medicina fica mais perto de ser uma ciência humana do que biológica e em que freqüentemente se encontram cientistas usando argumentos religiosos e religiosos se valendo de argumentos científicos. Por isso, o melhor a fazer é começar pela história de como a idéia de vida apareceu entre nós.

"A igreja católica mudou de opinião sobre o início da vida pelo menos umas 3 vezes. Até 1869, o embrião não era considerado humano. E o aborto, tolerado."

 A história da vida

Saber onde começa a vida é uma pergunta antiga. Tão velha quanto a arte de perguntar - a questão despertou o interesse, por exemplo, do grego Platão, um dos pais da filosofia. Em seu livro República, Platão defendeu a interrupção da gestação em todas as mulheres que engravidassem após os 40 anos. Por trás da afirmação estava a idéia de que casais deveriam gerar filhos para o Estado durante um determinado período. Mas quando a mulher chegasse a idade avançada, essa função cessava e a indicação era clara: o aborto. Para Platão, não havia problema ético algum nesse ato. Ele acreditava que a alma entrava no corpo apenas no momento do nascimento.

As idéias do filósofo grego repercutiram durante séculos. Estavam por trás de alguns conceitos que nortearam a ciência na Roma antiga, onde a interrupção da gravidez era considerada legal e moralmente aceitável. Sêneca, um dos filósofos mais importantes da época, contou que era comum mulheres induzirem o aborto com o objetivo de preservar a beleza do corpo. Além disso, quando um habitante de Roma se opunha ao aborto era para obedecer à vontade do pai, que não queria ser privado de um filho a quem ele tinha direito.

A tolerância ao aborto não queria dizer que as sociedades clássicas estavam livres de polêmicas semelhantes às que enfrentamos hoje. Contemporâneo e pupilo de Platão, Aristóteles afirmava que o feto tinha, sim, vida. E estabelecia até a data do início: o primeiro movimento no útero materno. No feto do sexo masculino, essa manifestação aconteceria no 40º dia de gestação. No feminino, apenas no 90º dia - Aristóteles acreditava que as mulheres eram física e intelectualmente inferiores aos homens e, por isso, se desenvolviam mais lentamente. Como naquela época não era possível determinar o sexo do feto, o pensamento aristotélico defendia que o aborto deveria ser permitido apenas até o 40º dia da gestação.

A teoria do grego Aristóteles sobreviveu cristianismo adentro. Foi encampada por teólogos fundamentais do catolicismo, como São Tomás de Aquino e Santo Agostinho, e acabou alçada a tese oficial da Igreja para o surgimento da vida. E assim foi por um bom tempo - até o ano de 1588, quando o papa Sixto 5º condenou a interrupção da gravidez, sob pena de excomunhão. Nascia aí a condenação do Vaticano ao aborto, você deve estar pensando. Errado. O sucessor de Sixto, Gregório 9º, voltou atrás na lei e determinou que o embrião não formado não poderia ser considerado ser humano e, portanto, abortar era diferente de cometer um homicídio. Essa visão perdurou até 1869, no papado de Pio 9º, quando a Igreja novamente mudou de posição. Foi a solução encontrada para responder à pergunta que até hoje perturba: quando começa a vida? Como cientistas e teólogos não conseguiam concordar sobre o momento exato, Pio 9º decidiu que o correto seria não correr riscos e proteger o ser humano a partir da hipótese mais precoce, ou seja, a da concepção na união do óvulo com o espermatozóide.

A opinião atual do Vaticano sobre o aborto, no entanto, só seria consolidada com a decisão dos teólogos de que o primeiro instante de vida ocorre no momento da concepção, e que, portanto, o zigoto deveria ser considerado um ser humano independente de seus pais. "A vida, desde o momento de sua concepção no útero materno, possui essencialmente o mesmo valor e merece respeito como em qualquer estágio da existência. É inadmissível a sua interrupção", afirma dom Rafael Llano Cifuentes, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O catolicismo é das únicas grandes religiões do planeta a afirmar que a vida começa no momento da fecundação e a equiparar qualquer aborto ao homicídio. O judaísmo e o budismo, por exemplo, admitem a interrupção da gravidez em casos como o de risco de vida para a mãe (veja quadro na pág 61). Isso mostra que a idéia de vida e a importância que damos a ela varia de acordo com culturas e épocas. Até séculos atrás, eram apenas as crenças religiosas e hábitos culturais que davam as respostas a esse debate cheio de possibilidades. Hoje, a ciência tem muito mais a dizer sobre o início da vida.

 A ciência explica

O astrônomo Galileu Galilei (1554-1642) passou a vida fugindo da Igreja por causa de seus estudos de astronomia. Ironicamente, sem uma de suas invenções - o telescópio, fundamental para a criação do microscópio -, a Igreja não teria como fundamentar a tese de que a vida começa já na união do óvulo com o espermatozóide. Foi somente no século 17, após a invenção do aparelho, que os cientistas começaram a entender melhor o segredo da vida. Até então, ninguém sabia que o sêmen carregava espermatozóides. Mais tarde, por volta de 1870, os pesquisadores comprovaram que aqueles espermatozóides corriam até o óvulo, o fecundavam e, 9 meses depois, você sabe. Foi uma descoberta revolucionária. Fez os cientistas e religiosos da época deduzir que a vida começa com a criação de um indivíduo geneticamente único, ou seja, no momento da fertilização. É quando os genes originários de duas fontes se combinam para formar um indivíduo único com um conjunto diferente de genes.

Que bom se fosse tão simples assim. Hoje sabemos que não existe um momento único em que acontece a fecundação. O encontro do óvulo com o espermatozóide não é instantâneo. Em um primeiro momento, o espermatozóide penetra no óvulo, deixando sua cauda para fora. Horas depois, o espermatozóide já está dentro do óvulo, mas os dois ainda são coisas distintas. "Atualmente, os pesquisadores preferem enxergar a fertilização como um processo que ocorre em um período de 12 a 24 horas", afirma o biólogo americano Scott Gilbert, no livro Biologia do Desenvolvimento. Além disso, são necessárias outras 24 horas para que os cromossomos contidos no espermatozóide se encontrem com os cromossomos do óvulo.

Quando a fecundação termina, temos um novo ser, certo? Também não é bem assim. A teoria da fecundação como início de vida sofre um abalo quando se leva em consideração que o embrião pode dar origem a dois ou mais embriões até 14 ou 15 dias após a fertilização. Como uma pessoa pode surgir na fecundação se depois ela se transforma em 2 ou 3 indivíduos? E tem mais complicação. É bem provável que o embrião nunca passe de um amontoado de células. Depois de fecundado numa das trompas, ele precisa percorrer um longo caminho até se fixar na parede do útero. Estima-se que mais de 50% dos óvulos fertilizados não tenham sucesso nessa missão e sejam abortados espontaneamente, expelidos com a menstruação.

"Após 8 semanas de gestação, o embrião responde a estímulos, tem traços faciais, mãos, pés, dedos e um coração batendo."

Além dessa visão conhecida como "genética", há pelo menos outras 4 grandes correntes científicas que apontam uma linha divisória para o início da vida. Uma delas estabelece que a vida humana se origina na gastrulação - estágio que ocorre no início da 3ª semana de gravidez, depois que o embrião, formado por 3 camadas distintas de células, chega ao útero da mãe. Nesse ponto, o embrião, que é menor que uma cabeça de alfinete, é um indivíduo único que não pode mais dar origem a duas ou mais pessoas. Ou seja, a partir desse momento, ele seria um ser humano.

Com base nessa visão, muitos médicos e ativistas defendem o uso da pílula do dia seguinte, medicação que dificulta o encontro do espermatozóide com o óvulo ou, caso a fecundação tenha ocorrido, provoca descamações no útero que impedem a fixação do zigoto. Para os que brigam pelo o direito do embrião à vida, a pílula do dia seguinte equivale a uma arma carregada.

Para complicar ainda mais, há uma terceira corrente científica defendendo que para saber o que é vida, basta entender o que é morte. E países como o Brasil e os EUA definem a morte como a ausência de ondas cerebrais. A vida começaria, portanto, com o aparecimento dos primeiros sinais de atividade cerebral. E quando eles surgem? Bem, isso é outra polêmica. Existem duas hipóteses para a resposta. A primeira diz que já na 8ª semana de gravidez o embrião - do tamanho de uma jabuticaba - possui versões primitivas de todos os sistemas de órgãos básicos do corpo humano, incluindo o sistema nervoso. Na 5ª semana, os primeiros neurônios começam a aparecer; na 6ª semana, as primeiras sinapses podem ser reconhecidas; e com 7,5 semanas o embrião apresenta os primeiros reflexos em resposta a estímulos. Assim, na 8ª semana, o feto - que já tem as feições faciais mais ou menos definidas, com mãos, pés e dedinhos - tem um circuito básico de 3 neurônios, a base de um sistema nervoso necessário para o pensamento racional.

A segunda hipótese aponta para a 20ª semana, quando a mulher consegue sentir os primeiros movimentos do feto, capaz de se sentar de pernas cruzadas, chutar, dar cotoveladas e até fazer caretas. É nessa fase que o tálamo, a central de distribuição de sinais sensoriais dentro do cérebro, está pronto. Se a menor dessas previsões, a de 8 semanas, for a correta, mais da metade dos abortos feitos nos EUA não interrompem vidas. Segundo o instituto americano Allan Guttmacher, ong especializada em estudos sobre o aborto, 59% dos abortos legais acontecem antes da 9ª semana.

Apesar da discordância em relação ao momento exato do início da vida humana, os defensores da visão neurológica querem dizer a mesma coisa: somente quando as primeiras conexões neurais são estabelecidas no córtex cerebral do feto ele se torna um ser humano. Depois, a formação dessas vias neurais resultará na aquisição da "humanidade". E essa opinião também é partilhada por alguns teólogos cristãos, como Joseph Fletcher, um dos pioneiros no campo da bioética nos EUA. "Fletcher acreditava que, para se falar em ser humano, é preciso se falar em critérios de humanidade, como autoconsciência, comunicação, expressão da subjetividade e racionalidade", diz o filósofo e teólogo João Batistiolle, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Para o filósofo Peter Singer, da Universidade de Princeton, nos EUA, levado às últimas conseqüências o critério da autoconsciência pode ser usado para considerar o infanticídio moralmente aceitável em algumas situações. Segundo ele, é lícito exterminar a vida de um embrião, feto, feto sem cérebro ou até de um recém-nascido extremamente debilitado se levarmos em conta que o bebê não têm consciência de si, sentido de futuro ou capacidade de se relacionar com os demais. "Se o feto não tem o mesmo direito à vida que a pessoa, é possível que o bebê recém-nascido também não tenha", afirma o filósofo australiano, que atraiu a ira de grupos pró-vida que o acusam de ser nazista, embora 3 de seus avós tenham morrido no holocausto. "Pior seria prolongar a vida de um recém-nascido com deficiências graves e condenado a uma vida repleta de sofrimento."

É o caso de bebês com anencefalia, que não têm o cérebro completamente formado. Dos fetos anencéfalos que nascem vivos, 98% morrem na 1ª semana. Os outros, nas semanas ou meses seguintes. Nesse caso, é melhor prolongar a existência do bebê ou abortar para evitar o sofrimento da criança? "Provavelmente, a vida de um chimpanzé normal vale mais a pena que a de uma pessoa nessa condição. Assim, poderia dizer que há circunstâncias em que seria mais grave tirar a vida de um não-humano que de um humano", alega Singer. A tese é recebida com desprezo no campo adversário. "Há testemunhos entre pais de pacientes desenganados pela medicina de que é possível viver uma positividade mesmo dentro da situação de sofrimento", afirma Dalton Luiz de Paula Ramos, professor da USP e coordenador do Projeto Ciências da Vida, da PUC-SP. Em julho de 2004, o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu liminar liberando o aborto de fetos anencéfalos no país. A decisão final da Justiça, que pode legalizar definitivamente o aborto de anencéfalos no Brasil, deve sair a qualquer momento.

A cura dentro de nós

Perto da deficiência física, porém, o nascimento de fetos anencéfalos é um problema pequeno. Segundo o IBGE, existem 937 mil brasileiros paraplégicos, tetraplégicos ou com um lado do corpo paralisado. Sem conseguir se mexer, muitos acabam morrendo por causa das escaras, feridas na pele criadas pela falta de circulação do sangue. Foram elas que mataram, em outubro de ano passado, o ator americano Christopher Reeve, célebre no papel do Super-Homem e ativista em prol dos estudos com células-tronco. Desde a década de 1980, esse tipo de células vem dando esperança a quem antes pensava que nunca voltaria a andar. Mas o futuro dessas pesquisas também está ligado à polêmica sobre onde começa a vida humana.

Do mesmo modo que as primeiras células que formam o embrião humano, as células-tronco são como curingas: ainda não foram diferenciadas para formar os tecidos que compõem o organismo. Podem se transformar em células ósseas, renais, neurônios, dependendo da necessidade e do poder de regeneração de cada órgão. Mesmo depois do nascimento, o corpo conserva essas células, sobretudo no cordão umbilical e na medula óssea. Injetando ou incentivando a migração de células-tronco adultas da medula para o coração, por exemplo, os cientistas estão conseguindo fazer o principal órgão humano se regenerar. Em pouco mais de um mês, pacientes com insuficiência cardíaca provocada por infartos ganham vida nova. A idéia é que a técnica das células-tronco, eleita pela revista Science como a mais importante pesquisa biológica do milênio, possa curar problemas renais, hepáticos, lesões da medula espinhal, mal de Alzheimer e até possibilitem a criação de órgãos em laboratório.

"Um embrião carrega toda a informação genética que determina os traços físicos. Mas um punhado de células pode ser considerado gente?"

Até aí, nenhum conflito ético. Em 1998, porém, descobriu-se que as células-tronco mais potentes, capazes de se transformar em qualquer um dos 216 tecidos humanos e se replicar com grande velocidade, são as originais, o resultado da fecundação do óvulo com o espermatozóide. Os cientistas utilizam embriões com 3 a 4 dias de desenvolvimento (e entre 16 e 32 células), que sobram do processo de fertilização in vitro em clínicas especializadas. No laboratório, as células-tronco são retiradas num processo que provoca a destruição do embrião. Mas, se a vida começa na fecundação, os cientistas estariam lidando, em seus tubos de ensaio, com seres humanos vivos. O mesmo problema ético acontece com a inseminação artificial, que cria diversos embriões em laboratório e depois os descarta ou os congela. Não só os religiosos consideram essas técnicas um absurdo.

"Assim como não dá para dizer que matar um jovem é melhor que matar um adulto, não há diferença de dignidade entre um embrião e um feto de 6 meses", afirma o professor Dalton, da USP. Um embrião, apesar de ser um amontoado de meia dúzia de células, muito menos complexo que uma mosca, carrega toda a informação genética necessária para a formação de um indivíduo. Nos seus 23 cromossomos paternos e 23 maternos, estão os 30 mil genes que determinarão os traços, a cor dos olhos, da pele, do cabelo, além de doenças como a síndrome de Down. Pensando nisso, países como a França chegaram a proibir pesquisas com células-tronco embrionárias. Hoje, os franceses permitem esses estudos, assim como a maioria dos outros países europeus e do Brasil. Desde março deste ano, a Lei de Biossegurança permite o uso de embriões descartados por clínicas de fertilização e congelados há pelo menos 3 anos - o prazo foi definido para evitar a produção de embriões exclusivamente para estudos. Há no país 20 mil embriões em condições de pesquisa dentro da lei. Mas uma ação de inconstitucionalidade movida pelo ex-procurador-geral da República Claudio Fonteles coloca o assunto em xeque.

Quer dizer então que o governo brasileiro proíbe o aborto mas permite a manipulação de embriões humanos vivos? Depende do que você considera humanos vivos. "A vida começou há milhões de anos e cada um de nós é fruto contínuo daquele processo", afirma Fermin Roland Schramm, presidente da Sociedade de Bioética do Estado do Rio de Janeiro (Sbrio). "A pergunta pertinente não é quando começa a vida, mas quando começa uma vida relevante do ponto de vista ético. Um embrião num tubo de ensaio é apenas uma possibilidade de vida, assim como eu sou um morto em potencial, mas ainda não estou morto." Como logo após a fertilização o zigoto tem grande probabilidade de não se tornar uma gravidez e ainda pode se dividir, alguns cientistas preferem chamar o embrião que ainda não se fixou no útero de "pré-embrião". "A ética considera relações entre seres, entre um 'eu' e um 'tu'. É difícil considerar um embrião um 'tu'", diz Fermin. "Já quando ele começa a estabelecer uma relação com a mãe, a interrupção do processo passa a ser mais problemática do ponto de vista moral."

"No Brasil, há 20 mil embriões congelados há mais de 3 anos. A ciência tem o direito de transformá-los em material de pesquisa?"

Outro ponto a favor dos que estão mexendo com os embriões é que novidades da ciência sempre assustaram. Foi assim com a fertilização artificial, com o transplante de coração e até com a transfusão de sangue. Hoje, esses avanços são essenciais para a saúde pública. "A única certeza que temos em relação às células-tronco adultas, encontradas no cordão umbilical, é que elas podem se diferenciar em células sanguíneas", afirma a geneticista Mayana Zatz, do Instituto de Biociências da USP, considerada a principal voz da classe científica na aprovação do dispositivo da Lei de Biossegurança que trata da pesquisa com células-tronco embrionárias. "Nunca vamos descobrir o potencial das células-tronco embrionárias se não pudermos estudá-las."

Polêmicas à parte, às células-tronco embrionárias mostram que a solução para os males que perturbam o ser humano pode estar em nós mesmos. Ao contrário da discussão sobre o aborto, a polêmica das células-tronco surgiu com o esforço de fazer aleijados levantar e andar, doentes renais ganhar órgãos novos, cardíacos ter o coração reforçado. É um jeito de usar a essência da vida para encarar o maior inimigo da ciência: a morte, que também está no grupo das palavras que provocam unaniminade. É impossível gostar dela. O problema é que também não sabemos exatamente o que é morte. É quando o coração pára? Quando o cérebro deixa de funcionar? Cenas para a próxima edição da Super.

 

Fecundação
Espermatozóides tentam fecundar no óvulo. Quando um deles vence a disputa, ainda são necessárias 24 horas até que as duas estruturas se fundam num único zigoto.

40 HORAS

Depois da fecundação, o número de células do zigoto dobra a cada 20 horas.

 

14 DIAS

O embrião chega à parede do útero. A menstruação pára e a mãe começa a suspeitar que está grávida.

 

4ª SEMANA

Uma versão rudimentar do que um dia será o coração começa a bater. O embrião mede cerca de 4 milímetros,o tamanho de um feijão.

 

6ª SEMANA

A aparência humana se define com o aparecimento dos primeiros órgãos. Já é possível reconhecer onde estão coração, cérebro, braços e pernas. O tamanho chega a 1 centímetro.

 

10ª SEMANA

O feto apresenta ondas cerebrais, podendo responder a estímulos, e ganha unhas. O fígado começa a liberar a bílis. Para muitos cientistas, neste estágio ele já é capaz de sentir dor.

 

17ª SEMANA

A mãe começa a sentir movimentos do feto, que já tem músculos e ossos. Nas próximas 3 semanas ele passará de 8,5 para 15 centímetros de tamanho.

 

5 MESES

O pulmão está pronto - é a última estrutura vital a se desenvolver. A partir daqui, o feto tem chances de sobreviver fora do útero.

5 respostas da ciência

Visão genética

A vida humana começa na fertilização, quando espematozóide e óvulo se encontram e combinam seus genes para formar um indivíduo com um conjunto genético único. Assim é criado um novo indivíduo, um ser humano com direitos iguais aos de qualquer outro. É também a opinião oficial da Igreja Católica.

 

Visão embriológica

A vida começa na 3ª semana de gravidez, quando é estabelecida a individualidade humana. Isso porque até 12 dias após a fecundação o embrião ainda é capaz de se dividir e dar origem a duas ou mais pessoas. É essa idéia que justifica o uso da pílula do dia seguinte e contraceptivos administrados nas duas primeiras semanas de gravidez.

 

Visão neurológica

O mesmo princípio da morte vale para a vida. Ou seja, se a vida termina quando cessa a atividade elétrica no cérebro, ela começa quando o feto apresenta atividade cerebral igual à de uma pessoa. O problema é que essa data não é consensual . Alguns cientistas dizem haver esses sinais cerebrais já na 8ª semana. Outros, na 20ª .

 

Visão ecológica

A capacidade de sobreviver fora do útero é que faz do feto um ser independente e determina o início da vida. Médicos consideram que um bebê prematuro só se mantém vivo se tiver pulmões prontos, o que acontece entre a 20ª e a 24ª semana de gravidez. Foi o critério adotado pela Suprema Corte dos EUA na decisão que autorizou o direito do aborto.

 

Visão metabólica

Afirma que a discussão sobre o começo da vida humana é irrelevante, uma vez que não existe um momento único no qual a vida tem início. Para essa corrente, espermatozóides e óvulos são tão vivos quanto qualquer pessoa. Além disso, o desenvolvimento de uma criança é um processo contínuo e não deve ter um marco inaugural.

5 respostas da religião

Catolicismo
A vida começa na concepção, quando o óvulo é fertilizado formando um ser humano pleno e não é um ser humano em potencial. Por mais de uma vez, o papa Bento 16 reafirmou a posição da Igreja contra o aborto e a manipulação de embriões. Segundo o papa, o ato de "negar o dom da vida, de suprimir ou manipular a vida que nasce é contrário ao amor humano."

Judaísmo
"A vida começa apenas no 40º dia, quando acreditamos que o feto começa a adquirir forma humana", diz o rabino Shamai, de São Paulo. "Antes disso, a interrupção da gravidez não é considerada homicídio." Dessa forma, o judaísmo permite a pesquisa com células-tronco e o aborto quando a gravidez envolve risco de vida para a mãe ou resulta de estupro.

Islamismo
O início da vida acontece quando a alma é soprada por Alá no feto, cerca de 120 dias após a fecundação. Mas há estudiosos que acreditam que a vida tem início na concepção. Os muçulmanos condenam o aborto, mas muitos aceitam a prática principalmente quando há risco para a vida da mãe. E tendem a apoiar o estudo com células-tronco embrionárias.

Budismo

A vida é um processo contínuo e ininterrupto. Não começa na união de óvulo e espermatozóide, mas está presente em tudo o que existe - nossos pais e avós, as plantas, os animais e até a água. No budismo, os seres humanos são apenas uma forma de vida que depende de várias outras. Entre as correntes buditas, não há consenso sobre aborto e pesquisas com embriões.

Hinduísmo
Alma e matéria se encontram na fecundação e é aí que começa a vida. E como o embrião possui uma alma, deve ser tratado como humano. Na questão do aborto, hindus escolhem a ação menos prejudicial a todos os envolvidos: a mãe, o pai, o feto e a sociedade. Assim, em geral se opõem à interrupção da gravidez, menos em casos que colocam em risco a vida da mãe.

5 respostas da lei

Brasil
Aqui, só há duas situações em que o aborto é permitido: em casos de estupro ou quando a gravidez implica risco para a gestante. Em quaisquer outros casos a interrupção da gravidez é considerada crime. Espera-se ainda para este ano uma decisão final do Supremo Tribunal Federal que pode liberar ou proibir em definitivo o aborto de fetos anencéfalos no país.

EUA
O aborto é permitido nos EUA desde 1973, quando a Suprema Corte reconheceu que o aborto é um direito garantido pela Constituição americana. Pode-se interromper a gravidez até a 24ª semana de gestação - na época em que a lei foi promulgada, era esse o estágio mínimo de desenvolvimento que um feto precisava para sobreviver fora do útero.

Japão
Foi um dos primeiros países a legalizar o aborto, em 1948. A prática se tornou o método anticoncepcional favorito das japonesas - em 1955 foram realizados 1 170 000 abortos contra 1 731 000 nascimentos. Hoje, o aborto é legal em caso de estupro, risco físico ou econômico à mulher, mas apenas até a 21ª semana - atual limite mínimo para o feto sobreviver fora do útero.

França
Desde 1975 as francesas podem fazer abortos até a 12ª semana de gravidez. Após esse período, a gestação só pode ser interrompida se dois médicos certificarem que a saúde da mulher está em perigo ou que o feto tem problema grave de saúde . Em 1988, a França foi o primeiro país a legalizar o uso da pílula do aborto RU-486, que pode ser utilizada até a 7ª semana de gestação.

Chile
Proíbe o aborto em qualquer circunstância. A prática é considerada ilegal mesmo nos casos que colocam em risco a vida da mulher. Em casos de gravidez ectópica - quando o embrião se aloja fora do útero, geralmente nas trompas - a lei exige que a gravidez se desenvolva até a ruptura da trompa, colocando em risco a saúde da mulher.

Para saber mais

O Futuro da Natureza Humana

Jürgen Habermas, Martins Fontes, 2004

Bioética
Marco Segre e Cláudio Cohen (org.), Edusp, 2002

Vida Ética

Peter Singer, Ediouro, 2002

Biologia do Desenvolvimento

Scott F. Gilbert, Sociedade Brasileira de Genética, 1994

TEM JEITO PARA TUDO, É SÓ QUERER


Um fazendeiro levou seu caminhão à oficina. Como não podia esperar, ele resolveu ir a pé de volta para sua fazenda. No caminho, parou na loja de ferragens e comprou um balde e um galão de tinta. Entrou no armazém e comprou dois frangos e um ganso vivos. Quando saiu do armazém, parou e ficou matutanto sobre como levar as compras para casa. Enquanto coçava a cabeça, apareceu uma velhinha que lhe disse estar perdida e lhe perguntou:
- Pode me explicar como chegar até a Estrada das Andorinhas, 1603?
Respondeu o fazendeiro:
- Bem, minha fazenda fica próxima a esse local. Eu a levaria até lá, mas ainda não resolvi como carregar tudo isto.
A velhinha sugeriu:
- Coloque o galão de tinta dentro do balde, carregue o balde em uma das mãos, um frango sob cada braço e o ganso na outra mão.
- Muito obrigado, - disse o homem - é uma boa idéia.
A seguir, partiram os dois para o destino.
No caminho, ele disse:
- Vamos cortar caminho e pegar este atalho, pois economizaremos muito tempo.
A velhinha o olhou cautelosamente e disse:
- Eu sou uma viúva solitária e não tenho marido para me defender. Como saberei se quando estivermos no atalho você não avançará em cima de mim e levantará minha saia pra transar comigo?
O fazendeiro disse:
- Impossível, estou carregando um balde, um galão de tinta, dois frangos e um ganso vivos. Como eu poderia fazer isso com tanta coisa nas mãos, sendo que se soltar as aves elas fugirão?
A velhinha respondeu:
- Coloque o ganso no chão, ponha o balde invertido sobre ele, coloque o
galão sobre o balde e eu seguro os frangos.

Mente visceral!


de Ique

PS.: Via sítio JB Online.

HUGO CHÁVEZ NUNCA SERÁ SIMÓN BOLÍVAR

por Maria Lucia Victor Barbosa, socióloga
 
Novamente o astuto Hugo Chávez conquistou manchetes de primeira página nos principais jornais do país. O Estado de S.Paulo (03/03/2008) destacou: "Chávez mobiliza tropas na fronteira com a Colômbia". E a Folha de S. Paulo, na mesma data, repetiu a notícia em letras garrafais: "Chávez mobiliza tropas contra a Colômbia".

O motivo do ímpeto bélico do ditador de fato da Venezuela, que está armado até os dentes, foi a morte de Raúl Reys, numero dois na escala do comando dos bestiais narcoguerrilheiros das Farc que mantêm, com requintes de campo de concentração, prisioneiros políticos e pessoas indefesas. As torturas e humilhações são feitas em nome do povo e justificadas pela causa.

Reys foi morto com outros companheiros em um acampamento no Equador, e é de se perguntar o que estariam fazendo esses bandidos travestidos de salvadores da pátria em outro país. De todo modo, o presidente equatoriano, Rafael Correa, um dos seguidores de Chávez, se apressou como este a fechar sua embaixada em Bogotá.

Chávez é um falastrão e com sua retórica teatral e esperta conquista mentes e corações. Seu comportamento é populista. Sua alma é a de um caudilho. Suas ações são ditatoriais. Sem dúvida, elementos que fazem sucesso na América Latina. Acostumado a jogos de cena usou a libertação de reféns das Farc como golpe internacional de marketing para que aparecesse como líder benevolente. Mas, ao mesmo tempo, pediu que aos seus queridos companheiros facínoras fosse retirada a denominação de terroristas.

Diga-se de passagem, que o presidente Lula da Silva certa vez recusou ao presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, tal denominação para os angelicais malfeitores, atitude, sem dúvida, ligada à solidariedade existente entre companheiros do Foro de S.Paulo, entidade de esquerda da qual Lula foi um dos fundadores.

Hugo Chávez, que vem se perpetuando no poder através de sucessivas eleições, que de legalidade só têm a aparência, pois derivam das manobras do caudilho, se apresenta como a reencarnação de Simon Bolívar sem a envergadura do marcante líder latino-americano, nascido em Caracas em 24 de julho de 1783.

Bolívar era de uma família rica, dona de muitas terras. Aos 14 anos teve iniciação militar chegando a subtenente e mais tarde a coronel. Sua educação foi feita em Caracas, mas ele ampliou sua visão de mundo em viagens a vários países da Europa, tendo estado em particular na Espanha. Bolívar apreciava as atividades de ordem intelectual e a leitura, mas se destacou como líder político e militar tendo participado ativamente da difícil luta da independência da Venezuela do domínio espanhol, o que lhe valeu o título de Libertador. Em 5 de julho de 1811 a independência da Venezuela foi formalizada sem unanimidade na adesão das províncias.

Representante da "elite crioula", Simon Bolívar idealizou, primeiramente em moldes liberais, uma grande nação latino-americana. Seu sonho era o de formar pelo menos uma confederação de grandes Estados que servissem de contrapeso ao poder dos Estados Unidos. De início essa confederação seria formada pela Nova Granada, Venezuela, Equador (unidades que constituíam a Colômbia), Peru e Bolívia, e esses Estados teriam um governo comum. Mas as dificuldades para manter a unidade da confederação foram intransponíveis e no final de 1829 eclodiu na Venezuela o movimento separatista que posteriormente se estendeu aos outros Estados.

Bolívar acabou derrotado pela doença e pela tristeza de ter seus sonhos desfeitos. Longas e difíceis lutas o tornaram prematuramente envelhecido aos 47 anos de idade e veio a falecer em 17 de dezembro de 1830.

Bolívar, de início liberal, acabou se tornando um ditador, mas nunca foi socialista e Hugo Chávez jamais alcançará sua trajetória. Em 1830, ano de sua morte, afirmou o Libertador externando toda sua desilusão: "A América Latina é, para nós, ingovernável". "Se acontecesse que uma parte do mundo voltasse ao caos primitivo. Isso seria a última metamorfose da América Latina".

Se numa hipótese Hugo Chávez invadisse a Colômbia, o Brasil o acompanharia? Acredito que pela vontade e gosto de Marco Aurélio Garcia, o chanceler de fato, isso se daria. Mas a profunda amizade de Lula da Silva pelo companheiro da boina vermelha já não parece a mesma, apesar do líder petista ter seguido de certa forma os passos de Chávez na senda do autoritarismo. E quando o presidente da República hostiliza de forma vulgar e brutal os outros Poderes, como fez agora com o Judiciário, parece se exercitar no estilo chavista, o que levanta a suspeita de que partirá para o terceiro mandato.

De todo modo, percebe-se a competição dos egos descomunais de Lula e Chávez e o apoio brasileiro ao vezo hitlerista do venezuelano não está definido. A menos que Chávez esteja apostando na vitória de Barack Obama, mulçumano com fortes ligações com a esquerda radical, como denunciam a bandeira de Cuba e a foto de Che Guevara em seu escritório oficial de campanha, em Houston. Se Obama vencer, possivelmente a política mundial dará uma volta e tanto. Então, Chávez seguirá tranqüilamente em seus intentos e Lula irá atrás.
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Maria Lucia Victor Barbosa

Maria Lucia Victor Barbosa é formada em sociologia e administração pública e tem especialização em ciência política pela Universidade de Brasília. Nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais. Começou a escrever em jornais aos 18 anos. Tem artigos publicados no Jornal da Tarde, O Globo, Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Gazeta do Povo, O Estado do Paraná e Valor Econômico, entre outros.

É autora de cinco livros, incluindo "O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto – A Ética da Malandragem" e "América Latina – Em busca do Paraíso Perdido".
Veja os artigos deste articulista "SÓ SE SALVARÃO OS QUE SABEM NADAR"

Os 12 mandamentos da mulher:

1 - Mulher não mente... e sim omite os fatos.
 
2 - Mulher não fofoca... mas sim troca informações.
 
3 - Mulher não trai... se vinga.
 
4 - Mulher não fica bêbada... entra em estado de alegria.
 
5 - Mulher nunca xinga... apenas é sincera.
 
6 - Mulher não grita... testa as cordas vocais.
 
7 - Mulher nunca chora... lava as pupilas dos olhos com freqüência.
 
8 - Mulher nunca olha para um homem sarado... apenas verifica suas formas anatômicas.
 
9 - Mulher sempre entende o que homem diz... só pede que explique novamente para testar sua capacidade de raciocínio.
 
10 - Mulher não sente preguiça... descansa a beleza.
 
11 - Mulher nunca sofre por amor... e sim entra em contradições com os sentimentos.
 
12 - MULHER NUNCA ENGANA OS HOMENS, PRATICA O QUE APRENDEU COM ELES.
 
PS: Então, tá.

O chefão e o mudinho


Um chefão da Máfia descobriu que seu contador havia desviado dez milhões de dólares do caixa. O contador era surdo. Por isto fora admitido, pois nada poderia ouvir e, em caso de um eventual processo, não poderia depor como testemunha.
Quando o chefão foi dar um arrocho nele sobre os US$ 10 milhões, levou
junto sua advogada, que sabia a linguagem de sinais dos surdos-mudos.
O chefão perguntou ao contador:
- Onde estão os U$10 milhões que Você levou?
A advogada, usando a linguagem dos sinais, transmitiu a pergunta ao contador, que logo respondeu (em sinais): - Eu não sei do que vocês estão falando.
A advogada traduziu para o chefão:
- Ele disse não saber do que se trata.
O mafioso sacou uma pistola 45 e encostou-a na testa do contador, gritando:
- Pergunte a ele de novo.
A advogada,sinalizando, disse ao infeliz:
- Ele vai te matar se você não contar onde está o dinheiro. O contador sinalizou em resposta:
- OK, vocês venceram, o dinheiro está numa valise marrom de couro, que está enterrada no quintal da casa de meu primo Enzo, no nº 400, da Rua 26, quadra 8, no bairro Santa Marta!
O mafioso perguntou para advogada:
- O que ele disse?
A advogada respondeu:
- Ele disse que não tem medo de viado e que você não é macho o bastante para puxar o gatilho. . .

quarta-feira, 5 de março de 2008

O Manuel em Tókio


O Manuel estava em Tókio onde comprou um par de óculos, cheio de tecnologia, que mostrava todas as mulheres peladas.
Manuel coloca os óculos e começa a ver todas as mulheres peladas, ele se encanta.
Põe os óculos... Peladas!
Tira os óculos... Vestidas!
- "Que maravilha! Ai Jesus!!!"
E assim foi Manoel para Portugal, louco para mostrar a novidade para a mulher (Maria).
No avião, se sente o máximo vendo as aeromoças todas peladas.
Quando chega em casa, já coloca os óculos para pegar Maria pelada.
Abre a porta e vê Maria e o Compadre no sofá pelados.
Tira os óculos... Pelados!
Põe os óculos... Pelados!
Tira... Pelados!
Põe..... Pelados!
E Manuel diz: -
"Pqp! já quebrou!"

Ensinamentos de mãe.

O QUE SEMPRE PRECISEI SABER, APRENDI COM A MINHA MÃE, E COM TUDO ISSO ESTOU VIVO ATÉ HOJE.


Minha mãe ensinou a valorizar o sorriso.

ME RESPONDE DE NOVO E EU TE ARREBENTO OS DENTES!

 
Minha mãe me ensinou a RETIDÃO.

EU TE AJEITO NEM QUE SEJA NA PANCADA!


Minha mãe me ensinou a DAR VALOR AO TRABALHO DOS OUTROS...

SE VOCÊ E SEU IRMÃO QUEREM SE MATAR, VÃO PRA FORA. ACABEI DE LIMPAR A CASA!

 
Minha mãe me ensinou LÓGICA E HIERARQUIA...

PORQUE EU DIGO QUE É ASSIM! PONTO FINAL! QUEM É QUE MANDA AQUI?

 
Minha mãe me ensinou o que é MOTIVAÇÃO...

CONTINUA CHORANDO QUE EU VOU TE DAR UMA RAZÃO VERDADEIRA PARA VC CHORAR!

 
Minha mãe me ensinou a CONTRADIÇÃO...

FECHA A BOCA E COME!


Minha Mãe me ensinou sobre ANTECIPAÇÃO...

ESPERA SÓ ATÉ SEU PAI CHEGAR EM CASA!


Minha Mãe me ensinou sobre PACIÊNCIA...

CALMA!... QUANDO CHEGARMOS EM CASA TU VAI VER SÓ...


Minha Mãe me ensinou a ENFRENTAR OS DESAFIOS...

OLHE PARA MIM! ME RESPONDA QUANDO EU TE FIZER UMA PERGUNTA!

 
Minha Mãe me ensinou sobre RACIOCÍNIO LÓGICO...

SE VOCÊ CAIR DESSA ÁRVORE VAI QUEBRAR O PESCOÇO E EU VOU TE DAR UMA SURRA!

 
Minha Mãe me ensinou MEDICINA...

PÁRA DE FICAR VESGO MENINO! PODE BATER UM VENTO E VOCÊ VAI FICAR ASSIM PARA SEMPRE.

 
Minha Mãe me ensinou sobre o REINO ANIMAL...

SE VOCÊ NÃO COMER ESSAS VERDURAS, OS BICHOS DA SUA BARRIGA VÃO COMER VOCÊ!

 
Minha Mãe me ensinou sobre SEXO...

...E COMO VOCÊ ACHA QUE VOCÊ NASCEU?


Minha Mãe me ensinou sobre GENÉTICA...

VOCÊ É IGUALZINHO AO TRASTE DO SEU PAI!


Minha Mãe me ensinou sobre minhas RAÍZES...

TÁ PENSANDO QUE NASCEU DE FAMÍLIA RICA É?


Minha Mãe me ensinou sobre a SABEDORIA DE IDADE...

QUANDO VOCÊ TIVER A MINHA IDADE, VOCÊ VAI ENTENDER.


Minha Mãe me ensinou sobre JUSTIÇA...

UM DIA VOCÊ TERÁ SEUS FILHOS, E EU ESPERO ELES FAÇAM PRA VOCÊ O MESMO QUE VOCÊ FAZ PRA MIM! AÍ VOCÊ VAI VER O QUE É BOM!

 
Minha mãe me ensinou RELIGIÃO...

MELHOR REZAR PARA ESSA MANCHA SAIR DO TAPETE!

 
Minha mãe me ensinou o BEIJO DE ESQUIMÓ...

SE RABISCAR DE NOVO, EU ESFREGO SEU NARIZ NA PAREDE!

 
Minha mãe me ensinou CONTORCIONISMO...

OLHA SÓ ESSA ORELHA! QUE NOJO!

 
Minha mãe me ensinou DETERMINAÇÃO...

VAI FICAR AÍ SENTADO ATÉ COMER TODA COMIDA!

 
Minha mãe me ensinou habilidades como VENTRILOQUIA...

NÃO RESMUNGUE! CALA ESSA BOCA E ME DIGA POR QUE É QUE VOCÊ FEZ ISSO?

 
Minha mãe me ensinou a SER OBJETIVO...

EU TE AJEITO NUMA PANCADA SÓ!

 
Minha mãe me ensinou a ESCUTAR...

SE VOCÊ NÃO ABAIXAR O VOLUME, EU VOU AÍ E QUEBRO ESSE RÁDIO!

 
Minha mãe me ensinou a TER GOSTO PELOS ESTUDOS..

SE EU FOR AÍ E VOCÊ NÃO TIVER TERMINADO ESSA LIÇÃO, VOCÊ JÁ SABE!...

 
Minha mãe me ajudou na COORDENAÇÃO MOTORA...

AJUNTA AGORA ESSES BRINQUEDOS!! PEGA UM POR UM!!



Minha mãe me ensinou os NÚMEROS...
VOU CONTAR ATÉ DEZ. SE ESSE VASO NÃO APARECER VOCÊ LEVA UMA SURRA!

 


Brigadão, Mãe!

**************

Contribuição, vinda de Coimbra, Portugal, de João Paulo Mesquita Simões

terça-feira, 4 de março de 2008

Embalagens com 3, 6 e 12


Um homem caminha por uma drogaria com seu filho de dez anos.
Aconteceu de eles passarem pela seção de preservativos e o menino perguntou:
- O que é isso, pai?
O pai responde:- São os chamados preservativos, filho... Os homens usam pra fazer sexo seguro.
- Ah, tá..., respondeu o menino, pensativo. Sim, eu já ouvi falar disso nas aulas de saúde física na escola.
Ele olha para a prateleira, apanha um pacote de três preservativos e pergunta:
- Por que tem três nesse pacote?
O pai responde:- Esses são para garotos do Segundo Grau. Uma para a Sexta, uma para o sábado e uma para o Domingo.
- Legal, diz o menino.
Agora ele pega um pacote com 6 e pergunta:
- E esses? Para que servem?- Esses são para garotos da Faculdade, o pai responde. Duas para a sexta, duas para o sábado e duas para o domingo.
- Uau! - exclamou o menino.
Então quem usa estes? perguntou o menino, apanhando um pacote com 12.
Com um suspiro de desalento, o pai responde:
- Estes são para os homens casados.
-Uma para janeiro, outra para fevereiro, outra para março......e assim por diante , até dezembro.

Canção da Plenitude


de Lya Luft

Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida, há muito se manchou.
Há rugas, onde havia sedas,
Sou uma estrutura agrandada pelos anos
e o peso dos fardos bons e ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia)
O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir,
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar quando antigamente
quereria apenas ser amada.
a entender-te se precisas,
a aguardar-te quando vais,
a dar regaço de amante
e colo de amiga,
e sobretudo a força que vem do aprendizado
Posso dar-te muito mais do que a beleza
e juventude agora: esses dourados anos me ensinaram a amar melhor,
com mais paciência e não menos ardor,
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés- mesmo se fogem – retornam,
cuja correntes ocultas não levam destroços,
mas o sonho interminável das sereias.

Nosso cérebro doido!

 

 

O nosso cérebro é doido !!!

 

De aorcdo com uma peqsiusa
 

de uma uinrvesriddae ignlsea,  
 

não ipomtra em qaul odrem as  
 

Lteras de uma plravaa etãso, 
 

a úncia csioa iprotmatne é que  

a piremria e útmlia Lteras etejasm 
 

no lgaur crteo. O rseto pdoe ser  
 

uma bçguana ttaol, que vcoê 
 

anida pdoe ler sem pobrlmea.  
 

Itso é poqrue nós não lmeos 
 

cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa 
 

cmoo um tdoo. 
 

 

Sohw de bloa.

 

 



Fixe seus olhos no texto abaixo e deixe que a sua  mente leia corretamente o que está escrito.


 35T3 P3QU3N0 T3XTO 53RV3 4P3N45 P4R4

M05TR4R COMO NO554 C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R

CO1545 1MPR3551ON4ANT35! R3P4R3 N155O!

NO COM3ÇO 35T4V4 M310 COMPL1C4DO, M45

N3ST4 L1NH4 SU4 M3NT3 V41 D3C1FR4NDO O

CÓD1GO QU453 4UTOM4T1C4M3NT3, S3M

PR3C1S4R P3N54R MU1TO, C3RTO? POD3 F1C4R

B3M ORGULHO5O D155O! SU4 C4P4C1D4D3 M3R3C3!

P4R4BÉN5! 
 

segunda-feira, 3 de março de 2008

A menopausa masculina

de Ivan Lessa
 
Agora que já se sabe o nome do novo presidente da Rússia e o nome da moça que ganhou o Oscar de coadjuvante feminina, o mundo já pode ir dormir um pouco mais descansado.
 
Uma notícia nos jornais de ontem — uma das poucas notícias que não era ou sobre Oscar ou sobre eleições na Rússia —, uma notícia, dizia eu, informava a quem quisesse saber que dois médicos do Instituto WellMan, em Londres, depois de exaustivas pesquisas chegaram a conclusão de que — atenção! — a menopausa masculina, existe, sim, senhor, e é bom não botarem banca com ela.
 
Aí está a ilação "registro científico, desempenho artístico": a menopausa masculina explica, e eloqüentemente, as ações algo perturbadas do personagem vivido por Spacey em "Beleza Americana".
 
Segundo o estudo, a menopausa masculina não é tão súbita quanto a menopausa feminina.
 
Parece que é mais sinistra. Chega assim como quem não quer nada, de mansinho, e, de repente, cataplum!, acerta o camarada — um quarentão, claro — bem no meio da testa.
 
Num dia ele está lá dando boa noite para os filhos, lavando o carro aos sábados, no outro, de repente, não mais que de repente, começa a sofrer de calores súbitos no rosto, ter depressão, ficar inquieto, começa a — perdoem-me — não funcionar lá muito direito no departamento sexual.
 
A notícia é péssima para os homens, claro. E não pode ser mais irritante para as mulheres.
 
Não só têm elas lá os seus problemas de menopausa quando ainda por cima têm de lidar com o comportamento bizarro dos maridos, que — some-se à lista — começam a querer freqüentar cassino ou boate, comprar carro esporte e, pela primeira vez, examinam seriamente a possibilidade de deixar, de uma vez por todas e para sempre, a mulher e filhos e começar vida nova.
 
Fazendo arte. No sentido elevado da palavra. Escrevendo um romance, poesia, pintando quadro, por aí.
 
De qualquer forma, o estudo, a uma certa altura, deixa bem claro: as mulheres que se cuidem, tudo isso pode não passar de simples pretexto do homenzinho supostamente tomado de menopausa — confiem desconfiando, recomendam.
 
E aí é outra história, outro filme, outro Oscar.
***
Ivan Lessa, auto-asilado na Inglaterra, segundo ele por ter-se desencantado com o Brasil, trabalha na BBC de Londres.

QUANTO VALE O BLASTOCISTO?

"Mesmo o homem supersticioso tem direitos inalienáveis.
Ele tem o direito de defender suas imbecilidades tanto quanto quiser.
Mas certamente não tem direito de exigir que elas sejam tratadas como sagradas."
(H. L. Mencken)
 
por Rodrigo Constantino

O debate sobre as pesquisas com células-tronco ganhou força, pois o Supremo Tribunal está para julgar a sua proibição ou não no Brasil. Os avanços científicos obtidos com estas pesquisas podem significar a cura de inúmeras doenças, salvando ou melhorando a vida de milhões de seres humanos. Praticamente todos aqueles que se opõem a estas pesquisas o fazem por motivos religiosos. Ainda que vários crentes tentem conciliar religião e ciência, o fato é que a primeira sempre esteve criando obstáculos para a segunda. Quando um avanço científico esbarra num dogma religioso, é este que deve prevalecer, segundo os crentes. A cruzada contra os avanços científicos com estas pesquisas em embriões garante uma sensação de nobreza a seus adeptos, que buscam o monopólio moral da preocupação com a vida. A questão que surge é: qual vida?
 
Sam Harris escreve: "Os embriões humanos que são destruídos nas pesquisas com células-tronco não têm cérebro, nem sequer neurônios. Assim, não há razão para acreditar que eles possam sentir qualquer tipo de sofrimento com a sua destruição, de maneira alguma. Nesse contexto, vale lembrar que, quando ocorre a morte cerebral, atualmente julgamos aceitável extrair os órgãos da pessoa (desde que ela os tenha doado para esse fim) e enterrá-la. [...] A verdade moral aqui é óbvia: qualquer pessoa que creia que os interesses de um blastocisto podem prevalecer sobre os interesses de uma criança com uma lesão na espinha dorsal está com seu senso moral cegado pela metafísica religiosa. O vínculo entre a religião e a 'moral' – tão proclamado e tão poucas vezes demonstrado – fica aqui totalmente desmascarado, tal como acontece sempre que o dogma religioso prevalece sobre o raciocínio moral e a compaixão genuína".
 
Parece evidente que esses religiosos não estão tão preocupados assim com a vida humana. O sofrimento desnecessário de milhões de seres humanos não os sensibiliza tanto quanto a vida de um ovo sem qualquer característica atual que o faça ser considerado realmente um ser humano. O argumento que fala do potencial das células não leva a nada, pois uma potência não é uma atualidade, assim como sementes não são ainda uma floresta. Por trás da cruzada religiosa contra as pesquisas está o conceito humano de alma. Mas os religiosos precisam antes explicar algumas coisas importantes. Por exemplo: nesta fase embrionária inicial, o ovo pode se dividir naturalmente. O que ocorre então? A alma também se divide? O The Guf produz mais uma alma em caráter de urgência? Se ocorrer o oposto, a fusão de dois ovos, as almas praticam uma fusão também? Se as pessoas desejam barrar importantes pesquisas científicas em pleno século XXI, será preciso mais do que apelos dogmáticos que usam um conceito humano, demasiado humano, como alma.

A ansiedade de exposição na Net


Na internet, você entra no YouTube, vira a câmera para si mesmo e perde a individualidade. Passa a se apresentar como um pacote público
Lúcia Guimarães*
 
Primeiro, uma confissão: venho me servindo do ensaísta e crítico cultural Lee Siegel há anos. Não, ele não vai me processar por assédio sexual. As idéias de Lee Siegel me socorreram quando algum fenômeno da cultura popular americana me colocava na contramão do gosto coletivo e me batia uma solidão danada em festas ou papos de bar. Em parte por causa dele me mantive assinante da revista The New Republic. E desconfiei que havia algo malcheiroso no incidente que levou-o a uma suspensão temporária desta publicação por ter assumido um pseudônimo para se defender de ataques de leitores sociopatas. Volto à celeuma já, já. Mas, no espírito da transparência editorial, foi na condição de tiete que, ao ver o novo livro de Siegel exposto na livraria, decidi procurá-lo ao terminar a primeira página do prefácio.
 
No prefácio de Against the Machine, Being Human in the Age of the Electronic Mob, Siegel resume o que faz dele um personagem démodé do jornalismo contemporâneo: "As coisas não têm que ser como são".
 
No auge do baba-ovo geral com a série Sex & the City, em 2002, um ensaio solitário de Siegel, Relationshipism, na New Republic, chamou atenção para o fato de que as quatro mulheres usavam a própria independência para, entre outros comportamentos destrutivos, confundir sexo com afeto e submeter-se a humilhações sistemáticas. Siegel estava defendendo as mulheres delas mesmas.
 
O argumento central do livro é que a internet veio acelerar uma tendência cultural preexistente - o fato de que nunca na história o indivíduo foi tão elevado acima da sociedade, e satisfazer o próprio desejo tornou-se mais importante do que equilibrar os relacionamentos com o outros. "Nós vivemos dentro da nossa cabeça mais do que qualquer sociedade em qualquer outro momento e, para alguns, agora, a realidade só existe dentro da cabeça deles." Siegel não está condenando e sim apontando o fato de que a tecnologia é neutra e amoral. "A internet", diz, "não criou patologias de comportamento", mas as difundiu e acelerou, como a pedofilia, a violência pornográfica e o isolamento resultante de doença mental.
 
Ele convida o leitor a considerar o caso do automóvel, o ícone sagrado da prosperidade americana. No começo da década de 60, 50 mil americanos morriam anualmente nas estradas. Havia detalhes de engenharia específicos e conhecidos para alterar a fabricação, mas o carro como símbolo de status e individualismo era intocável. Até que foi publicado o clássico Unsafe at Any Speed (Inseguro a Qualquer Velocidade), de Ralph Nader, sobre a negligência criminosa da indústria de automóveis. O grande público ficou horrorizado, gradualmente os engenheiros passaram a ser ouvidos e milhares de mortes foram evitadas.
 
As coisas não tinham que ser como eram.
 
Siegel não sugere que a internet seja letal como o automóvel, é claro, mas compara as duas tecnologias pela sua recepção triunfal e acima da crítica. Ambas foram saudadas sob a retórica da liberdade e da democracia. Siegel lembra a famosa previsão de Lenin sobre o imperialismo como a fase final do capitalismo. Ele discorda: "A fase final do capitalismo, a fronteira sem fundos, é a exposição pública do universo privado, da psique. A privacidade virou performance. É uma transação pública. Against the Machine propõe uma moratória nas platitudes triunfalistas e um resgate da cultura adulta.
 
Primeiro vamos falar da impressão de que seu livro é "contra" a internet.
 
Claro que não é. Eu dependo da internet, assim que acabar esta entrevista vou para casa checar meu ranking nas vendas da Amazon. Eu me mantenho ligado no e-mail como se fosse um apêndice. Só acho que a tecnologia deve ser usada com cuidado. Ela deve amplificar nosso humanismo, não nos desumanizar.
 
Seu problema é com a maneira como o comércio se apropriou da internet?
 
Sim, desde o princípio. Na verdade, a internet começou como uma iniciativa militar e a comercialização foi imediata. E você pode ver as ramificações a toda hora. O Rupert Murdoch comprou o My Space. A Microsoft tenta comprar o Yahoo. O Google continua a criar todo tipo de estratégia para derrotar a Microsoft. E acho que, no nível pessoal, quando as pessoas entram na internet, com freqüência elas acabam se "empacotando". Não existe mais nada não intencional. Você entra no YouTube, vira a câmera para si mesmo e uma vez que está on camera você muda. A vida muda. Você passa a calcular, perde a espontaneidade, se torna autoconsciente e se apresenta como um pacote.
 
Uma crítica fácil de fazer a seu livro é que ele foi uma reação ao episódio do pseudônimo no blog, que lhe valeu a suspensão temporária da 'New Republic'…
 
Há uma corrente forte para suprimir qualquer crítica à internet como coisa de reacionário. Eu já fazia críticas há anos, desde 2003, na New Republic, na Slate, no Los Angeles Times - sob meu próprio nome. Umas das coisas que primeiro me incomodaram foi o anonimato. Não podia acreditar que as pessoas pudessem entrar nos sites e, sob a proteção de um pseudônimo, fazer comentários abusivos e até difamar os outros à vontade. Isso me deixava maluco. Eu tinha meu próprio blog na New Republic e passei meses pedindo aos editores para não publicar a baixaria. Até que um assinante, usando pseudônimo, me chamou de pedófilo. "Basta", pensei. "Vou fazê-los provar um pouco do próprio remédio. Vou assumir uma identidade e mostrar como isso acontece." E todo mundo se apressou a me condenar. Foi uma forma de protesto. Acho que se você tem algo a dizer, diga no próprio nome.
 
Você usa a expressão 'blogofascismo' para definir um aspecto do fenômeno dos blogs. Mas eles foram um resultado natural de uma tecnologia disponível…
 
Claro, a internet trouxe cenários inevitáveis. Seu valor dominante é a conveniência. E a vida contemporânea, por ter se complicado, depende em grande parte da conveniência. Por isso eu e você adoramos a internet. Mas a conveniência, por si só, pode ser problemática. Se você levantar e sair da sala, posso achar conveniente tirar o dinheiro de sua carteira. Pode ser conveniente trair, roubar mentir ou matar. A internet facilitou muita coisa, mas não necessariamente o que deva ser conveniente. O que se vê na internet é algo novo. Não é cultura de massa no sentido de que é produzida para a massa por um número reduzido de agentes. É cultura produzida pela massa. Este é, a meu ver, o verdadeiro aparecimento da cultura da massa, pela primeira vez. Na cultura, chegamos à ditadura do proletariado que Marx queria ver na economia e felizmente não aconteceu. As vozes mais irresponsáveis, mais barulhentas e agressivas estão erodindo a autoridade do jornalismo tradicional. Quando todos têm o mesmo direito de falar, acaba a discordância. É o igualitarismo antidemocrático. Vivemos um clima de hostilidade ao mérito e ao talento que destaca certas pessoas. Acesso não tem nada a ver com democracia, é um grito de guerra do consumidor. Mas quem fala sobre isto é acusado de elitista.
 
Há um movimento, liderado pelo professor Lawrence Lessig, de Stanford, que cunhou o termo 'copyleft'. Ele não só condena o excesso de zelo na proteção de copyright como uma forma de engessar a criatividade, mas exalta a internet como a grande ferramenta democratizante.
 
O Lessig é um cara divertido. Tenho certeza de que é um advogado competente, mas quando começa a falar de cultura, fica engraçado. Ele começa com o papo da democratização e argumenta que você pode mandar um poema de amor para alguém, pode difundir seus hobbies para o mundo. Ele confunde o que a democracia permite - escrever um poema de amor, desfrutar da livre expressão - com o que permite a existência da democracia, um mecanismo político e não cultural.
 
No livro, você critica programas como o 'Daily Show', do Jon Stewart, e 'Curb Your Enthusiasm' (com Larry David, criador do 'Seinfeld') e toda uma tendência de filtrar a realidade por meio da ironia. Você não acha uma vantagem quando jovens que não prestariam atenção ao noticiário são informados por um cômico como o Stewart, que expõe as fraquezas do jornalismo e a hipocrisia do poder?
 
Primeiro, acho que essa tendência não fortalece a ironia e sim o sarcasmo. Houve uma grande mudança no humor, acelerada também pela internet. Antes, a piada clássica começava assim: "Dois sujeitos entram num bar…", e a piada continuava até a punch line. Agora a piada é: "Dois sujeitos entram num bar… e os dois são gordos!" E todo mundo cai na gargalhada. A internet produz rapidez, agilidade, malícia, crueldade, desrespeito a qualquer forma de autoridade. É isto que esses shows promovem, um prazer em testemunhar o ridículo - seja de Bush ou de um padre flagrado com a mão onde não devia.
 
Outra crítica importante do livro é sobre a diferença entre informação e conhecimento, uma distinção que está difícil de fazer em relação à web.
 
Eu tenho um filho de 1 ano e meio. Quando ele nasceu, minha mulher e eu ficamos acessando todo tipo de site médico associado a hospitais respeitados, queríamos nos tranqüilizar sobre cada novo momento. Esse tipo de recurso traz muito alívio. Mas a internet não dá refresco neste país, envia informação sem parar, 24 horas por dia. As histórias importantes se perdem, as questões importantes são relativizadas, tudo se confunde. Eu não preciso saber que alguém levou um tiro num estacionamento no Arizona. Mas eles vão me empurrar essa história e os psicólogos que aparecem e os comentários dos sociólogos e das testemunhas do crime - a coisa parece interminável até o momento em que salta para o próximo assunto - alguém fabricou uma camiseta no Texas que virou um sucesso no mundo todo! E não acaba nunca. É a praga da popularidade. A internet substituiu a cultura popular pela cultura da popularidade. O principal critério de sucesso na internet é popularidade. A cultura popular costumava atrair as pessoas para o que elas gostavam. A internet atrai as pessoas para o que os outros gostam. Então, na home page dos jornais americanos, agora você tem as listas "mais populares, mais enviados por e-mail, mais mencionados em blogs". É patético. E o que acontece com a reportagem sobre uma mulher negra idosa em Chicago, despejada de casa no meio do inverno? É claro que não vai ser popular nem sexy. Você vai ter que ler sobre a Britney Spears ou a Paris Hilton, e esse critério é devastador.
 
Confesso que, depois de mais de 20 anos na cidade , cometi um gesto impensável para uma jornalista. Deixei de comprar o 'New York Times' uma vez ou outra, leio on line e desconfio que o jornal passou a me irritar por tentar servir a essa tendência de popularidade.
 
Você tem razão, não há mais a fonte singular de notícias. Eu fiz uma experiência. Passei uma semana sem ler jornal e evitando TV e rádio. Não consegui ficar desinformado. Era só andar de metrô, usar o computador. Despejaram informação em mim, mas não informação relevante. Num futuro não muito distante, a informação vai ser como uma neblina, um miasma, quem sabe, em vez de máscaras de gás, nós vamos ter máscaras de informação para respirar…
 
Como é o choque de gerações provocado pela cultura digital?
 
A internet está criando uma estranha geração de jovens de meia-idade, que são padronizados, cautelosos e calculistas. Enquanto isso, os mais velhos, que não cresceram com esse meio, ainda amam os livros, o individualismo dos livros. Eles têm maior tolerância pelos erros. Maior tolerância pelas paixões e as idiossincrasias que são flagradas e ridicularizadas com tanta rapidez na internet. Essa tecnologia é quantificadora, motivada por comercialismo e está roubando a juventude dos jovens. Os defensores da internet não querem admitir isto, mas 80%, talvez 90% do tráfego da internet seja pornografia. A enorme propagação da pornografia pela internet está criando uma incapacidade de ter tesão. Está ficando cada vez mais complicado ter uma ereção. E a pornografia acaba influenciando tudo - é a gratificação instantânea. As pessoas se tornam objetos. Você acessa a internet porque quer alguma coisa, todo mundo quer alguma coisa. As coisas mais explícitas que estão lá do ponto de vista sexual são bastante destrutivas. Há os predadores tentando seduzir crianças. Pessoas que vão reviver os próprios traumas porque estão interagindo com fantasmas. Se não houvesse todo o anonimato, você não teria tanta pornografia - quem é que quer assistir a um filme pornográfico realista, identificar-se como espectador e identificar os personagens? Então o anonimato é um princípio da internet tanto quanto é um princípio da pornografia. Se você não sabe com quem está se relacionando, então não está se relacionando com ninguém. Está apenas projetando, criando um personagem baseado nas suas necessidades e neuroses. Há muita reencenação de trauma na internet, os psicólogos, afinal, estão estudando isso.
 
E o que é positivo nessa cultura de massa pela massa? Você acha que no jornalismo algo de bom esteja acontecendo como reação às pressões de popularização da internet?
 
No momento, não. Mas por causa da inquietação da cultura americana e, veja, não estou comentando sobre a cultura da internet em outros países, sujeita a outras variáveis, mas por causa da nossa inquietação, alguma forma de dissidência há de se tornar popular, simplesmente porque o mercado não descansa. Acredito que os adultos vão tomar a cultura das mãos da garotada ou parar de fingir que são os jovens que decidem o que a cultura deva ser. E há de haver alguma maturidade, alguma seriedade, e com isso quero dizer, por exemplo, teremos o riso e traquinagem, ao invés de sarcasmo e deboche, obsessão com popularidade para escola de segundo grau. O livre mercado, que eu defendo, e que é tão importante para a democracia, pode também ser uma calamidade para a cultura popular. Já que o valor dominante é a conveniência, os aspectos mais crassos da cultura são amplificados, tudo requer gratificação imediata. Eu penso sobre o fato de que nós, americanos, temos esses assassinos em massa que entram num local e matam um grande número de pessoas rapidamente. Você já notou que o mesmo dedo usado para double click no teclado é o dedo usado para apertar o gatilho? Como crítico cultural, o que mais me interessa são as vozes originais. E acho que a internet tem um potencial enorme para difundir talentos originais, seja porque não dependem de grandes estúdios de gravação, de grandes editoras, das corporações. Quando espaços não comerciais se protegem do barulho ensurdecedor da massa, vemos florescer muito talento. Sabe o que eu acho que vai acontecer de positivo? A própria internet vai ser usada para combater o lado negativo da internet. Estou esperançoso. A necessidade tipicamente americana de combater o status quo pode ser gratuita, mas pode também ser construtiva. Quem sabe vamos ver nascer a contracultura da internet, um movimento genuíno de dissidência?
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* A jornalista Lúcia Guimarães atua como correspondente em Nova York desde 1985. Dirigiu documentários para o GNT e é produtora e participante do programa Manhattan Connection, do mesmo canal