sábado, 23 de agosto de 2014

DICA DE LEITURA — Incrível: terceiro e último volume da biografia de Getúlio Vargas

Biografia de Getúlio mostra que durante mais de 20 anos ele contemplou o suicídio como forma de vencer a derrota

A SAÍDA HONROSA — No Aeroporto Santos Dumont, na então capital federal, Getúlio embarca para uma etapa da campanha presidencial de 1950: quatro anos mais tarde, tendo voltado pelo voto à trincheira que antes conquistara pelas armas, o presidente se convenceu de que o atentado contra Carlos Lacerda selaria sua ignomínia. Cumpriu então a promessa de suicídio com que tantas vezes acenara a si mesmo (Foto: Fundação Getúlio Vargas/FGV)
A SAÍDA HONROSA — No Aeroporto Santos Dumont, na então capital federal, Getúlio embarca para uma etapa da campanha presidencial de 1950: quatro anos mais tarde, tendo voltado pelo voto à trincheira que antes conquistara pelas armas, o presidente se convenceu de que o atentado contra Carlos Lacerda selaria sua ignomínia. Cumpriu então a promessa de suicídio com que tantas vezes acenara a si mesmo (Foto: Fundação Getúlio Vargas/FGV)
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UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA
O último volume da biografia de Lira Neto confirma que, havia mais de duas décadas, Getúlio Vargas contemplava o suicídio como única forma de vencer a derrota
Resenha de Augusto Nunes publicada em edição impressa de VEJA
Sozinho em seu labirinto, o maior ator da política brasileira ensaiou pelo menos cinco vezes, ao longo de 24 anos, o desfecho da tragédia incomparável.
Cartas, anotações e bilhetes enfileirados pelo biógrafo Lira Neto comprovam, já no capítulo de abertura do terceiro e último volume de Getúlio 1945-1954 (Companhia das Letras; 430 páginas; 49,50 reais, ou 34,50 reais na versão eletrônica), que o protagonista do drama encerrado em 24 de agosto de 1954, quando apertou o gatilho do Colt 32, já costumava levar a mão ao coldre sempre que entrevia o fantasma da derrota irreversível – e, por trás dela, as humilhações reservadas aos apeados do poder.
Getúlio Dornelles Vargas sempre enxergou no suicídio a única forma de sobreviver à morte física, antecipar-se à vingança do inimigo vitorioso e seguir existindo na memória popular. Para o gaúcho de São Borja, nascido e criado em paragens conflagradas por duas guerras civis e antagonismos ferozes, a abreviação voluntária da vida não era a rendição que interrompe o confronto. Era a senha para o contra-ataque que desencadeia a guerra póstuma.
"E se perdermos?", perguntou-se Getúlio num manuscrito datado de 3 de outubro de 1930, horas depois da deflagração do movimento armado que o levaria ao coração do poder. A resposta ("Sinto que só o sacrifício da vida poderá resgatar o erro de um fracasso") seria repetida, com variações na forma que em nada afetam o conteúdo, em 10 de julho de 1932, quando registrou em uma carta o início da Revolução Constitucionalista, e em 19 de janeiro de 1942, ao optar pela adesão aos Aliados na II Guerra Mundial.
Nos três episódios, a vitória interrompeu o flerte com a morte – que seria retomado em abril de 1945, quando se multiplicaram as evidências de que a cúpula do Exército tramava a deposição do ditador.
"Estou resolvido ao sacrifício para que ele fique como um protesto, marcando a consciência dos traidores", avisou. Desta vez, não cumpriu a promessa por acreditar que não fora liquidado politicamente. As urnas logo gritariam que o genial intuitivo estava certo.
Os adversários triunfantes ainda decoravam o nome das secretárias quando, com uma declaração de apoio divulgada a quatro dias do pleito, ele implodiu o favoritismo de Eduardo Gomes e garantiu a chegada de Eurico Dutra à Presidência da República.
Meses mais tarde, Getúlio elegeu-se senador por São Paulo e pelo Rio Grande do Sul, além de deputado federal por seis Estados. À impressionante demonstração de força, contudo, seguiu-se a confirmação de que não exagerava ao avaliar a extensão e a intensidade dos ódios acumulados ao longo dos quinze anos em que governou o país.
Bastaram algumas sessões, todas tumultuadas pelo som da fúria, para que desistisse de aparecer no Congresso, então no Rio de Janeiro. Não fez nenhum discurso nem apresentou projeto algum. Transformado pela bancada oposicionista em tema único dos virulentos comícios diários, retirou-se para a estância em São Borja. Ali, ao saber que os inimigos queriam castigá-lo com o desterro, escreveu a quinta mensagem de despedida. Afastada a ameaça, aproveitou a trégua para planejar o regresso ao Palácio do Catete.
Antes de optar pelo reinício da guerra, consultou apenas a filha Alzira. Amparado nas revelações que hibernam nos originais do segundo e ainda inédito livro de memórias da autora de Getúlio Vargas, Meu Pai, Lira Neto constata que Alzira foi a única confidente de um introspectivo visceral.
Numa das cartas trocadas entre a filha que chamava de "Ge" o pai que a tratava por "Rapariguinha", Getúlio enumera os perigos que espreitavam todos os caminhos possíveis e pede a opinião da destinatária na última linha: "Que pensas?". Admiravelmente precisas e argutas, as considerações de Alzira convenceram a esfinge de que era hora de regressar pela rota do voto à trincheira que havia conquistado pela trilha da insurreição armada.
getulio-lira-neto
 Ao lado da exposição da face mórbida de um sedutor de multidões, a relação entre pai e filha figura entre os momentos especialmente luminosos da obra que, ao reconstituir exemplarmente a trajetória do homem que empunhou por quase vinte anos o bastão de mando, incorporou Lira Neto à tropa de elite dos biógrafos brasileiros.
"Da volta pela consagração popular ao suicídio", resume o subtítulo do volume que exuma o período que vai de 1945 a 1954, provavelmente o mais instável, perturbador e sombrio do Brasil republicano. A temperatura política sempre roçando o ponto de combustão, o primitivismo da democracia ainda no berço e a selvageria eleitoral escancaram já nas primeiras páginas a inevitabilidade do final infeliz.
Em agosto de 1954, quando se conformara em sonhar apenas com a conclusão do mandato, Getúlio foi surpreendido pelo atentado contra Carlos Lacerda e entendeu que a 25ª hora chegara. Fundiu as mensagens pressagas na cartatestamento, o mais belo e comovente adeus produzido por um político.
Ninguém suspeitou da partida iminente, nem mesmo Alzira Vargas. Às 8 e meia da manhã, fechou a porta do quarto para abrir a bala, dois minutos depois, a porta de entrada na História.

Gatolandia


Marina Silva por J.R. Guzzo

 Assunto: Vinte milhões de votos sem um claro motivo. Ou: Marina Silva por J.R. Guzzo

Messias salvadora da Pátria? Nem a pau, Juvenal!
Não precisamos de um "guru espiritual", e sim de um gestor eficiente
O eleitor típico de Marina Silva é o jovem idealista ou o membro da elite que flerta com a esquerda "festiva". Tem seu charme ser contra "tudo isso que está aí", contra o "sistema", ainda que votando em alguém do "sistema" há décadas. O que vale são as aparências, e Marina Silva conseguiu criar a imagem de que paira acima do jogo partidário comum – e podre. Isso encanta os que nasceram para se encantar com mitos, não fatos.
O que a democracia brasileira mais precisa no momento é se livrar do PT. Em segundo lugar, precisa de debates calcados em propostas e argumentos. Marina Silva pode ser útil para o primeiro objetivo. Infelizmente, não é para o segundo, de mais longo prazo.
O que defende Marina, de verdade? Quais são suas principais propostas? Foi contra o Plano Real quando ainda era do PT, ou contra os transgênicos, que ajudaram a revolucionar nosso agronegócio. E agora? Defende os avanços do setor rural ou pretende insistir em uma visão romântica e boboca da natureza como uma espécie de 'mãe' boazinha, nos moldes de "Avatar"?
Enfim, para crer no avanço de nossa democracia, seria importante termos uma noção melhor do por quê votam em Marina, do ponto de vista positivo (suas propostas), não negativo (protesto contra o sistema). Em sua coluna na Veja desta semana, J.R. Guzzo faz um bom resumo da coisa:
Guzzo
Queremos menos discursos messiânicos e incompreensíveis e mais argumentos e propostas sérias. É disso que o Brasil precisa se pretende caminhar rumo ao progresso sustentável de verdade.
Rodrigo Constantino

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Lá se foi nosso gatinho: para o céu dos animais

Lá se foi nosso gatoKing: para o céu dos animais?


Sessenta anos do suicídio de Vargas: o maior estadista do Brasil?


Feed: Rodrigo Constantino - VEJA.com
 
Getúlio Vargas: a era mais fascista do Brasil… até o lulopetismo!
A caminho do escritório hoje, escutava no "Liberdade de expressão", na rádio CBN, Carlos Heitor Cony e Artur Xexéo comentando sobre o sexagésimo aniversário da morte de Getúlio Vargas, daqui a dois dias. Cony foi enfático ao afirmar se tratar do maior estadista que o Brasil já teve, citando como exemplo a lei trabalhista. Como é?
Cony tem claro viés de esquerda em suas ideias. Uso o caso, portanto, apenas como mais uma evidência de como fascistas e esquerdistas podem andar mais próximos do que parece. O escritor relativizou a fase da ditadura, lembrando que foi a época da guerra e que vários países europeus também viraram ditaduras. Mas os Estados Unidos não! Era mesmo necessário cair em uma ditadura?
No mais, a década de 1960 também foi "rica" em ditaduras, durante a Guerra Fria. Será que os contumazes esquerdistas vão relativizar nosso regime militar com base em tal contexto? Muitos querem até retirar o nome de militares das ruas e avenidas: vão retirar o nome de Vargas também? Um peso, duas medidas?
O grande legado de Vargas foi o trabalhismo, mas como alguém pode celebrar isso? Fascismo é aliança entre estado, grandes empresas e sindicatos, à custa dos trabalhadores e consumidores, que se beneficiam de verdade sob uma economia de livre mercado. A "herança maldita" de Vargas nos acompanha até hoje, com fortes máfias sindicais impedindo uma reforma que torne as leis trabalhistas mais flexíveis.
Xexéo, ao menos, reforçou a era ditatorial de Vargas como ponto negativo de seu passado, algo muitas vezes esquecido ou ignorado. E ainda acrescentou que o nacionalismo estatizante foi combatido na era FHC, que pretendia deixar o "varguismo" para trás – algo que foi apenas parcialmente conseguido. Já Lula, o esquerdista, resgatou boa parte dessa mentalidade, mostrando uma vez mais como a esquerda pode estar mais perto do fascismo do que pensa.
Vargas era fascista? Bem, nossa CLT foi inspirada na "Carta del Lavoro" de Mussolini, ditador fascista que, aliás, gozava da simpatia de Vargas. Ontem mesmo, por acaso, dava carona para meu amigo Alexandre Borges, após o lançamento do livro de Guilherme Fiuza, e conversávamos sobre o assunto. Vargas recebeu com pompas e circunstância todo o primeiro escalão fascista de Mussolini. Só faltou o próprio ditador na comitiva.
No final dos anos 1930, a Alemanha de Adolf Hitler alcançou o posto de principal parceiro comercial do Brasil. O quadro se inverteu no início da década seguinte, e o governo Vargas se aproximou mais dos Estados Unidos. Osvaldo Aranha, ministro das Relações Exteriores de 1937 a 1944, foi decisivo na aliança com Washington.
"Primeiro seguindo os EUA no neutralismo pró-democrático, entre 1939 e 1941, depois alinhando decisivamente o Brasil com os EUA após o ataque a Pearl Harbor", diz o diplomata Paulo Roberto de Almeida, em referência ao bombardeio japonês à base americana de Pearl Harbor, no Oceano Pacífico, em 1941. Foi Osvaldo Aranha quem impediu o Brasil de Vargas de fechar aliança com o Eixo durante a Segunda Guerra.
Maior estadista do Brasil? Um líder que flertou desde o começo com o fascismo? E isso dito pela boca de um respeitado escritor de esquerda? Pois é, talvez os esquerdistas devessem parar de acusar os liberais de "fascistas" o tempo todo e olhar para o próprio umbigo em uma autorreflexão sincera, para verificar que não é exatamente o liberalismo que disputa a mesma alma com o fascismo…
Rodrigo Constantino

O dono do mundo


Feed: Felipe Moura Brasil - VEJA.com

George Soros
No último post, eu citei um livro de David Horowitz lançado em 2010, One-Party Classroom, e também mencionei o maior financiador da esquerda mundial, inclusive da campanha pela legalização das drogas, George Soros, este aí da foto ao lado, de quem também falamos no nosso best seller O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Mas é preciso falar mais deles.
Em seu último livro, The New Leviathan, Horowitz mostra que as doações de empresas para os movimentos de esquerda nos EUA somam três bilhões de dólares; para a direita, 32 milhões. Como observou Olavo de Carvalho: "alguém tem alguma dúvida sobre de que lado está o poder econômico?"
Se você ainda tem, ou cai no engodo de que a esquerda é uma pobre coitadinha lutando contra os burgueses malvados de direita, nada melhor que conhecer abaixo a história de George Soros, no excelente resumo "O dono do mundo", escrito pelo meu amigo e, assim como eu, autor contratado pela Editora Record, Alexandre Borges, publicado originalmente em seu blog no Facebook, no dia do aniversário de Soros, e depois no Mídia Sem Máscara, do qual é colaborador.
Leia e mostre este texto (com notas, links e grifos meus) para aqueles seus amigos que não têm a menor ideia de onde vêm e quem financia as ideias em que eles acreditam. Vale dizer que isto inclui não só os amigos de esquerda, mas também os daquela parte de uma autointitulada direita, que inadvertidamente pensa com a cabeça de Soros. [FMB]
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84 anos, em 12 de agosto de 1930, nascia em Budapeste Schwartz György, depois renomeado George Soros, o mais bem-sucedido gestor de fundos multimercados da história.
Ele nasceu numa família de judeus não praticantes numa época conturbada em que a Hungria, durante a década de 30, tinha estreitas relações com a Alemanha nazista e a Itália fascista. Em 1940, o país entrou formalmente no Eixo, permanecendo até o fim da Segunda Guerra. Temendo que a família fosse perseguida e eventualmente morta, o pai de George Soros subornou um oficial húngaro para que ele hospedasse George dentro de sua casa e apresentasse o rapaz como seu afilhado cristão. A função deste funcionário do governo húngaro, de nome Baumbach, era encontrar judeus, denunciar para as autoridades responsáveis pelas deportações para campos de concentração e confiscar seus bens. Em muitas dessas ações, o jovem George, rebatizado como Sandor Kiss, acompanhava o padrinho. Sobre isso, numa entrevista para a CBS em 1998, Soros disse que era um mero espectador e não sentia qualquer remorso, além de revelar que foi o período mais feliz da sua vida porque, mesmo com tanto sofrimento em volta, ele se sentia protegido.
Com 17 anos, George Soros se muda para Londres e mais tarde nasce o financista. Em 1959, vai para Nova York e, dois anos depois, consegue a cidadania americana. Ele vive intensamente os anos 60 nos EUA e a contracultura, que marcaram sua visão de mundo para sempre. Nessa época, fica íntimo do autor socialista Michael Harrington e passa a frequentar seu círculo de amigos. O livro mais conhecido de Harrington, o libelo esquerdista The Other America, foi lido e elogiado publicamente pelo presidente democrata Lyndon Johnson, que ele dizia ter influenciado seu governo e suas ideias de redistribuição de renda via estado.
Em 1992, ficou mundialmente famoso por ter "quebrado" o Banco da Inglaterra, faturando na operação 1 bilhão de euros. Assim como sua carreira como financista é conhecida, sua influência política é ignorada ou abafada. Neste mesmo ano de 1992, Soros confessa que seus gastos com suas fundações para influenciar a política e a sociedade já ultrapassava US$ 300 milhões anuais.
Seu principal executivo na Soros Foundation Network era ninguém menos que Aryeh Neier, fundador da Students for a Democratic Society (SDS), o maior e mais radical grupo de esquerda dos EUA nos anos 60, do qual uma dissidência nasceu o Weather Underground, grupo terrorista de inspiração comunista liderado por Bill Ayers, o lançador da carreira política de Barack Obama. Atualmente, Ayers se tornou especialista em educação e suas idéias estão ajudando a implementar nos EUA o Common Core, o polêmico sistema integrado e unificado de padronização educacional do país comandado pelo governo federal.
[Nota de FMB: ver meu artigo "A verdadeira insanidade".]
Soros é, possivelmente, o indivíduo sem cargo eletivo mais influente do mundo. Possuidor de uma fortuna pessoal estimada em US$ 13 bilhões e administrando US$ 25 bilhões de terceiros, é tão poderoso no Partido Democrata americano que no programa humorístico Saturday Night Live foi chamado de "dono" do partido. E na prática não é nada muito diferente disso. Dentro do Partido Democrata, candidatos independentes, não ligados a Soros, são cada vez mais raros.
Rebuilding Economics: George Soros se vê como um missionário das próprias utopias e não conhece limites para usar sua fortuna quase sem paralelo para influenciar a política, a imprensa e a opinião pública em diversos países, especialmente os EUA. Como ele mesmo disse, "minha principal diferença de outros com uma quantidade de recursos acumulados parecida com a minha é que não tenho muito uso pessoal para o dinheiro, meu principal interesse é em ideias." Soros também revelou que seu sonho era escrever um livro "que durasse o mesmo que nossa civilização" e que ele valorizaria isso mais do que qualquer sucesso financeiro. Ele já lamentou que mudar o mundo é muito mais difícil do que ganhar dinheiro. Num livro de 1987, disse que já tinha se achado uma espécie de deus mas que depois se convenceu que seria mais como uma mistura de John Maynard Keynes com Albert Einstein.
Sua ideias políticas incluem uma oposição à supremacia política e econômica dos EUA, que ele considera um impeditivo para a criação de uma sociedade "global", com interesses comuns e supranacional. Num livro de 2006, afirmou que os EUA são a grande fonte de instabilidade do mundo. Segundo ele, os americanos são nacionalistas demais e ignoram os principais problemas do planeta, que poderiam ser resolvidos com "cooperação internacional". Para ele, se os EUA não forem o tipo "correto" de líder mundial, o país vai se autodestruir.
Não por acaso, Soros é um grande entusiasta da zona do Euro e sonha com uma integração política na Europa sucedendo a integração econômica, mesmo que sem acabar formalmente com os estados nacionais, mas transformando todos em satélites dessa "sociedade aberta". Ele crê que as nações são fontes eternas de instabilidade e só a criação de instituições supranacionais poderá trazer equilíbrio ao mundo, o que ele chama de "aliança". A ideia é um pesadelo para qualquer democrata, mas uma utopia desejável para mentes fanáticas. O pai de George Soros, Tivadar, era um entusiasta do Esperanto, uma risível tentativa de criação de um idioma global.
Soros defende também que, a despeito dos bons resultados econômicos do capitalismo, o sistema de livre mercado é incompetente para resolver desigualdades sociais, o que é uma mentira facilmente demonstrável. Não há um único ranking da The Heritage Foundation que não prove, ano após ano, que os países mais livres são não só os mais prósperos mas também os que provêm mais riqueza e mobilidade social para os cidadãos de baixa renda [Ver: http://www.heritage.org/index/].
Na visão de Soros, o empreendedorismo é algo falho e incompleto e que deveria ser substituído pela idéia de "empreendedorismo social", uma mistura entre a busca de lucros e "justiça social". Alguma diferença do que pensa Barack Obama? Não que eu saiba. Soros acredita também que o terrorismo deve ser combatido com mais diplomacia e medidas pontuais, que levem em consideração as motivações e reivindicações dos terroristas, e é radicalmente contra ações militares para o combate ao terror. Alguma diferença do que pensam vários bocós, inclusive da direita? Não que eu saiba.
Sobre Israel, ele diz que não é um sionista e que a questão palestina deveria ser resolvida também com mais diplomacia, citando as tentativas de Jimmy Carter e Bill Clinton, que teriam sido torpedeadas por conta de um lobby poderoso da American Israel Public Affairs Committee (AIPAC), a principal associação pró-Israel dos EUA. Alguma diferença do que pensam vários "analistas isentos" da imprensa que culpam Israel por tudo de ruim que acontece no Oriente Médio? Não que eu saiba.
[Nota de FMB: Em 2003, Soros culpou Israel e os EUA pelo "ressurgimento do antissemitismo na Europa": "As políticas do governo Bush e da administração Sharon contribuem para isso. Se mudarmos essa direção, em seguida o antissemitismo também vai diminuir". Agora, onze anos depois, o garoto de recados de SorosJeremy Ben Ami, da organização americana anti-Israel J Street, repetiu o discurso do patrão, dizendo que Israel estava "abanando chamas crescentes de antissemitismo". Sobre esses embustes, ver o meu post "Por que a esquerda odeia Israel" e toda a minha cobertura do conflito em Gaza: aqui.]
Há 30 anos, Soros mantém a Open Society, nome tirado de um livro de Karl Popper. A Open Society é uma ONG bilionária destinada a influenciar a opinião pública e a política no mundo. Ela está presente em mais de 70 países é tão poderosa que, em alguns regimes, é considerada um "governo informal".
Nos EUA, mantém o poderosíssimo Media Matters, que dá o tom de praticamente toda imprensa americana, além de ser o principal financiador do The Huffington Post, um ícone da esquerda mundial. A Open Society é inspirada pela idéia do filósofo francês Henri Louis Bergson que acreditava num mundo com valores morais "universais" e não de sociedades "fechadas", o que influenciou vários pensadores que até hoje criticam os ideais do pais fundadores da nação americana e do "excepcionalismo americano".
[Nota de FMB: Ver também no MSM o artigo sobre a Open Society e os planos de Soros para influenciar a opinião pública, "Project Syndicate: o oráculo de George Soros"; e na Folha, "Quem paga a conta", sobre alguns dos tentáculos de Soros na América Latina, inclusive no Brasil.]
As agendas políticas promovidas e patrocinadas financeiramente por George Soros e suas fundações partem do princípio de que os EUA são uma nação opressora e violadora dos direitos humanos, que suas ações militares são fruto de racismo e intolerância com outros povos, o que seria, na avaliação de Soros, algo historicamente relacionado à sociedade americana. Muitas dessas fundações e ONGs constantemente pautam a imprensa com denúncias contra o governo dos EUA, muitas delas promovendo processos judiciais contra o país.
Soros financia também inúmeros grupos defensores de "valores progressistas", de "redistribuição de renda", o que inclui o recrutamento e treinamento massivo de candidatos a cargos eletivos, militantes, ativistas e lobistas. A ideia central é expandir ao máximo os programas assistencialistas e o welfare state para corrigir o que ele vê como "imperfeições" do capitalismo. Algumas dessas organizações miram diretamente na imprensa, no sistema judiciário, o que inclui a formação de juízes, e em instituições religiosas, treinando clérigos.
Outras agendas políticas importantes incluem a flexibilização das fronteiras dos EUA e facilitação das regras de imigração, além de oposição a toda ação militar americana (classificadas como "imorais" e desnecessárias), cortes no orçamento militar, ambientalismo e ativismo feminista radical, mais poder para organizações globais como a ONU, legalização das drogas e da eutanásia, "antissionismo", além do financiamento bilionário de candidatos do partido democrata.
[Nota de FMB: Soros, como não poderia deixar de ser, também financia o movimento abortista. Sobre o tema, ver meus posts "O filme que o Bonequinho do Globo não quer que você veja", "Vamos educar contra o aborto" e também o capítulo "Aborto" do nosso best seller.]
Ele também financiou vários movimentos revolucionários e insurgentes no mundo. Nos anos 90, se orgulhava de ter patrocinado a derrubada de governos como os de Vladimir Meciar, Franjo Tudjman e Slobodan Milosevic. Na Geórgia, ajudou a derrubar o governo de Eduard Shevardnadze. Na Ucrânica, é associado a grupos que lutam contra a dominação russa. Pode parecer um contra-senso, mas Soros é um opositor das nações "isoladas" e sonha com um mundo "aberto", sem fronteiras, por isso apoia a esquerda no Ocidente e é opositor dela na Ásia.
Soros é tão próximo de Bill Clinton que alguns dos mais importantes ocupantes de cargos públicos no seu governo são considerados indicações diretas dele. Em 2004, gastou tudo que podia para tentar impedir a reeleição de George W. Bush mas não conseguiu.
Em dezembro de 2006, George Soros recebeu Barack Obama em seu escritório em Nova York. Duas semanas depois, Obama revelou que seria candidato a presidente dos EUA e, uma semana depois, George Soros anunciou publicamente que apoiava sua indicação nas primárias contra Hillary Clinton, o que parecia uma maluquice na época. O resto é história. Hoje ele apoia Hillary para a próxima eleição presidencial.
O número de fundações, ONGs, sindicatos e veículos de comunicação que recebem dinheiro de George Soros ou de suas fundações é tão vasto que só um incansável pesquisador como David Horowitz para catalogar e publicar no seu portal "Discover the Networks". Se você tiver curiosidade, é só clicar aqui.
[Alexandre Borges]
Felipe Moura Brasil  http://www.veja.com/felipemourabrasil
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VÍDEO: Usando computação gráfica...

  
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Em sua página no Facebook, o artista holandês Verstappen explica que morphing, como se chama essa evolução entre imagens, é apenas um "efeito especial em figuras em movimento e animações que transforma uma imagem em outra por meio de uma transição sem emendas".
Confiram o vídeo:
www.youtube.com/watch?v=foqGirKxbvk

Reynaldo-BH: ‘Temos de votar pelos mortos por 12 anos de descaso com a saúde’


REYNALDO ROCHA
Gracias a la vida! Como em quase tudo, damos valor ao que não temos. Ou estamos perdendo. Defendemos o que merece nossa crença durante a vida. E na véspera de ir-se – como todos irão – LUTAMOS pelo que deixamos de fazer. Pela vida não vivida. Pelos valores óbvios. Pela dignidade. Pelos filhos e filhas. Pelos amigos. Pelo que se pode deixar como legado.
A visão de mundo passa a ser mais intensa. O sentimento de ser menor do que a necessidade. De ser um ponto fora de uma reta (não curva) determinada por um pensamento único.
Não é privilégio nem maldição. É a vida. Assim ela é. Só sabe quem vive, na inteira concepção da palavra.
De onde vem a verdade que nestes tempos negros passou a ser propriedade dos poderosos? Quais valores éticos são valorizados? Ódio, ameaça, ofensa, raiva e mentira passam a ser um alegre modelo de combate. Do mau combate.
Um dia o marqueteiro americano James Carville cunhou a frase célebre "É a economia, idiota!" para identificar o que determinaria o futuro de uma eleição.
No Brasil, é a VIDA, IDIOTA!
Tenho – contra a minha vontade, óbvio… – frequentado hospitais com uma frequência que ninguém merece. Nem escolhe. E a pior parte. Aquela que, a cada nova consulta ou internação, falta um… E ninguém ousa perguntar.
Não sou médico. Sou doente. E como tal entendo a saúde pública no Brasil de modo mais intenso que um médico cubano ou paciente do Sírio Libanês.
Empresários que exploram planos de saúde privados são hoje mandatários da ANS e determinam valores irrisórios pagos a médicos e custos nunca cobertos nos hospitais. A saúde privada desceu ao patamar da pública, em acelerada marcha. As filas são as mesmas, a insatisfação do corpo médico idem. E o governo anuncia avanços na área que Lula acha perto da perfeição.  Seria risível se não fosse ofensivo. E macabro. O resultado é uma sepultura. Adiada para os eleitos. Antecipada para todo o resto: nós.
São doze anos de descaso com a saúde. De não formação de médicos. De sucateamento dos hospitais e centros especializados. De uso da saúde privada como alternativa vulgar do que é obrigação do estado, até o ponto de acabar com ela.
Tenho pressa. Todos deveriam ter. A vida é breve e passa muito rápido.
O uso criminoso de gangues que dominam ministérios e agências de saúde ha doze anos provocou quantas mortes que poderiam ser ao menos adiadas? Querem um inventário pessoal? Básico, particular e real.
Alguns exemplos bastam. Doutor Rebelo, um português, agonizou por 15 dias com um câncer cerebral à espera de ANESTESIA para ser operado. Morreu antes.
Zé Augusto  precisava de interferon. A Receita Federal impediu a entrada do medicamento numa das operações de rotina. Morreu 25 dias depois por septicemia derivada de um câncer de rim.
A dona Aninha, uma senhorinha que pedia para morrer, faltava morfina. Um amigo médico contrabandeou a droga para o hospital. E ela teve os últimos 5 dias de paz e sonhos até partir.
Palito, menino de rua com câncer de pele, cheirava mal. Não havia vaga na UTI. Morreu no corredor. Em cima de uma maca. Aos 15 anos.
Seu João, o padeiro, descobriu que tinha câncer numa consulta. Morreu 18 dias depois de internado. Era ainda o quinto da fila para atendimento.
A bela Analice extirpou o câncer de mama. A recidiva ocorreu três meses depois. Não havia vaga na UTI. Morreu em casa em consequência da metástase devastadora.
Vi médicos com olhos vermelhos nos corredores. Causa: bebida, maconha ou choro. Por dor. Por não desistirem da luta. Por terem escolhido a profissão certa no país errado. Por tentarem ser fortes. Os olhos, que nunca mentem, denunciavam a revolta, a humilhação, a comiseração.
Esse é o Brasil que quero deixar no passado. Que após 12 anos reduziu TUDO (saúde pública ou privada) a um padrão africano.
Tenho pressa. O Brasil deveria ter. Em nome de tantos que em 5 de outubro não irão votar.
Morreram antes.

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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

(Da seção: "Ai, ai") MUNDO MUÇULMANO


Nota: os números aqui expostos estão defasados (são de 2009). Certamente, se atualizados, dependendo de que lado se encontra o leitor/espectador, a ameaça/sucesso terá crescido bastante. Assuste-se ou festeje!

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Depressão, violência e imagens satânicas


Autor: Mr X
Robin Williams morreu. Ao que parece, suicida. Dizem que tinha sido cocainômano e alcoólatra, mas agora faz muitos anos estava "limpo". No entanto, sofria de depressão. (Aliás, depressão e abuso de substâncias estão ligados, mas não se sabe se tem a mesma origem genética, ou se é apenas que a pessoa deprimida procura alívio no álcool e nas drogas.)

Bem, eu não sabia que sofria de depressão, muito embora isso pareça ser comum em comediantes (Não é um paradoxo, necessariamente: o humor pode ser uma forma de compensar o sofrimento; associar humor com "alegria" é falso). E, fora isso, artistas em geral tem maior tendência à depressão e sucidam-se em uma proporção de 18 vezes a do "homem comum", segundo um estudo que li mas não acho o link.

Eu, pessoalmente, tenho uma teoria bizarra. Acho que a depressão é o normal, ou seria o normal se todos pudéssemos ver a verdadeira realidade da vida. "Human kind cannot bear very much reality", disse T. S. Eliot. O que é anormal é a felicidade.

De qualquer modo, Williams era um ator simpático. Difícil não gostar dele. Mas outros já fizeram elogios ao ator, e não era disso que eu queria falar. É que, num dos comentários em algum site de notícias, alguém falou que a culpa pela morte de Williams foi das "imagens satânicas" veiculadas pela mídia e da sua participação em propaganda "illuminati". Eu normalmente acharia que isso seria uma grande bobagem mas, na verdade, ultimamente começo a achar que alguma influência tais imagens tem na psiquê das multidões em geral, e nos atores e celebridades de Hollywood em particular.

Eu acho a Miley Cyrus, por exemplo, muito estranha. As imagens sexuais, a língua de fora, as roupas, os videoclips, tudo nela é bizarro e parece propositalmente querer passar imagens sexualização de meninas e perdição moral.

Mais cedo este ano, duas meninas de 12 tentaram matar uma amiguinha, aparentemente influenciadas por um personagem de horror da Internet. No entanto, parece que o pai de uma das garotas estava perfeitamente ciente desse interesse, e mais, todos naquela família eram fãs de músicas e imagens grotescas associadas com morte, esqueletos e diabos.

Não sei se você percebeu, mas hoje em dia vêem-se muitas decorações com caveiras ou figuras do Diabo e da Morte. Há quem não leve a sério, e há quem ache que sejam imagens que induzem ao satanismo e a pensamentos de assassinato ou suicídio. Bem, pode ser que não induzam ao satanismo, mas será que também não tem absolutamente nenhuma influência?

Você já ouviu falar dos juggalos, por exemplo? São fãs de uns conjuntos musicais que fazem música com letras de horror e apologia à violência e ao consumo de estupefacientes. O nome da produtora é "Psychopatic Records" e o logo é um jovem correndo com um cutelo na mão. O grupo mais famoso é um certo "Insane Clown Posse", ou "grupo de palhaços insanos". Seus fãs encontram-se em shows uma vez por ano, onde consomem drogas, fazem tatuagens e piercings e pintam o rosto de forma a parecer palhaços mórbidos. As mulheres andam de peitos de fora, quando não completamente nuas.

Seria apenas diversão inocente? Ou será que o uso de tais imagens poderia levar a problemas psiquiátricos no futuro?  Vejam as fotos e digam vocês.

Eu, pessoalmente, acho que uma juventude submetida a tal tipo de música e imagens mórbidas, vestimento bizarro, mutilação corporal e comportamento exibicionista e promíscuo, não pode ser de todo saudável; por outro lado, os hippies dos anos 70 passaram por algo parecido (ainda que menos demoníaco nas imagens e mais inspirado na natureza e nas flores) e muitos deles depois cresceram e viraram pessoas normais e até de sucesso.




Quando fecha o museu II



VÍDEO IRRESISTÍVEL: Os pitbulls também amam…


Feed: Ricardo Setti - VEJA.com 
O pitbull Sharky, o gato Max-Arthur e família de pintinhos: é muito amor (Foto: Helen's Pets)
O pitbull Sharky, o gato Max-Arthur e família de pintinhos: é muito amor para dar (Foto: Helen's Pets)
Quem diria que os cães da raça pitbull, temidos por tanta gente – e, seguramente, por muitos animais -, pudessem protagonizar momentos tão enternecedores? E, ainda por cima, envolvendo representantes de outras espécies?
Pois pelo menos o pitbull terrier Sharky, morador do Estado americano do Texas com sua dona, a estoniana Helen Jürlau Arnold, está disposto a quebrar todos os preconceitos relacionados à ferocidade de sua raça.
O cão é o protagonista da maioria dos vídeos que a moça disponibiliza em seu site, nos quais aparecem bichos do "pequeno zoológico" que ela mantém em casa.
É um clipe mais irresistível que o outro. No primeiro, por exemplo, Sharky aparece como um carinhoso e beijoqueiro guardião de dois serezinhos de grande meiguice, um porquinho-da-índia e um coelho de nomes não revelados, fazendo companhia também para seu legítimo inimigo natural, o gato Max-Arthur:
www.youtube.com/watch?v=pUV1oTciznE
Neste outro, Sharky dá uma força a uma iguana na hora em que ela resolve sair da piscina para tomar sol:
www.youtube.com/watch?v=kUmJFFKXIxY
E, para encerrar, temos a dupla Sharky e Max-Arthur banhando levando para passear uma família de pintinhos:
www.youtube.com/watch?v=jOVGIAXGuoQ

domingo, 17 de agosto de 2014

Quer?


E quando fecha o museu? Ela se diverte



Escrever bem é ter o que dizer. E vice-versa

Autor: sergiorodrigues


Cena do filme "Zelig" (1983), de Woody Allen
Cena do filme "Zelig" (1983), de Woody Allen

"Fulano escreve bem, mas não tem o que dizer." Não me lembro onde li essa frase, muito tempo atrás – provavelmente numa resenha ou quem sabe em duas ou três, pois a verdade é que se trata de um semiclichê crítico. Junto com seu autor ou autores, minha memória deixou de registrar também o alvo ou os alvos da diatribe. Foi a frase em si que passou a me assombrar de tempos em tempos em meus primeiros anos de escritor tateante, como se expressasse uma advertência severa e uma verdade terrível.
Então não bastava aprender a escrever? Era preciso também ser possuidor de uma qualidade mais misteriosa, talvez inata, certamente existencial, quem sabe política, que parecia tão fugidia quanto assustadora? Eu acreditava levar jeito para aquela coisa de fazer literatura, sentia que as palavras me mostravam alguma obediência, mas… teria o que dizer? E como uma pessoa que não tem o que dizer descobre, inventa, encomenda, pega emprestado, vai à luta de algo para dizer?
Levou tempo para que eu descobrisse estar diante de uma questão falsa. Saber escrever e ter o que dizer são rigorosamente a mesma coisa, ou melhor, não existe na literatura – ou em arte alguma – a possibilidade de separar "como dizer" e "o que dizer". Ou se tem o pacote completo ou não se tem nada. Mas essa sabedoria ainda estava distante para quem, batendo cabeça entre admirações contraditórias, passava pela fase da imitação.
Enquanto eu tentava tomar posse do estilo deste ou daquele autor admirado, hoje seco feito Hemingway e Hammett, amanhã barroco e rosiano, uma semana às voltas com doudos pontos-e-vírgulas colhidos em Machado, na outra cuspindo gírias e palavrões coletados em João Antônio e Rubem Fonseca, um dia cronista cômico, no outro mais pesado que um Dostoievski de ressaca – enquanto eu brincava assim, com a maior seriedade, era talvez inevitável que me assaltasse de vez em quando uma dúvida aterradora.
Quando a insegurança batia mais forte, eu era dominado pela suspeita de ser um Zelig das letras. A própria facilidade com que mimetizava tantos estilos parecia então uma prova de que eu não tinha "nada a dizer". Dominava o como – os muitos comos! –, mas era tudo oco, casca vazia. E por que não seria? Minha vida era banal, razoavelmente feliz, e naquilo que não era feliz vinha a ser mais banal ainda. Claro que, se um dia eu chegasse a publicar alguma coisa, não faltariam críticos para apontar o vácuo gritante: "Ele escreve bem, mas não tem o que dizer!".
Devo ter perdido um bom punhado de horas de sono com isso. Sim, eu sei: é ridículo. Mas não me parecia ridículo na época e duvido que pareça ridículo hoje a muitos jovens que decidem se aventurar na literatura. Tem se tornado mais arraigada do que nunca a ideia de que a arte é apenas um veículo, entre outros, de significados sociais preexistentes. Em vez de reconhecer seu núcleo irredutível, tratando-a como um valor em si, preferimos admitir que sua linguagem pode até ser sofisticada, para não dizer elitista, mas acreditamos que o que importa mesmo é seu conteúdo, sua "mensagem". E que aquilo que ela diz poderia ser expresso de outras formas – sociológica, política, crítica, panfletária, jornalística, histórica – sem perda de valor. Tal ideia contém o germe da negação da arte, do obscurantismo absoluto, mas cada vez mais tem passado por avançada e chique. O século XX nos conduziu do pântano do esteticismo ao abismo do filistinismo.
Até conselhos bem intencionados como "Escreva sobre o que você conhece bem" e "Viva primeiro, escreva depois" reforçam a ideia de que para escrever literatura que preste é preciso desembarcar nela, como um viajante consumista voltando de Nova York, com uma bagagem recheada de valiosas "mensagens". Tais conselhos podem ter sua utilidade, pois viver é sempre bom, mas artisticamente são furados. Fundam-se na supervalorização de um certo conteúdo – no caso, a experiência vivida – sobre a forma. Ocorre que o conteúdo, pouco importa se vivido, imaginado, sonhado ou lido, só existe através da forma e como expressão dela. Se alguém não sabe escrever, não tem o que dizer, e vice-versa. O quê da literatura é fundamentalmente literário. 
Dr. house

Da série: Minha casa sonhática

minha casa meus vizinhos

Dizer que escrever contos é mais ‘difícil’ é paternalismo

 Autor: sergiorodrigues


Sylvester Stallone e Dolph Lundgren em 'Rocky 4'
Sylvester Stallone e Dolph Lundgren em 'Rocky 4

Você já encontrou a afirmação por aí: "É mais difícil escrever um conto do que um romance". É possível até que a tenha encontrado tantas vezes que já a considere uma daquelas profundas verdades contraintuitivas da existência. Algo como o equivalente literário de "o café da manhã é a principal refeição do dia", falso axioma que também costuma ser repetido sem que se leve em conta a motivação do publicitário que primeiro o imprimiu numa caixa de sucrilhos. Não, a ideia não é sugerir que o conto está para o romance como o café da manhã está para o almoço ou jantar. A questão é mais complexa, como veremos.
Mas vamos começar pela motivação. Talvez a primeira pessoa que afirmou aquilo, seja quem for, tivesse um intuito nobre: combater a percepção popular, leiga e equivocada de que escrever uma história curta é moleza. Machado de Assis, magistral tanto no romance quanto no conto, jamais entrou, que eu saiba, nesse joguinho comparativo furado, mas também se sentiu obrigado a defender a narrativa breve da pecha de facinha: "É gênero difícil a despeito de sua aparente facilidade, e creio que essa mesma aparência lhe faz mal, afastando-se dele os escritores e não lhe dando, penso eu, o público toda a atenção de que ele é muitas vezes credor".
Como apreciador de ambas as extensões narrativas, com dois volumes de contos e três romances publicados, sempre me mantive ao largo da discussão sobre qual delas é mais "difícil" para o escritor. Achava uma perda de tempo. Se trato agora do tema é porque de repente me dei conta do quanto de paternalismo condescendente existe na exaltação da dificuldade suprema do conto. De olhos rútilos, o paladino do Conto Dificílimo, que muitas vezes é um romancista de algum sucesso, quer dizer o seguinte:
Vivemos, mais do que nunca, a era do romance? A narrativa curta é desvalorizada pelo mercado editorial? Vende pouco? Costuma ficar ausente dos grandes prêmios literários, com o Nobel da grande contista canadense Alice Munro funcionando mais como exceção à regra do que como tendência? Ah, tudo bem! Consolem-se, contistas desprezados, porque vocês estão acima de tudo isso. Vocês são os cultores da mais árdua e rarefeita forma de arte que existe nas letras – ou pelo menos na prosa. Na verdade, vocês são os poetas da prosa, e seu dever, como o dos poetas, é continuar cultivando seu canteiro de plantas raras e valiosíssimas mesmo que na feira ninguém queira comprá-las. Mesmo que morram de fome. É o que chamam de sacerdócio. Enquanto isso, com licença, estou indo depositar o cheque do adiantamento que a editora mandou…
Sem a mistificação e o pitaco de orelhada, o que resta da disputa entre conto e romance é uma questão tão absurda quanto esta: "O que é mais difícil, marcar mais de mil gols como Pelé ou correr como Usain Bolt?".
Excluído o delírio, vamos descobrir que a diferença óbvia entre um conto e um romance – a extensão – determina muitas outras, tanto no plano da estrutura quanto no da linguagem, que apresentam para o escritor desafios específicos. É boa e famosa a tirada pugilística de Julio Cortazar ao afirmar que o conto vence o leitor por nocaute e o romance, por pontos. Embora deixe de fora aquele tipo de conto em que o leitor não vai à lona, mas fica grogue por dias a fio, e o romance que, depois de acumular pontos ao longo de trezentas páginas, guarda para o último capítulo um cruzado mortal no queixo, a frase do escritor argentino aponta para algo verdadeiro: a facilidade maior que se possa ter para uma coisa ou outra depende do tipo de talento, do estilo, do temperamento, da inclinação de cada boxeador.
O escritor canadense Greg Hollingshead se estendeu um pouco mais sobre essas diferenças, num interessante ensaio de 1999:
A diferença primária entre o conto e o romance não é a extensão, mas a carga de sentido mais ampla e conceitual que a narrativa longa precisa levar nas costas de página a página, de cena a cena. Não é uma escolha mais frouxa de palavras que torna o romance difuso, é o percurso de longa distância do sentido. Num bom conto o sentido não é tão abstrato, tão portátil, quanto precisa ser no romance. Encontra-se incorporado de forma mais compacta e inefável nos detalhes formais do texto. Uma cena num conto – e pode ser que haja apenas uma – opera com força centrípeta de concentração. Uma cena num romance gasta boa parte de sua energia olhando não apenas para a frente e para trás no texto, mas também para os lados, para fora do texto, em direção ao mundo material, àquele conjunto de pressupostos considerados como vida comum. Essa energia é centrífuga, aberta, e não busca se enovelar no próprio eixo. (…) Enquanto o conto, como a poesia, quer concentrar o tempo, o romance, parecendo-se mais com a História e sendo a mais secular das formas, quer sobreviver a ele.
Aí vai então uma tentativa de resumir o embate: se no conto cada palavra tem um peso específico maior, o que o aproxima do discurso poético e exige do autor um trabalho mais meticuloso de ourivesaria, é o romance, inclusive por ser um gênero mais tolerante a eventuais barrigas, sobras, sujeiras, que reproduz melhor com sua estrutura abrangente a polifonia e a bagunça moral da vida.
No fim das contas, já que insistem nessa onda comparativa, acho importante dizer que difícil mesmo é escrever qualquer coisa que preste, seja de que tamanho for, mas escrever um conto ruim é sem dúvida muito mais fácil – leva menos tempo – do que escrever um romance ruim. (Mas quem quer escrever algo ruim?) Também me parece possível escrever um bom conto, digamos, no susto, acidentalmente, porque um efeito literário poderoso pode ser encontrado por acaso, e basta um para fazer uma narrativa curta – a parte chata é que a sorte pura é rara e, tendo ocorrido uma vez, dificilmente baterá de novo na mesma porta. Já escrever por acidente um bom romance, com sua sinfonia de efeitos encadeados, é praticamente impossível.
Do ponto de vista do escritor indeciso entre os dois campos, acho que a grande sabedoria está no humor com que o americano T.C. Boyle respondeu a uma enquete sobre o tema proposta pelo Huffington Post em 2010:
O prazer do conto é que você pode reagir ao momento, a eventos do momento. A desvantagem é que, depois que termina um conto, você precisa escrever outro, mesmo que se veja destituído de talento ou ideias. O prazer do romance é que você sabe o que vai fazer amanhã. O horror do romance, contudo, é que você sabe o que vai fazer amanhã.