sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O caminho quem faz é o caminhante

Cada pessoa...


Cada pessoa que passa em nossa vida,
passa sozinha, porque cada pessoa
é única e nenhuma substitui a outra.

Cada pessoa que passa em nossa vida,
passa sozinha, mas não vai sozinha e nem nos deixa só,
porque deixa um pouco de si e leva um pouco de nós.

Há os que levam muito e deixam pouco,
há os que levam pouco e deixam muito.
Esta é a mais bela responsabilidade da vida
e a prova de que não nos encontramos por acaso.

Charles Chaplin

O crime do silêncio

"O grande cúmplice da tirania é o silêncio; não atacar o
despotismo é a maneira mais covarde de servi-lo; não
denunciá-lo é auxiliá-lo; estar próximo dele sem feri-lo é a
maneira mais vil de protegê-lo; e proteger o crime é mil vezes
pior que cometê-lo; eis aí a hora em que a palavra é um dever
e o silêncio é um crime"
BAZZO, Ezio Flavio

E na América Latina...


Nos países totalitários - e o Brasil ainda não é um - mesmo quem não deve tem a obrigação de temer.
Numa democracia, quem não deve tem a obrigação do destemor.
Reinaldo Azevedo

Medo

Nego-me a me submeter ao medo que me tira a alegria de minha liberdade que não me deixa arriscar nada, que me torna pequeno e mesquinho, que me amarra, que não me deixa ser direto e franco, que me persegue, que ocupa negativamente minha imaginação, que sempre pinta visões sombrias.

No entanto não quero levantar barricadas por medo do medo. Eu quero viver, e não quero encerrrar-me. Não quero ser amigável por ter medo de ser sincero Quero pisar firme porque estou seguro e não para encobrir meu medo.

E, quando me calo, quero fazê-lo por amor e não por temer as consequências de minhas palavras.

Não quero acreditar em algo só pelo medo de não acreditar. Não quero filosofar por medo que algo possa atingir-me de perto.

Não quero dobrar-me, só porque tenho medo de não ser amável. Não quero impor algo aos outros pelo medo de que possam impor algo a mim; por medo de errar, não quero tornar-me inativo. Não quero fugir de volta para o velho, o inaceitável, por medo de não me sentir seguro no novo. Não quero fazer-me de importante porque tenho medo de que senão poderia serignorado. Por convicção e amor, quero fazer o que faço e deixar de fazer o que deixo de fazer.

Do medo quero arrancar o domínio e dá-lo ao amor. E quero crer no reino que existe em mim.

Rudolf Steiner

Muuuy amigo!

Normose

Lendo uma entrevista do professor Hermógenes, 86 anos, considerado o fundador da ioga no Brasil, ouvi uma palavra inventada por ele que me pareceu muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo de *normose*, a doença de ser normal.

Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Quem não se "normaliza" acaba adoecendo.

A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento. A pergunta a ser feita é: quem espera o que de nós? Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas? Eles não existem.

Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for todos. Melhor se preocupar em ser você mesmo.
A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer o que não se precisa. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar? Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias. Um pouco de auto-estima basta.

Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim aquelas que desenvolveram personalidade própria e normal de cada um tem que ser original. Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais. Eu não sou filiada, seguidora, fiel, ou discípula de nenhuma religião ou crença, mas simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes .
Martha Medeiros

Três rainhas "magas"

O que aconteceria se fossem não três reis magos, mas três "rainhas magas"?
Elas não teriam se perdido.
Teriam chegado na hora certa.
Teriam ajudado no parto.
Teriam limpado o estábulo.
Teriam levado presentes “úteis”.
E também alguma coisa para comer.

Mas os comentários entre elas também mudariam.
-
-Você reparou que as sandálias da Maria não combinavam nada com a túnica?

-Como eles podem viver com todos esses bichos em casa?

-Espero que eles me devolvam o “tupperware” que eu levei com a torta…

-Dizem que o José está desempregado.

-O pobre do jumento está nas últimas… Virgem? Não me faça rir! Eu conheço a Maria desde a faculdade…

-O menino não se parece nem um pouco com o José…

Redação feita por uma aluna de Letras...

...que obteve a vitória num concurso interno promovido pelo professor da cadeira de Gramática Portuguesa.
Nota: ISTO, EM PORTUGAL!

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador.
Um substantivo masculino, com aspecto plural e alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. O artigo, era bem definido, feminino, singular. Ela era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingénua, silábica, um pouco átona, um pouco ao contrário dele, que era um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos.
O substantivo até gostou daquela situação; os dois, sozinhos, naquele lugar sem ninguém a ver nem ouvir. E sem perder a oportunidade, começou a insinuar-se, a perguntar, conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado e permitiu-lhe esse pequeno índice.
De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro.
Óptimo, pensou o substantivo; mais um bom motivo para provocar alguns sinónimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeçou a movimentar-se. Só que em vez de descer, sobe e pára exactamente no andar do substantivo.
Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela no seu aposento.
Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, suave e relaxante. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela.
Ficaram a conversar, sentados num vocativo, quando ele recomeçou a insinuar-se. Ela foi deixando, ele foi usando o seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo.
Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.
Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo o seu ditongo crescente. Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples, passaria entre os dois.
Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula.
Ele não perdeu o ritmo e sugeriu-lhe que ela lhe soletrasse no seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, pois estava totalmente oxítona às vontades dele e foram para o comum de dois géneros.
Ela, totalmente voz passiva. Ele, completamente voz activa. Entre beijos, carícias, parónimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais.
Ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu predicativo do objeto, tomava a iniciativa. Estavam assim, na posição de primeira e segunda pessoas do singular.
Ela era um perfeito agente da passiva; ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.
Nisto a porta abriu-se repentinamente.
Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo e entrou logo a dar conjunções e adjetivos aos dois, os quais se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas.
Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tónica, ou melhor, subtónica, o verbo auxiliar logo diminuiu os seus advérbios e declarou a sua vontade de se tornar particípio na história. Os dois olharam-se; e viram que isso era preferível, a uma metáfora por todo o edifício.
Que loucura, meu Deus!
Aquilo não era nem comparativo. Era um superlativo absoluto. Foi-se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado aos seus objetos. Foi-se chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo e propondo claramente uma mesóclise-a-trois.
Só que, as condições eram estas:
Enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria no gerúndio do substantivo e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.
O substantivo, vendo que poderia transformar-se num artigo indefinido depois dessa situação e pensando no seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história. Agarrou o verbo auxiliar pelo seu conetivo, atirou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

Fernanda Braga da Cruz

terça-feira, 25 de dezembro de 2007


Uma mulher chegou em casa e disse para o marido:
- Zé, lembra das enxaquecas que eu costumava ter toda vez que nós íamos fazer amor?
Estou curada.
- Não tem mais dor de cabeça?!?!- O marido perguntou espantado.
A esposa respondeu:
- Minha amiga Margarete me indicou um terapeuta que me hipnotizou. O médico me disse para ir para frente do espelho, me olhar bem no espelho e repetir para mim mesma. Não tenho mais dor de cabeça. Não tenho mais dor de cabeça. Não tenho mais dor de cabeça.
Fiz isso e a dor de cabeça parece que sumiu.
- O marido respondeu: Mas que maravilha!
Então a esposa falou para o marido.
- Nos ultimos anos você não anda muito interessado em sexo. Por que você não vai ao terapeuta e tenta ver se ele te ajuda a ter interesse em sexo novamente?
O marido concordou, marcou uma consulta e alguns dias depois estava todo fogoso para uma noite de amor com a esposa. Então foi correndo para casa e entrou arrancando as roupas e arrastando a esposa para o quarto. Colocou a esposa na cama e disse para ela:
- Não se mova que eu já volto. Ele foi ao banheiro e voltou logo depois, pulou na cama e fez amor de maneira muito apaixonada como nunca tinha feito com a esposa antes.
A esposa falou:- Zé, foi maravilhoso!
O marido disse novamente para a esposa.
- Não saia dai que eu volto logo. Foi ao banheiro e a segunda vez foi muito melhor que a primeira. A mulher sentou-se na cama, a cabeça girando em êxtase com a experiência.
O Marido disse outra vez: - Não saia dai que eu volto logo. Foi ao banheiro.
Desta vez a esposa foi silenciosamente atrás dele e quando chegou lá o marido olhava para o espelho e dizia:
- Não é minha esposa.
- Não é minha esposa.
- Não é minha esposa.
- Não é minha esposa.
- Não é minha esposa.
- Não é minha esposa.
O velório do Zé será amanhã na capela 13 do cemitério da Saudade!

A-ham" - "Hum-Hum".

Tarde da noite, já estavam deitados, quando a mulher pergunta
Se eu morresse você casava outra vez?
Claro que não, querida!
Não?!
Não por quê?! Não gosta de estar casado?
Claro que gosto!, querida.
Então por que é que não casava de novo?
Está bem, casava...
Casava? (com um olhar magoado)
Casava. Só porque foi bom com você...
E dormiria com ela na nossa cama?
Onde é que você queria que nós dormíssemos?
E substituiria as minhas fotografias por fotografias dela?
É natural que sim...
E ela ia usar o meu carro?
Não. Ela não dirige...
Hum !!!! (silêncio)

Moral da história:
Jamais prolongue um assunto com uma mulher.
Apenas abane a cabeça ou diga "A-ham" ou "Hum-Hum".
Poema de Marília Gonçalves, portuguesa radicada na França, cujo estilo único consegue aliar idéias políticas a sensações físicas como repulsa, nojo e medo, sensações por aqui familiares a muitos de nós:

ALERTA
de Marília Gonçalves


"Grita filha !
há uma aranha
Na brancura da parede
Que peçonhenta tamanha
Vai tecendo sua rede.

Grita filha !
Essa fobia
É protecção natural
Contra a aranha sombria
Que além de símbolo
é mal !

Grita com todas as forças !
Grita porque há mesmo perigo
Essa aranha uma cruz negra
é o pior inimigo.
Por meu amor não te cales !

Grita filha
Tua mãe
Impele-te pra que fales :
Contigo grito também !
Essa aranha que se estende
Tem o passo marcial
Com fúria que surpreende
O incauto em voz fatal.

Grita filha
O bicho imundo
Sai vertiginosamente
Da sombra vinda do fundo
Em veneno de serpente.

Tal a jibóia medonha
Enrola-se abraça o mundo
Pra ir crescendo em peçonha.
Introduz-se em toda a parte
Tudo corrói e desfaz
É inimiga da Arte
Do Ser Humano da Paz.

Grita filha !
Mas tão alto
Num grito tão verdadeiro
Que desperte em sobressalto
O que não quer ver primeiro.
Essa aranha pestilenta
Odeia a própria Cultura
Em fogueira que alimenta
Livro após livro censura.

Opõe à Humanidade
A sua força brutal
Por onde ela passa invade
Mata o constitucional !

É um monstro repelente :
Primeiro ataca o mais fraco
Para ir seguidamente
Oculta em cada buraco
Destruir a Liberdade.
Inimiga da diferença !

Grita !
Minha filha Grita !
Faz ouvir tua presença.
Aponta o bicho feroz
Mostra-o sacode os amigos
Com a força da tua voz !

Grita !
Esse enredo de perigos !
Grita filha ! Desta vez
Esse grito é racional
Porque essa aranha é o não
Ao direito Universal.
Sem medo abre tua boca !

Grita alto ! Grita forte !
Porque toda a força é pouca
Para lutar contra a morte.

Grita ! Grita minha filha
não te cales nunca mais :
não se veja outra Bastilha
Prendendo os próprios jornais !

Que teu grito seja infindo
Circule dê volta ao mundo
Jovem voz entusiástica
Erguendo o povo profundo
Contra a bandeira suástica."

Fúria e Calma


óleo sobre tela / 20x40cm