de Evaldo Ferreira da Costa
Se perguntarmos a três pessoas o que entendem por morte, obteremos,
no mínimo três definições diferentes, pois a morte, ou o seu conceito, tem
significados que variam entre sociedades, entre indivíduos de uma mesma
sociedade e até mesmo em um indivíduo, haja visto que o significado pessoal
da morte muda de acordo com o amadurecimento emocional e cognitivo da
pessoa.
No entanto, segundo C. G. Jung, em seu livro *O Eu e o Inconsciente
**, "toda e qualquer experiência humana só é possível dada a presença de uma
predisposição subjetiva".* Ou seja, todas as experiências, idéias e
conceitos humanos, entre eles a morte, ocorrem devido à existência de uma
estrutura psíquica inata denominada arquétipo. Estes caracteres arcaicos são
de ordem coletiva e portanto pertencem a todo ser humano. Mas não se trata
porém de idéias herdadas e inatas a todo homem, e sim de possibilidades
herdadas de idéias e comportamento. Deve-se ressaltar ainda que os
arquétipos se manifestam como imagem arquetípica, ou seja, o que chega à
consciência não é um arquétipo propriamente dito e sim a sua imagem
arquetípica, que irá depender principalmente da cultura da pessoa e poderá
sofrer alterações ao atingir a consciência.
Ao considerarmos morte como um arquétipo, todo homem terá em si uma
imagem virtual do que seja morrer. Esta imagem manifesta-se de formas
diferentes, dependendo da cultura em que vive ou viveu, de sua história de
vida, do seu nível de desenvolvimento cognitivo e emocional, e do seu
dinamismo psíquico. Assim, o conceito que tem sobre a morte enquanto jovem
poderá mudar quando mais velho, ou o conceito que tem enquanto esta sadio
poderá mudar quando ficar doente, ou quando morrer um ente querido. No
entanto, a essência do que é a morte continuará a mesma e sempre passará um
sentimento e idéia de perda, separação, finitude, passagem, transformação e
renascimento que podem ocorrer de uma forma ou de outra. Por exemplo, o
renascimento pode ser vivenciado como significando o começo de uma nova
vida, agora sem um ente querido, ou como a crença na reencarnação.
Portanto, a morte apresenta dois aspectos: um coletivo e outro
individual que dialeticamente farão as pessoas com que as pessoas a
vivenciem ou a compreendam diferentemente. Com isso, procuramos resgatar os
aspectos sociais e fenomenológicos da morte para que ela não seja tratada de
forma unilateral, devendo o profissional de saúde que lida com a morte ter
sempre em mente estes dois aspectos.
Todas as representações da morte estão imersas num contexto coletivo
e cultural. Assim, a cultura oriental e a cultura ocidental sendo as mais
difundidas presentemente, influenciam de forma diferente no modo de lidar
com a morte.
A cultura ocidental é impregnada pelo individualismo e pela crença
em uma única vida, o que faz com que as pessoas busquem viver sua única
existência da melhor forma possível e num maior espaço de tempo. Além disso,
é uma cultura fundada no capitalismo, onde o indivíduo é visto sob a ótica
da produtividade e a sua principal expressão religiosa, o cristianismo,
prepara o homem somente para a existência na Terra, pouco falando sobre o
pós-morte.
Estes fatores fazem com que as pessoas temam adoecer e mais ainda o
fato de morrer, que é visto como algo inesperado e indesejável que vem para
arrancar o indivíduo de sua vida, de seus familiares e de seus prazeres para
jogá-lo no desconhecido. Portanto, segundo Maria Julia Kovács, *"a morte na
sociedade ocidental atual é vista como algo vergonhoso e não é mais
considerada um fenômento natural, e sim fracasso, impotência ou imperícia,
por isso deve ser ocultada"*.
Como vemos, o que predomina no Ocidente é o medo da morte. De tal
modo simbolizada e trazida por um carrasco cruel vestido de negro que
carrega uma enorme foice. Essa representação, sem dúvida, inspira temor por
sua visita.
Já no oriente ocorre o oposto. Naquela cultura, fundamentada em
religiões como o Budismo e o Hinduísmo, as pessoas consideram a morte como
uma transformação necessária à purificação do espírito e há livros, como o
Livro dos Mortos Tibetanos, que oferecem orientações para o momento da
morte e para o estado do pós-morte, através do qual o ser humano deve
passar. Isso torna a morte não só algo esperado, mas necessário. Assim,
teoricamente deve ser mais fácil para um oriental enfrentar a morte do que
para um ocidental.
Contudo, sabemos que não há só o fator cultural a influenciar a
vivência da morte. Há também o aspecto subjetivo ou fenomenológico. Dentro
deste aspecto vemos a morte é uma experiência única a cada indivíduo.
Portanto, cada um tem dela uma representação própria.
Esta representação e a forma como a morte é vivenciada dependerá
principalmente da relação que o sujeito estabelecer com o fenômeno da morte
e de fatores como a idade e o estado de saúde da pessoa, dentre outros. A
posição do sujeito diante da morte pode dar-se de três formas: como
profissional, um médico ou psicólogo, por exemplo; na posição de quem morre;
ou na posição de parente de quem morre.
Entendemos, desta forma, que não é possível abordar a morte sem
considerarmos os aspectos sociais e fenomenológicos que influenciam na sua
compreensão, já que estes dois fatores atuam conjuntamente e fazem parte da
estrutura psíquica do indivíduo como nos mostra a Psicologia Analítica.
O psícólogo clínico ou hospitalar é um profissional que lida diretamente com
a morte, pois a vida é feita de inúmeras mortes, já que as pessoas
experienciam o morrer quando sofrem alguma perda. Assim, o psicólogo
trabalha as mortes trazidas pelo cliente em terapia ou pelo paciente no
leito hospitalar. Isto requer dele, além de preparo psíquico, um preparo
teórico-prático para enfrentar tema tão difícil.
A nosso ver, este preparo dar-se-á a partir de uma mudança de
posrtura em relação à morte, que deve ser entendida como algo inerente a
todo ser humano e necessário ao seu crescimento, pois complementa a vida.
Além disso, o psicólogo deve aprender a lidar com suas mortes para que possa
dar apoio psicológico a quem o procura. Para isso devemos entender a morte
sob o ponto de vista social e fenomenológico, aspectos indissociáveis da
questão.
Se perguntarmos a três pessoas o que entendem por morte, obteremos,
no mínimo três definições diferentes, pois a morte, ou o seu conceito, tem
significados que variam entre sociedades, entre indivíduos de uma mesma
sociedade e até mesmo em um indivíduo, haja visto que o significado pessoal
da morte muda de acordo com o amadurecimento emocional e cognitivo da
pessoa.
No entanto, segundo C. G. Jung, em seu livro *O Eu e o Inconsciente
**, "toda e qualquer experiência humana só é possível dada a presença de uma
predisposição subjetiva".* Ou seja, todas as experiências, idéias e
conceitos humanos, entre eles a morte, ocorrem devido à existência de uma
estrutura psíquica inata denominada arquétipo. Estes caracteres arcaicos são
de ordem coletiva e portanto pertencem a todo ser humano. Mas não se trata
porém de idéias herdadas e inatas a todo homem, e sim de possibilidades
herdadas de idéias e comportamento. Deve-se ressaltar ainda que os
arquétipos se manifestam como imagem arquetípica, ou seja, o que chega à
consciência não é um arquétipo propriamente dito e sim a sua imagem
arquetípica, que irá depender principalmente da cultura da pessoa e poderá
sofrer alterações ao atingir a consciência.
Ao considerarmos morte como um arquétipo, todo homem terá em si uma
imagem virtual do que seja morrer. Esta imagem manifesta-se de formas
diferentes, dependendo da cultura em que vive ou viveu, de sua história de
vida, do seu nível de desenvolvimento cognitivo e emocional, e do seu
dinamismo psíquico. Assim, o conceito que tem sobre a morte enquanto jovem
poderá mudar quando mais velho, ou o conceito que tem enquanto esta sadio
poderá mudar quando ficar doente, ou quando morrer um ente querido. No
entanto, a essência do que é a morte continuará a mesma e sempre passará um
sentimento e idéia de perda, separação, finitude, passagem, transformação e
renascimento que podem ocorrer de uma forma ou de outra. Por exemplo, o
renascimento pode ser vivenciado como significando o começo de uma nova
vida, agora sem um ente querido, ou como a crença na reencarnação.
Portanto, a morte apresenta dois aspectos: um coletivo e outro
individual que dialeticamente farão as pessoas com que as pessoas a
vivenciem ou a compreendam diferentemente. Com isso, procuramos resgatar os
aspectos sociais e fenomenológicos da morte para que ela não seja tratada de
forma unilateral, devendo o profissional de saúde que lida com a morte ter
sempre em mente estes dois aspectos.
Todas as representações da morte estão imersas num contexto coletivo
e cultural. Assim, a cultura oriental e a cultura ocidental sendo as mais
difundidas presentemente, influenciam de forma diferente no modo de lidar
com a morte.
A cultura ocidental é impregnada pelo individualismo e pela crença
em uma única vida, o que faz com que as pessoas busquem viver sua única
existência da melhor forma possível e num maior espaço de tempo. Além disso,
é uma cultura fundada no capitalismo, onde o indivíduo é visto sob a ótica
da produtividade e a sua principal expressão religiosa, o cristianismo,
prepara o homem somente para a existência na Terra, pouco falando sobre o
pós-morte.
Estes fatores fazem com que as pessoas temam adoecer e mais ainda o
fato de morrer, que é visto como algo inesperado e indesejável que vem para
arrancar o indivíduo de sua vida, de seus familiares e de seus prazeres para
jogá-lo no desconhecido. Portanto, segundo Maria Julia Kovács, *"a morte na
sociedade ocidental atual é vista como algo vergonhoso e não é mais
considerada um fenômento natural, e sim fracasso, impotência ou imperícia,
por isso deve ser ocultada"*.
Como vemos, o que predomina no Ocidente é o medo da morte. De tal
modo simbolizada e trazida por um carrasco cruel vestido de negro que
carrega uma enorme foice. Essa representação, sem dúvida, inspira temor por
sua visita.
Já no oriente ocorre o oposto. Naquela cultura, fundamentada em
religiões como o Budismo e o Hinduísmo, as pessoas consideram a morte como
uma transformação necessária à purificação do espírito e há livros, como o
Livro dos Mortos Tibetanos, que oferecem orientações para o momento da
morte e para o estado do pós-morte, através do qual o ser humano deve
passar. Isso torna a morte não só algo esperado, mas necessário. Assim,
teoricamente deve ser mais fácil para um oriental enfrentar a morte do que
para um ocidental.
Contudo, sabemos que não há só o fator cultural a influenciar a
vivência da morte. Há também o aspecto subjetivo ou fenomenológico. Dentro
deste aspecto vemos a morte é uma experiência única a cada indivíduo.
Portanto, cada um tem dela uma representação própria.
Esta representação e a forma como a morte é vivenciada dependerá
principalmente da relação que o sujeito estabelecer com o fenômeno da morte
e de fatores como a idade e o estado de saúde da pessoa, dentre outros. A
posição do sujeito diante da morte pode dar-se de três formas: como
profissional, um médico ou psicólogo, por exemplo; na posição de quem morre;
ou na posição de parente de quem morre.
Entendemos, desta forma, que não é possível abordar a morte sem
considerarmos os aspectos sociais e fenomenológicos que influenciam na sua
compreensão, já que estes dois fatores atuam conjuntamente e fazem parte da
estrutura psíquica do indivíduo como nos mostra a Psicologia Analítica.
O psícólogo clínico ou hospitalar é um profissional que lida diretamente com
a morte, pois a vida é feita de inúmeras mortes, já que as pessoas
experienciam o morrer quando sofrem alguma perda. Assim, o psicólogo
trabalha as mortes trazidas pelo cliente em terapia ou pelo paciente no
leito hospitalar. Isto requer dele, além de preparo psíquico, um preparo
teórico-prático para enfrentar tema tão difícil.
A nosso ver, este preparo dar-se-á a partir de uma mudança de
posrtura em relação à morte, que deve ser entendida como algo inerente a
todo ser humano e necessário ao seu crescimento, pois complementa a vida.
Além disso, o psicólogo deve aprender a lidar com suas mortes para que possa
dar apoio psicológico a quem o procura. Para isso devemos entender a morte
sob o ponto de vista social e fenomenológico, aspectos indissociáveis da
questão.
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Evaldo Ferreira da Costa é concludente do
Curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará.
Membro do Círculo Junguiano de Fortaleza.
Evaldo Ferreira da Costa é concludente do
Curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará.
Membro do Círculo Junguiano de Fortaleza.