sábado, 16 de agosto de 2014
Escrever e coçar é só começar?
Autor: sergiorodrigues
Durante muito tempo, mantive neste blog uma seção chamada Começos Inesquecíveis, dedicada a aberturas especialmente brilhantes – sobretudo de romances, embora um ou outro conto tenha comparecido também. (Um desses começos, aliás, faz coro com as palavras iniciais deste post: "Durante muito tempo, costumava deitar-me cedo", escreveu Marcel Proust na primeira linha de "No caminho de Swann".)
A seção não tinha dia fixo, mas era atualizada com grande frequência por exigência dos próprios leitores, que a transformaram na mais visitada do Todoprosa. Nunca parei para contar, mas imagino que no fim das contas o número de começos contemplados se aproximasse da casa dos três dígitos. A popularidade dos grandes começos da literatura é um tema curioso. Parece existir em nós, leitores, e principalmente nos leitores que também escrevem ou gostariam de escrever, uma crença irracional no poder mágico das palavras de abertura de um livro. Como se elas já contivessem em miniatura tudo o que importa saber, um certo espírito geral da obra. Como se, acertando no começo, o resto viesse naturalmente ao autor. A realidade é mais complicada do que isso. Um bom início tem a responsabilidade de introduzir um certo tom, uma certa voz, e o desafio nada banal de fazer o leitor seguir em frente. Com perdão da obviedade, porém, vale lembrar que, se uma narrativa deve começar bem, não é menos importante que continue bem e termine bem. Continuar, sobretudo, é um verbo que geralmente parece não ter fim quando se escreve um romance – e às vezes não tem mesmo. O que talvez seja outra razão para o sucesso de público dos começos: escrever uma boa abertura parece estar ao alcance de todos, mesmo quando ela não conduz a lugar algum. (Com esta ideia, a de uma sucessão de começos, Italo Calvino escreveu o fabuloso "Se um viajante numa noite de inverno".) A intensa participação dos leitores me levou a instituir, em agosto e setembro de 2009, um concurso para escolher pelo voto direto o melhor entre todos os Começos Inesquecíveis que tinham aparecido no blog até então. A pré-seleção foi minha: montei três grupos de oito, e os dois mais votados de cada um foram para a final. (Os vinte e quatro concorrentes podem ser lidos aqui, aqui e aqui.) Centenas de votos depois, a lista dos finalistas – que não incluía alguns dos meus favoritos, paciência – era a seguinte: Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta. (Vladimir Nabokov, "Lolita".) Hoje, mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: "Sua mãe faleceu. Enterro amanhã. Sentidos pêsames". Isso não esclarece nada. Talvez tenha sido ontem. (Albert Camus, "O estrangeiro".) Todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira. (Leon Tolstoi, "Ana Karenina".) Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade. (Guimarães Rosa, "Grande sertão: veredas".) Chamem-me Ismael. Alguns anos atrás – não importa precisamente quantos – tendo pouco ou nenhum dinheiro na bolsa, e nada que me interessasse particularmente em terra firme, decidi navegar um pouco por aí e ver a parte aquosa do mundo. É um jeito que tenho de espantar a melancolia e regular a circulação do sangue. (Herman Melville, "Moby Dick".) Sou um homem doente… Sou mau. Nada tenho de simpático. Julgo estar doente do fígado, embora não o perceba nem saiba ao certo onde reside meu mal. (Fiodor Dostoievski, "Memórias do subterrâneo".) O campeão foi Tolstoi, seguido por Nabokov e Camus. |
Vídeo histórico, para fanáticos pelo espaço: compilação de TODOS os lançamentos de ônibus espaciais da NASA ao longo de 30 anos
Autor: ricardosetti
Um usuário do YouTube chamado lunarmodule5 deu um presente para os aficionados pelo espaço: um vídeo de 1h44 que mostra todos os 135 lançamentos de ônibus espaciais da NASA, a agência espacial americana. Em operação entre 1981 e 2011, o programa de ônibus espaciais transportou 355 pessoas — astronautas propriamente ditos, cientistas, engenheiros, médicos e biólogos, entre outros especialistas. Após 30 anos, o último veículo da NASA, o Atlantis, foi aposentado e colocado em exposição no museu do Centro Espacial Kennedy, na Flórida. Para os amantes da ciência, é um prato cheio. Confiram: www.youtube.com/watch?v=Em-Krwbn25A |
Pintura hiperrealista: o 'absurdo' em tinta, pincel e tela
O hiperrealismo é uma técnica de pintura que procura fazer parecer real uma ilusão, ou, nas palavras do hiperrealista Simon Hennessey: "Minhas pinturas são vistas como um reflexo da realidade, mas na verdade a obra de arte transcende a sua própria abstração da realidade. Com o uso de uma câmera como uma fonte visual para a pintura, eu sou capaz de criar falsas ilusões que são julgados como a nossa própria realidade. Confira alguns trabalhos deste e outros hiperrealistas: Simon Hennessey O jovem inglês Simon Hennessey vem expondo seus closes mais que reais, sua especialidade, desde 2003. - - Hilo Chen - - - Istvan Nyari O artista de Budapeste, na Hungria, ultrapassa o conceito de hiperrealismo, trazendo para a realidade a fantasia e o surreal. - - Linnea Strid A artista sueca busca inspiração na água como elemento e nas emoções humanas. - Diego Gravinese O argentino Diego traz à vida temas criativos, sem utilizar photosohp. - - - Roberto Bernardi Nascido em Todi, na Itália, Roberto Bernardi. - - - Richard Estes Americano de Ilinois, Richard Estes é considerado um dos fundadores do movimento hiperrealista, iniciando nos 1960. - - - Doug Bloodworth Obra do norte-americano Doug Bloodworth. - - - Pedro Campos Apesar do nome, Pedro Campos não é brasileiro, é espanhol, de Madrid, e mora em Nova Iorque. - - Leia também: A nudez feminina, a intimidade, a água — na pintura hiperrealista da americana Alyssa Monks Acredite se quiser: NADA do que você vai ver agora são fotos O que faz a foto de uma mulher nua sobre um pedestal, num blog de respeito como este? Nudez, sexo, ousadia nos quadros hiperrealistas do americano Terry Rodgers Ela própria — nua –, solidão, doces e frutas: a pintura hiperrealista de Lee Price São fotografias em preto e branco? Não, são pinturas. Confira Parece real, muuuuuito real — mas são apenas esculturas (do site de Ricardo Setti/Veja) |
Criativos truques surrealistas do fotógrafo espanhol Chema Madoz
"Sabemos que nos encontramos em um mundo de objetos (ainda) impossíveis: puros demais para suportar a suja realidade". Assim, com uma necessária perspectiva filosófica, é apresentada a obra do fotógrafo espanhol Chema Madoz em seu site oficial. De fato, basta uma rápida olhada em sua vasta obra para se entender a que se refere a frase. Com 15 livros publicados e uma carreira de três décadas, este madrileno nascido em 1958 gosta de "perverter" os objetos e recombiná-los, de forma a emular uma imagem identificável. A técnica, utilizada com enorme criatividade e aliada à estética preto e branco, dá ao trabalho um tom surrealista moderno, sempre instigante e surpreendente. Atualmente, Chema Madoz está expondo no prestigiado festival Les Rencontres, em Arles, França. |
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