sábado, 28 de janeiro de 2017

Obra em construção abandonada - TUDO CULTURAL

Obra em construção abandonada - TUDO CULTURAL

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

a new fragmento de cap, do romance de MiguelFernandez6


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MiguelFernandez6 just posted a new fragmento de cap, do romance: Sobre Moscas e Aranhas de guerra - o punhal na mão do escravo está pronto para uso.

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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

do meu romance "Sobre Moscas e aranhas de guerra"

Booktrailler de meu romance: A Cena Muda <(para assistir no Youtube, clique no título)

Cenário extraordinário! Onde? Quem tirou? quem souber, mande!


Leones en el Parque Nacional de Serengeti de Tanzania

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

‘O fim está próximo!’, disse o profeta antes de morrer


Autor: sergiorodrigues 
homer profeta do apocalipseLeio em minha tela, no espaço de alguns dias, uma entrevista de Philip Roth em que o escritor americano repete sua ladainha de que a cultura literária chegará ao fim em poucos anos, assassinada pela cultura digital e pelo fascínio que as novas gerações sentem por engenhocas eletrônicas; um artigo da Salon.com em que os escritores Josh Weil e Mike Harvkey refletem com humor sobre a diferença entre o tratamento de astros do rock que os escritores da geração de Roth recebiam de editores e leitores ao viajarem para promover seus lançamentos e o esqueminha pobre e familiar que impera hoje; a notícia de que o Facebook vai combater a proliferação de chamadas caça-cliques, que substituem a apresentação minimamente honesta do assunto por uma provocação marota que sempre promete mais do que entrega; e uma infinidade de certezas antagônicas e inabaláveis expostas com agressividade nas redes sociais sobre todos os assuntos do mundo, em especial a campanha eleitoral brasileira. Em resumo: rotina, nada além de rotina.
Como a dispersão da internet não é brincadeira, leio muitas outras coisas em minha tela nesses mesmos dias. Inclusive a notícia absurda de que a criadora da personagem infantil Hello Kitty negou que ela seja, como parece, uma gata (afinal, anda ereta e não de quatro, o que necessariamente faz dela uma menininha!), ignorando assim os bigodes fartos da figura, a longa tradição de bichos antropomórficos da cultura pop e o princípio saudável de que autores, azar o deles, não detêm a palavra final sobre o modo como suas criaturas são compreendidas. O fato é que a ridícula polêmica da Hello Kitty não ficou comigo por mais de cinco minutos, ao contrário dos itens listados no parágrafo acima, que só à primeira vista dão razão, em sua miscelânea errática, à visão sombria de Philip Roth sobre o fim da cultura literária e, junto com ela, da exigência de que os pensamentos se encadeiem de forma lógica e persistente para chegar a algum lugar (cultura escrita), em vez de saírem em revoada para todos os lados ao mesmo tempo (cultura digital).
O desenho que a superposição dessas leituras zapeantes riscou em minha cabeça é um claro-escuro. A cultura literária como Philip Roth a conheceu está sem dúvida com os dias contados, mas ele logo estará morto, e o mundo continuará a ler. Algo parecido pode ser dito do desconforto crescente que sinto diante da enxurrada de opiniões, provocações, dogmas, preconceitos e demonstrações de vileza canalizados todos os dias pelas redes sociais, uma espécie de esgoto a céu aberto que é a marca mais forte da cultura de nosso tempo e que, sendo assim, não vai passar tão cedo – mas eu vou, e o mundo continuará a produzir seus rios de chorume e também a desafiar os que insistem em recortar sentidos na cacofonia.
Sempre que encontro uma visão apocalíptica como a de Roth e sinto a tentação (quem, já tendo passado dos quarenta, não sente?) de lhe dar razão, lembro-me de uma frase escrita em fins do século XVII pelo francês Adrien Baillet, biógrafo de René Descartes. Escandalizado com a explosão da indústria livreira e com o excesso de pessoas dispostas a consumir os volumes que ela cuspia no mercado em ritmo crescente, obedecendo a uma lógica puramente comercial, sem preocupação com a qualidade de conteúdo e forma, o sensato Baillet deu uma de profeta maluco: "Temos razões para temer que a Multidão de Livros que aumenta a cada dia (…) faça cair os séculos seguintes num estado tão lamentável quanto aquele em que a barbárie lançou os anteriores a partir da decadência do Império Romano".
Sensacional, não? Troquem-se, na equivocadíssima frase do erudito francês, os livros pela internet: Philip Roth assinaria embaixo. Agora discrimine-se, dentro da internet, o redismo social – eu mesmo ficaria tentado a assinar. No fim das contas, o que mexe com Baillet, com Roth e comigo é a vontade de, no meio da gritaria do mundo, gritar mais alto para que nos ouçam. Nada muito diferente da tentação da chamada caça-clique, que busca a atenção momentânea do leitor, mesmo que para isso tenha que distorcer ou simplificar demais um quadro complexo. Nada muito diferente também do espírito das certezas de aço que, neste tempo riquíssimo em incertezas, são esgrimidas 24 horas por dia nas redes sociais por quem teme acima de tudo o silêncio e a ponderação. É claro que reconhecer essa sinuca de bico não obriga ninguém a aderir, bobo-alegremente, ao novo pelo novo, mas apregoar o fim de qualquer mundo será sempre a projeção patética da finitude do próprio arauto do apocalipse.

Morte por Facebook


Autor: Mr X 
Até onde você iria para obter "curtidas" no Facebook? 

Um caso bastante curioso e até horrendo tem chamado a atenção da mídia americana. Ou melhor, na verdade não tem chamado tanta atenção assim, tanto que fiquei sabendo só recentemente por acaso. Mas é uma história que deveria chamar a atenção, pois nos faria questionar vários aspectos da nossa vida moderna, e em especial o uso das tais mídias sociais. 

Em resumo: uma moça, mãe solteira de 26 anos, postava as fotos de seu pequeno filho doente no Facebook e em seu blog pessoal, ganhando a simpatia e as preces de milhares de pessoas. Era foto atrás de foto, até quando o filho já estava em coma. A criança finalmente morreu aos cinco anos de idade.

Pouco depois, descobriram que a criança, na verdade, não tinha doença nenhuma: era a mãe, ex-enfermeira, quem estava lentamente envenenando a criança com doses maciças de sódio, assimilado por via intra-venosa.

O que emerge então é o retrato de uma mulher desequilibrada e mentirosa compulsiva, disposta a tudo para chamar a atenção. De acordo com a reportagem, ela sofreria de "síndrome de Munchausen",  pessoas que machucam a si mesmos ou a outros com o intuito de despertar pena ou simpatia.

Tudo começou antes do nascimento de seu filho: a moça publicava suas fotos com uma criança que dizia ser seu próprio filho. Mentira: era apenas o filho de uma vizinha, de quem ela às vezes cuidava.

Depois, a moça engravidou. Publicou um post dizendo que o pai da criança havia morrido tragicamente. Nova mentira: o pai estava vivo, e ela mentira também a ele, dizendo que a criança não era filho dele, mais de um outro.

O filho, de fato, parece ter sido gerado apenas como um apetrecho para que a mãe pudesse obter atenção. Desde o nascimento até os cinco anos de idade, o pobre Garnett era constantemente fotografado e mostrado no Twitter, Facebook e Blogger, dando à sua mãe a atenção que ela tanto queria.

A exposição à mídia social tornou-se um vício. Depois de um tempo, só mostrar fotos do filho brincando não foi mais suficiente. As curtidas começaram a escassear, e a mãe tomou uma decisão radical: fazer passar o filho por doente. Isso certamente garantiria maior atenção. E, de fato, foi o que aconteceu por um tempo. Porém, o comportamento obsessivo da mãe começou a gerar suspeitas. Nem no hospital, com o filho à beira da morte, ela parava de tirar fotos da criança.

Descobriu-se depois em sua casa uma bolsa com água e sal, comprovando que a mãe estaria envenenando a criança com sal e água através de um tubo.

O mais monstruoso: no hospital, em seus últimos dias, o filho reclamava de constante sede, e a mãe dava a ele água de uma garrafinha que ela mesma trouxera. Suspeita-se que a água também continha sódio.

Enfim, se for realmente verdade, trata-se do caso de uma doente mental que não nos deve levar a conclusões definitivas sobre as mídias sociais. Porém, é fato que a dependência excessiva a essa forma de exposição pública está causando muitos transtornos. Eu jamais gostei dessas pessoas que postam cada instante da vida de seus filhos online. Para quê? A quem interessa isso? E será que essa exposição toda é boa para a criança?

Os pais que colocam vídeos "engraçadinhos" de seus filhos no Youtube também, me parece, deveriam sofrer recriminação. Um filho não é um gato para ser exibido assim publicamente para que os outros façam piada.

A tecnologia moderna tem suas vantagens, é verdade. Mas também tem seu lado escuro. Onde será que isto vai nos levar? 

P. S. Naturalmente, não dá para colocar a culpa de tudo nas mídias sociais. Embora estas estimulem o mau comportamento de algumas pessoas doentes, é possível que esta desvairada tivesse feito mal a seu filho com ou sem mídia social. Eis o caso de Marybeth Tinning, que matou não um, não dois, mas nove de seus filhos biológicos ao longo dos anos, e sempre com a desculpa de doenças ou acidentes. Afinal, quem iria suspeitar de uma mãe? De todas as formas de assassinato, a de uma mãe que mata seus próprios filhos pequenos nos parece a mais anti-natural, a que vai mais contra os instintos mais básicos. Mas é, na verdade, relativamente comum.



Recessão’, a palavra, surgiu para acalmar. Mas não deu certo — inclusive aqui, no Brasil

 'Recessão', a palavra, surgiu para acalmar. Mas não deu certo — inclusive aqui, no Brasil

(Foto: VEJA.com)
A palavra "recessão" entrou para o vocabulário econômico com a crise de 1929 (Foto: VEJA.com)
Texto do excelente jornalista e escritor Sérgio Rodrigues publicado em VEJA.com
3SergioRodriguesDivulgacaoMariaMendesQuando uma palavra entra em cena com fôlego para ser eleita não apenas a mais marcante da semana, mas quem sabe a do ano, todas as outras se calam. O Brasil está em recessão, anunciou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Isso quer dizer que foi registrado um semestre inteiro de resultados negativos na variação do Produto Interno Bruto, o que caracteriza uma definição de manual para recessão – termo que o português foi buscar no latim recessionis, "ação de se afastar, recuo, retrocesso".
Só no século XX a palavra ganhou emprego no vocabulário econômico. Significativamente, isso se deu pela primeira vez em inglês, na esteira da quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929.
O lexicógrafo britânico John Ayto, da equipe do dicionário Oxford, o mais importante da língua inglesa, afirma que a acepção econômica de "recessão" contém "mais que um traço de eufemismo". Segundo essa tese, o termo, com seu jeitão frio e técnico, surgiu para conter o alarmismo que palavras mais cruas, como "crise", pudessem provocar.
Economistas gostam de eufemismos – "crescimento negativo" é o maior clássico do gênero –, mas a recessão iniciada em 1929 acabou se mostrando tão grande e desvastadora que desmoralizou qualquer possibilidade de atenuamento, transbordando de seu próprio sentido para desaguar num termo ainda mais assustador: "depressão".
Se a fronteira entre esses dois estados econômicos doentios não é muito clara, pois economia nunca foi ciência exata, vale lembrar uma boa tirada do ator e presidente americano Ronald Reagan:
– Recessão é quando seu vizinho perde o emprego. Depressão é quando você perde o seu.
De uma forma ou de outra, o ex-eufemismo não demorou a perder inteiramente o poder de acalmar alguém, como o noticiário brasileiro demonstra mais uma vez.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

o paso (errado) do elefantinho



Em defesa da trama: Vonnegut e uma freira em apuros


Autor: sergiorodrigues


kurt-vonnegutNa entrevista que Kurt Vonnegut (1922-2007) deu à "Paris Review", lida há muitos anos, há um trecho que nunca me saiu da cabeça. Nele o escritor americano, autor de "Matadouro 5", faz com a verve que lhe era característica uma defesa da boa e velha contação de histórias:
Garanto a você que nenhum esquema narrativo moderno, nem mesmo a ausência de enredo, dará ao leitor satisfação genuína, a menos que uma daquelas tramas à moda antiga seja contrabandeada para dentro da história. Não defendo a trama como representação acurada da vida, mas como forma de manter o leitor lendo. Quando eu dava aulas de criação literária, costumava recomendar aos estudantes que fizessem seus personagens desejar alguma coisa imediatamente – mesmo que apenas um copo d'água. Personagens paralisados pela ausência de sentido da vida moderna ainda precisam beber água de vez em quando. Um dos meus alunos escreveu um conto sobre uma freira que ficou com um pedaço de fio dental preso entre os molares inferiores e não conseguia se livrar dele o dia inteiro. Achei isso maravilhoso. A história lidava com questões muito mais importantes do que fios dentais, mas o que mantinha os leitores presos era a ansiedade de saber quando o fio dental seria finalmente removido. Era impossível ler aquele conto sem sentir um incômodo entre os dentes. (…) Se você exclui a trama, se elimina o desejo de alguém por alguma coisa, você exclui o leitor, o que é uma coisa muito feia de fazer.
Não sei se a última frase, com sua generalização implacável, estará correta: há leitores de todo tipo e alguns deles devem sentir prazer com histórias (vamos manter a palavra, à falta de outra) absolutamente destituídas de conflito, desejo ou mesmo personagens, blocos de arte conceitual em que tudo o que se passa na página ocorre num plano meramente formal. Excluir essa possibilidade também seria um erro: se a literatura for alguma coisa, será o reino da liberdade autoral absoluta.
O que acredito que Vonnegut quis dizer é que, ao eliminar o personagem e seu desejo por algo que ele não tem – condições básicas para se estabelecer com o leitor um pacto narrativo de suspense e, finalmente, (in)satisfação –, a literatura exclusivamente conceitual deixa ao relento uma imensa maioria de leitores. Isso me parece inquestionável e não vale apenas para o realismo: nada impede que, em vez de um copo d'água, o personagem deseje com ardor e por fim consiga, sei lá, cavalgar um unicórnio ou se transportar para dentro de um videogame.
Uma rápida consulta às listas dos livros mais vendidos, quase todos feitos de trama pura ou quase isso, basta para comprovar o que foi dito acima. O que complica a questão é que essa preferência popular tão categórica pela contação de histórias leva muita gente – sobretudo críticos, mas também escritores – a menosprezar o enredo, o entrecho, a intriga, o mistério, a surpresa como ferramentas menores da literatura, recursos identificados com o lado ingênuo ou menos sério da arte. Algo que deve ser simplesmente eliminado ou, no mínimo, não sendo merecedor de grande atenção, resolvido rápida e porcamente a fim de deixar o terreno livre para o que realmente importa – seja lá o que isso for. Não duvido que em tal erro de julgamento resida parte da explicação para que as listas de mais vendidos do início deste parágrafo estejam há anos tão melancolicamente despovoadas de brasileiros.
A ideia de "contrabando" sugerida por Vonnegut me parece uma estratégia artística mais inteligente. Aquela freira às voltas com seu fio dental torturante pode ter vivido ao longo do conto, que não nos é dado conhecer, todo tipo de conflito casca-grossa – teológico, sexual, linguístico, cognitivo, o diabo –, mas o leitor se veria menos disposto a acompanhá-la em tais profundezas se não estivesse preso à história pelo fio prosaico que ela traz entre os dentes. Estamos diante de um inequívoco MacGuffin.
Termo mais conhecido pela turma do cinema, MacGuffin é uma palavra popularizada por Alfred Hitchcock para designar aquele elemento da história que impulsiona a ação dos personagens e que, no fim das contas, descobrimos não ter tanta importância assim, pois o verdadeiro foco da narrativa era outro. O que vale para o cinema e a TV vale também para a literatura – ou para qualquer forma de contar histórias. Não por acaso, um MacGuffin clássico é a estatueta que dá título ao romance "O falcão maltês", de Dashiell Hammett, e também ao filme de John Huston nele baseado (batizado de "Relíquia macabra" no Brasil). Descobrimos perto do fim que a preciosidade em nome da qual tanto sangue foi derramado é falsa, mas isso já não tem importância.
Uma boa frase de autoria duvidosa, mas popularizada por John Lennon na canção Beautiful boy, sustenta que "vida é aquilo que acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos". Pois história – ou pelo menos um tipo bastante interessante de história – é aquilo que acontece enquanto estamos ocupados imaginando o que será feito do MacGuffin. Nesse meio tempo pode acontecer nas páginas o que o autor quiser ou puder fazer acontecer, inclusive a arte literária mais rigorosa e exigente. Com a vantagem de que, nesse caso, o leitor vem junto.

PESSOA 2


millor e a sabedoria



Cortázar, na direção do roman­tismo exagerado?

Autor: sergiorodrigues


cortazar e seu gatoDeixei passar em branco de propósito o centenário de Julio Cortázar, dia 26 de agosto. Se tenho a esquisitice (admito que seja) de não gostar muito de efemérides, que me parecem pretextos meio preguiçosos para falar da obra de qualquer artista, no caso do escritor argentino um motivo especial me levou a não pular no bonde da comemoração coletiva. Cortázar foi importante demais na minha história de leitor e, por extensão, de escritor. Certo sentimento de posse e quem sabe até algum ciúme podem ter contribuído para motivar o silêncio, mas nem tudo é egoísmo.
Se era para falar dele, que fosse algo significativo e não apenas uma fieira de dados biográficos temperados com adjetivos jornalisticamente corretos. Algo que me reconectasse com o prazer mágico que sua companhia me proporcionou, livro após livro, naquele início dos anos 1980 em que por algum tempo todos os demais escritores me pareceram pedestres e sem graça. Algo que explicasse por fim o fato de, passado o sortilégio, eu jamais ter voltado a ler o homem. Tarefa difícil, como se vê, principalmente em meio à barulheira do mundo. Mas agora o mundo voltou a se calar e eu não tenho mais desculpa.
Cortázar foi o escritor mais marcante da minha primeira juventude. Eu queria ser Cortázar quando crescesse – e até que cresci bastante, embora nem perto do suficiente para alcançar um sujeito que, por sofrer de um distúrbio hormonal chamado acromegalia, nunca parou de espichar, morrendo aos 69 anos com mais de dois metros de altura. À parte as qualidades de sua prosa precisa, musical, evocativa, e a habilidade de abrir no cotidiano as mais engenhosas passagens secretas para o misterioso e o sublime, o encanto que Cortázar exercia sobre mim vinha da impressão de que ele não conhecia fronteira entre Arte & Vida.
Como nenhum outro escritor de seu tempo, aquele me parecia um cara íntegro, inconsútil – palavra que, aliás, só aprendi muitos anos depois. Ora, aos vinte anos de idade não existe nada mais sedutor para um aspirante às letras do que a ilusão de que viver e escrever podem ser um único ato. Não tanto viver de escrever, embora a ideia de ganhar dinheiro com livros nunca seja desprezível, mas viver através do escrever. Cortázar não era rico, todo mundo sabia. Vivia mais ou menos modestamente em Paris – a cidade onde eu e boa parte de meus colegas na faculdade de comunicação, leitores de Barthes e Deleuze, gostaríamos de morar naquele tempo. Mas que ninguém se enganasse: era evidentemente um príncipe.
No conto O outro céu, que fecha "Todos os fogos o fogo", de 1964, o narrador vaga entre Buenos Aires e Paris, entre a chatice da vida de corretor da Bolsa ao lado da noiva Irma e as aventuras com a prostituta Josiane no mundo perigoso da Galerie Vivienne. Como ele faz isso? Como se fosse simples, "apenas empurrando com o ombro qualquer canto de ar". Os caminhos que estavam abertos ao personagem entre vida (corretor da Bolsa) e arte (boêmio e aventureiro) eram os mesmos que franqueavam o trânsito do autor entre o provincianismo sul-americano e o cosmopolitismo parisiense. Como ele fazia aquilo?
Com os mais finos recursos literários, mas a questão mais excitante era outra: em nome de quê? Não era preciso ser muito arguto para perceber que aquela Josiane de O outro céu era mais uma das mulheres misteriosas, elusivas e irresistíveis da galeria cortazariana, em que brilha acima de todas a Maga de "O jogo da amarelinha". Como Jorge Luis Borges, o outro gigante argentino que conseguiu dar o triplo salto mortal do provincianismo ao cosmopolitismo, Cortázar tem um ponto de vista profundamente masculino; em contraste com Borges, que ignora quase por completo as mulheres (ou mesmo qualquer ideia de sexo), dá a impressão de viver para elas.
Em sua famosa entrevista à "Paris Review", declarou-se um romântico: "Na verdade, tenho de tomar muito cuidado quando escrevo, porque muitas vezes eu poderia me deixar cair num… Não diria mau gosto, talvez não, mas um pouquinho na direção do roman­tismo exagerado". Não à toa, Cortázar é provavelmente o escritor mais indicado de toda a história para embalar casos de amor literários (Arte & Vida se misturando de novo, pois é), não sendo poucos, dizem, os namorados que se tratam de "cronópios" quando ninguém está olhando.
Folheando novamente o magnífico "Histórias de cronópios e de famas", de 1962, reencontro um continho que é uma espécie de profissão de fé a amarrar tudo isso. Chama-se Perda e recuperação do cabelo e recomenda um método insólito de "lutar contra o pragmatismo e a horrível tendência à consecução de fins úteis": arrancar um fio de cabelo, dar-lhe cuidadosamente um nó bem no meio, deixá-lo cair pelo ralo da pia e… dedicar as horas ou dias ou meses ou anos seguintes a recuperá-lo. Tudo vai depender do grau de dificuldade que o acaso apresentar, uma vez que o cabelo pode estar no sifão embaixo da pia, no encanamento do prédio, na imensa rede de esgoto da cidade – ou mesmo além.
A gratuidade fundamental do objetivo, como a do gesto estético, não torna menos séria, angustiada e apaixonante a busca pelo fio de cabelo com o nó no meio – apenas lhe adiciona uma dimensão vertiginosa ou onírica. Escrever para Cortázer é isso. Ele representa a literatura em seu estado mais desvairadamente lúdico. Acho que, no fim das contas, parei de ler suas histórias porque precisava tocar a vida, perseguir pragmaticamente alguns fins úteis, e não sou tão bom assim com passagens secretas que se abrem "apenas empurrando com o ombro qualquer canto de ar". No meu caso, é mais trabalhoso do que isso. Mas que elas existem, existem.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Dos melhores cartoons do ano "cérebros"

Zumbis



Leia a new story from MiguelFernandez6




MiguelFernandez6 just posted a new story titled O GATO DO VIZINHO 7 - Ouvi esse nome se referindo a mim ao final aflito de um dia confuso...



terça-feira, 14 de outubro de 2014

pessoa e o pôr do sol


confucio e o caminho

aqui nao se fuma Read a new story from MiguelFernandez6




MiguelFernandez6 just posted a new story titled Aqui não se fuma - Desfalecida de tédio e cansada de angústia maternal,

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DEEM OVOS AO POVO


DEEM OVOS AO POVO

Maria Lucia Victor Barbosa
10/10/2014

As espirais da vida, em que pese repetirem através da história a essência da humanidade e seus comportamentos, muitas vezes desnorteiam e apontam para desfechos inesperados. É como se atirássemos em algo e acertássemos em outro. E isso acontece porque, como ensinou Nicolau Maquiavel, temos a tendência de imaginar as coisas como queremos que  sejam e não como elas são. Por exemplo, não é incomum ocorrer frustrações em negócios provavelmente promissores, em previsões de economistas e videntes que dificilmente dão certo, em expectativas com relação a pessoas que pareciam uma coisa e reagiram de outro modo.
Evidentemente, as espirais ou constantes que vem e vão através dos fatos podem ser manipuladas, forjadas para apontar artificialmente em certas direções e, assim, manejar aspirações e sentimentos. Nesse aspecto se distingue o poder político, especialmente o governamental, que é capaz de forma eficiente de utilizar técnicas de manipulação e táticas de convencimento da opinião publica.
Campanhas são momentos privilegiados em que as técnicas e táticas se evidenciam com vigor. O marketing, então, se torna preciosa arte de construir imagens que agradem aos eleitores e marqueteiros ensinam candidatos a falar, a se expressar corporalmente, a se comportar e, sobretudo, a representar no palco iluminado da política.
No caso do PT, além de se orientar pelo marqueteiro funciona com seu próprio modo de ser e sempre utilizou as seguintes táticas: a mentira, a intimidação, a repetição como mantras de certas ideias como aquelas que denigrem o oponente, a atribuição aos outros dos próprios erros, o incitamento ao ódio entre ricos e pobres e entre negros e brancos, o posicionamento petista como único capaz de proteger e salvar os pobres e oprimidos. Enfim, petistas são maniqueístas: nós somos o bons, os demais são os ruins.
E tem as pesquisas usadas como táticas de campanha, que também podem induzir e confundir eleitores. Nesta eleição ficou evidente no primeiro turno que os grandes institutos erraram feio e muito. Naturalmente, eles se defendem, mas tudo indica que se confirmaram as palavras do ministro e estadista inglês de origem judaica, Disraeli: “a estatística é uma forma nobre de mentira”.
Façamos, então, um pequeno cálculo com relação ao primeiro turno para ver se o inglês tinha razão:
A última pesquisa IBOPE/TV Globo e Estadão de 04/10 mostrava o seguinte resultado:
Dilma 40%
Aécio 24%
Marina 21%
A pesquisa Datafolha/Jornal Folha de S. Paulo e TV Globo na mesma data apontava para:
Dilma, 40%
Aécio 24%
Marina 22%
Pois bem, 142.822.046 foi o total de votantes. 104.023.802 foram os votos válidos, ou seja, 38.798.244 brasileiros votaram em branco, anularam o voto ou se abstiveram de votar o que significa 27,17% dos votos válidos.
De acordo com os votos válidos, 104.023.802, tivemos a seguinte situação pelo TSE:
Dilma teve 43.267.668 votos, que representam 41,59% dos votos válidos.
Aécio teve 34.897.211 votos que representam 33,55% dos votos válidos.
Marina teve 22.176.619 votos que representam 21,32% dos votos válidos.
Tomando em consideração o total de votantes, 142.822.046, que é base de cálculo dos institutos de pesquisa teremos o seguinte resultado:
Dilma teve 43.267.668 votos que representam 30,29% do total de votos.
Aécio teve 34.897.211 votos, que representam 24,43% do total de votos.
Marina teve 22.176.619 dos votos que representam 15,53% do total dos votos.
Como se vê, as pesquisas erraram muito. Mas deixemos a aridez dos cálculos onde se utilizou a regra três e vejamos algumas notícias da economia:
O Estado de S. Paulo - 30/08/2014: investimento e indústria afundam e o Brasil entra em recessão.
O Estado de S. Paulo – 11/09/2014: prévia da FGV indica piora no emprego.
Folha de S. Paulo – 01/10/2014: economia do governo desaba para 10% da meta deste ano.
O Estado de S. Paulo – 09/10/2014: com a inflação tendo atingido 6,75% em doze meses o secretário de Política econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, recomendou ontem o seguinte: “os brasileiros tem uma série de outros produtos substitutos para a carne, como frangos e ovos, que vêm representando comportamento benigno este ano”.
Na Revolução Francesa a rainha Maria Antonieta mandou dar brioche ao povo que pedia pão e acabou guilhotinada. As espirais da história às vezes se repetem com outras formas e com sinais trocados, mas sempre com a mesma essência humana. A presidente/candidata que se cuide.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

O GATO DO VIZINHO 5





MiguelFernandez6 just posted a new story titled O GATO DO VIZINHO 5 - Ninguém é dono de um gato, mas, podemos conceder nossa companhia

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O Gato Do Vizinho 4




MiguelFernandez6 just posted a new story titled O Gato Do Vizinho 4 - "Maldito sejas pelo mal que fizeste sem querer!"

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