quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Liberdade de Expressão

Por Rodrigo Constantino

“É fácil ser um defensor da liberdade de expressão quando isso se aplica aos direitos daqueles com quem estamos de acordo.” (Walter Block)

Vivemos na era do politicamente correto, da ditadura da maioria e do relativismo moral exacerbado. Tais características impõem sérios riscos à liberdade de expressão, ferramenta das mais valiosas da humanidade, que garante nosso progresso contínuo. Pretendo justificar a seguir, com argumentos, tal assertiva.

Em primeiro lugar, devemos entender que a liberdade de expressão diz que o indivíduo pode expressar suas idéias sem medo de coerção ou agressão. Ninguém é obrigado a lhe ceder os veículos de comunicação necessários. Cabe ao Estado apenas garantir sua segurança ao se expressar. Dito isso, devemos ter em mente que tal liberdade trará consigo o risco de escutarmos idéias controversas, que poderemos considerar até mesmo sórdidas. A liberdade somente existirá se as minorias forem livres para pregarem suas idéias, por mais absurdas que possam parecer. Natan Sharansky, autor de The Case for Democracy, chegou a criar um método simples de se avaliar quão livre é uma nação, bastando verificar se o indivíduo pode ir em praça pública e contrariar com palavras o governo, ou o consenso.

Infelizmente, muitos confundem liberdade com democracia, e ignoram que essa pode até mesmo acabar com aquela. Quando democracia não passa de uma ditadura da maioria, onde essa, mesmo que formada por 51% do povo, manda arbitrariamente no restante, não há liberdade verdadeira. Liberdade existe quando as minorias também são livres, e por isso as regras devem ser sempre isonômicas, válidas igualmente para todos. A fim de evitar este risco da ditadura de maiorias instáveis, os americanos criaram, logo na Primeira Emenda, o direito de liberdade de expressão, estendido a todos. Vindo em forma de pacote, as pessoas aceitam tal liberdade quase irrestrita, mesmo que tenham, com isso, que aturar as idéias opostas às suas. Em resumo, no Liberalismo, até mesmo um socialista, que prega a destruição do Liberalismo, pode se expressar. Já no Socialismo, o liberal possivelmente acabará em um gulag ou paredon. Eis mais uma grande distinção moral entre os dois modelos.

Tal ideal de liberdade de expressão está longe de ser nossa realidade. O patrulhamento do politicamente correto anula totalmente esta liberdade. O teste é quando temos que agüentar o discurso contrário ao nosso, não quando garantimos a liberdade de repetirem, como vitrolas arranhadas, o consenso. E precisamos lembrar que a regra deve ser objetiva, válida igualmente para todos. Não é difícil citar exemplos contrários a tal modelo livre. A tentativa do governo do PT de impor uma cartilha politicamente correta foi o mais assustador passo na direção da supressão da liberdade de expressão. Mas fora isso, inúmeros outros casos demonstram pouca liberdade. Eu sinto enorme repúdio tanto pelo nazismo como pelo comunismo, ambos regimes genocidas e até mesmo similares em vários aspectos. Entretanto, é vetado por lei defender o nacional-socialismo ou ostentar a suástica, enquanto até mesmo o presidente da Câmara pertence ao Partido Comunista do Brasil, com a foice e o martelo como símbolo. Por que? Por que os nazistas não podem pregar suas idéias, e os comunistas, que mataram bem mais gente, podem? Eu, particularmente, adoraria que ninguém mais fosse tão mentecapto a ponto de defender qualquer um desses dois regimes. Mas não acho correto e justo usurpar a liberdade de expressão dos seus defensores. Creio que até os néscios devem ser livres para defenderem suas estultices!

O caso do racismo também é sintomático. Atualmente, um sujeito pode acabar até mesmo preso por chamar outro de preto, mesmo que ele seja preto. Ora, e se for chamado de “branquelo”? Onde isso vai acabar? Ninguém mais poderá contar piadas de judeu, português etc? Em que mundo queremos viver? Num mundo onde uma cúpula de burocratas decide o que pode e o que não pode ser dito, cedendo às pressões dos grupos de interesses? Ou em um mundo onde as regras são simples e isonômicas, e há liberdade de expressão até o limite das ameaças ou fraudes?

O relativismo moral entra também nesse conjunto que ameaça a liberdade de expressão. Como exemplo podemos citar o caso de Salman Rushdie, romancista que escreveu Versos Satânicos, e foi jurado de morte por radicais islâmicos porque teria “ofendido” Khomeini. Os relativistas logo afirmaram que o autor não respeitou as crenças islâmicas, justificando o injustificável: a ameaça de morte porque o indivíduo expressou suas idéias! O livro de Dan Brown, O Código Da Vinci, sucesso de vendas, desagradou bastante a Igreja Católica. Ora, será que vamos defender o direito do Vaticano de ameaçar o autor? Dois pesos e duas medidas, outro grande risco à liberdade.

Por fim, o cerceamento da liberdade de expressão coloca em risco o nosso progresso. É simples ver isso, bastando pensar como estaria o mundo se as idéias controversas do passado tivessem sido caladas pelo politicamente correto, pela defesa do status quo vigente. Darwin, Einstein, Galileu, Newton e vários outros não teriam tido a oportunidade de levantarem suas teorias, que ajudaram a mudar o mundo. Como diz Walter Block, “é imperativo que os inimigos da liberdade de expressão sejam vistos exatamente como são: oponentes do progresso da civilização”.

Pelo bem da humanidade, devemos abraçar essa idéia com força! Com a exceção de ameaças ou fraudes, os indivíduos devem ser livres para falarem aquilo que quiserem, não importa o quanto incomode ou choque a visão do consenso. Posso considerar um perfeito idiota o sujeito que achar tudo o que eu disse completamente idiota. Mas nesse mundo que defendo, com ampla liberdade de expressão, ambos poderemos expor nossas idéias. No dele, este artigo estaria vetado, e eu estaria perdido...

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

FRASES miscelânea

"Deus deu os nossos parentes, mas teve a bondade de nos deixar escolher nossos amigos" (Ethel Munford, escritora norte-americana, 1870-1940)

"Nunca hesitei em tirar dos outros o que eu queria. Tenho horror de copiar a mim mesmo" (Pablo Picasso)

"Há um mínimo de dignidade que o homem não pode negociar" (Dias Gomes)

"Quem ri muito, pode ter uma mente e um organismo até oito anos mais jovem do que sua idade cronológica" (Michael Roizen, médico americano, livro Idade Verdadeira)

"O riso provoca mudanças celulares e hormonais que deixam o organismo mais resistente a doenças" (Lee Berk, imunologista americano)

"O que as mulheres fariam sem nós, os homens? Domesticariam outro animal" (novela Mulheres Apaixonadas de Manoel Carlos)

"O meu amor e eu nascemos um para o outro. Agora só falta quem nos apresente" (poeta Cacaso - Antonio Carlos de Brito - morto em 1987)

"Trabalhe sem pensar em dinheiro. Ame como se jamais tivesse sofrido. Dance como se ninguém estivesse vendo e conte comigo para o que der e vier"

"Quer saber quantos amigos você tem? Dá uma festa. Quer saber a qualidade deles? Fica doente"

"A liberdade é um bem tão apreciado que cada qual quer ser dono até da alheia" (Montesquieu)

"Quando falares, cuida para que tuas palavras sejam melhores que o silêncio" (Provérbio Indiano)

"A felicidade não depende do que nos falta, mas do bom uso que fazemos do que temos" (Thomas Hardy)

"O que queres que os homens façam por ti,faça igualmente por eles". (Jesus Cristo)

"Somente depois da última árvore derrubada, depois do último animal extinto,e quando perceberem o último rio poluído,sem peixe, o Homem irá ver que dinheiro não se come." (Provérbio Indígena)

"Eu não tenho ídolos, tenho admiração por trabalho, dedicação e competência" (Ayrton Senna)

"Sei que meu trabalho é uma gota no oceano,mas sem ele o oceano seria menor" (Madre Teresa)

"As idéias geniais são aquelas que nos espantamos de não ter tido antes" (Noel Claraso)

"Podes não ter o mundo mas tuas mãos, mas podes ser o mundo de alguém " (Luís Santos)

"A adolescência e o período da vida em que os jovens se recusam a acreditar que um dia virão a ser tão estúpidos como os pais" (Anônimo)

"Se alguém te perguntar o quiseste dizer com um poema, pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo..." (Mário Quintana)

"O único homem que nunca comete erros é aquele que nunca faz coisa alguma. Não tenha medo de errar, pois você aprenderá a não cometer duas vezes o mesmo erro" (Roosevelt)

"Você pode descobrir mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do que em um ano de conversa" (Platão, filósofo grego)

"Todos nós nascemos originais e morremos cópias" (Carl J. Jung)

"Admiro a terra, quero-a, sempre gostei dela. Sempre me senti feliz por estar vivo: apesar da guerra, das más notícias, não sou capaz de matar em mim a simples alegria de viver"
(Julien Green)

"O importante é termos a capacidade de sacrificar aquilo que somos para ser aquilo que podemos ser" (Charles Dubois)

"Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe" (Oscar Wilde)

"Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi" (Mário de Andrade)

"Cultura é o que fica depois de se esquecer tudo o que foi aprendido" (André Maurois)

"Todo mundo é um cientista maluco e a vida é o Laboratório. A gente está sempre experimentando, tentando achar um jeito de viver, de resolver os problemas, de se livrar da loucura do caos" (David Cronenberg)

"O homem só envelhece quando nele os lamentos substituem os sonhos" (Jonh Berry)

"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro" (Clarisse Lispector)

"O destino lhe atira uma faca. Cabe a você decidir se pegará pelo cabo e usará a seu favor ou a pegará pela lâmina e se cortará" (provérbio chinês)

"A gente não pode viver só e ser forte. A gente precisa ter alguém a quem segurar a mão" (personagem Marianne, no filme "Cenas de um casamento")

"Depois da gargalhada, os músculos relaxam e o ritmo dos batimentos cardíacos e da respiração diminui" ( Ana Maria Rossi, diretora da clínica de stresse e biofeedback em Porto Alegre)

"Eu quero que você me explique por que insiste em perder seu tempo comigo?"

"A imaginação é mais importante que o conhecimento" (Albert Einstein, físico alemão, 1879-1955)

"Para o mal triunfar, basta que os homens de bem não façam nada"

"Cuide dos meios. O fim cuidará de si mesmo" (Mahta Gandhi)

"Não leve a vida tão a sério. Você não vai sair vivo dela mesmo"

"A sorte do egoísta é viver sem preocupações. Seu castigo é viver sem afetos"

"Quando acaba uma viagem? É quando o avião se aproxima do limite do território nacional? É quando o avião aterriza? É quando se chega em casa? É quando se dilui a memória da viagem? É no próximo espetáculo? (Márcio Vianna)

O homem é a medida de todas as coisas" (Pitágoras)

"E sem saber que era impossível, ele foi lá e fez" (Jean Cocteau)

"A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca" (Carlos Drummond)

"O primeiro homem que deu um nó numa gravata, fê-lo para se lembrar de alguma coisa. No entanto, ainda hoje estamos para saber o que era" (Anônimo)

"Quando eu me pergunto quem sou eu, sou o que pergunta ou o que não sabe a resposta?"
(Geraldo Eustáquio)

"Agora eu compreendo que agitação não é vida. É vaidade" (Geraldo Eustáquio)

"Cuidado com a fúria de um homem paciente" (John Dryden)

"Não há poema em si, mas em mim ou em ti" (Octavio Paz)

"Você sabe que está ficando velho quando as velas começam a custar mais caro que o bolo" (Bob Hope)

"Trate as pessoas como se elas fossem o que poderiam ser e você as ajudará a se tornarem aquilo que elas são capazes de ser" (Goethe)

"Dê um peixe a um homem faminto e você o alimentará por um dia. Ensine-o a pescar, e você o estará alimentando pelo resto da vida" (Provérbio Chinês)

"Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida" (Provérbio Chinês)

"Se bem observares o mundo, encontrareis mais colhões do que homens" (Anônimo)

"Suporta-se com paciência a cólica dos outros" (Machado de Assis)

"As pessoas boas dormem muito melhor à noite do que as pessoas más. Claro, durante o dia as pessoas más se divertem muito mais" (Woody Allen)

"Colham enquanto podem seus botões de rosas, a velhice vem voando. Esta flor hoje tão viçosa amanhã estará murchando. Aproveitem o dia" (José Béde)

"De todos os animais selvagens, o homem jovem é o mais difícil de domar" (Platão)

"O neurótico constrói um castelo no ar. O psicótico mora nele. O psiquiatra cobra o aluguel"
(Jerome Lawrence)

"Quando se rouba de um autor, chama-se plágio; quando se rouba de muitos, chama-se pesquisa" (Wilsori Mizner)

"Escrever é transformar os seus piores momentos em dinheiro"
(J. P. Donleavy)

"Comecei uma dieta, cortei a bebida e comidas pesadas e, em catorze dias, perdi duas semanas" (Joe E. Lewis)

"Choramos ao nascer porque chegamos a este imenso cenário de dementes"
(William Shakespeare)

"Sejamos como o sol que não visa nenhuma recompensa, nenhum elogio, não espera lucros nem fama, simplesmente brilha!" (Anônimo)

"A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original"
(Albert Einstein)

"Antes, a gente queria derrubar o sistema. Agora, o sistema cai dois minutinhos e a gente fica revoltado"

"Durma com os anjos e sonhe comigo porque um dia você vai dormir comigo e sonhar com os anjos" (Despertar da primavera)

"A razão da eterna evolução do universo é que todas as coisas se movimentam em perfeita ordem" (M. Okada)

"Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz somente até onde os outros foram" (Alexander Graham Bell)

"Temos a arte para que a verdade não nos destrua"(Nietzsche)

"Uma vez morto, você está feito para o resto da vida" (Jimi Hendrix)

"Liberdade é dinheiro? Liberdade é não pensar em dinheiro..."

"Eu nasci pobre, mas não vou morrer. Eu quero acordar olhando o mar"

"Cinema não é para entreter, é para fazer sonhar" (Win Wenders)

"Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há também aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol" (Pablo Picasso)

"Acordei cedo hoje. Pulei da cama às seis da manhã, dei uma bela caminhada até a janela e voltei para a cama às 6H05. Fiquei dez minutos debaixo do chuveiro frio. Amanhã pretendo abrir a água" (Henry Youngman)

"Fiz tão bem o meu curso de Direito que, no dia que me formei, processei a Faculdade, ganhei a causa e recuperei todas as mensalidades que havia pago" (Fred Allen)

"Qualquer idiota é capaz de pintar um quadro. Mas só um gênio é capaz de vendê-lo" (Samuel Buttler)

"Um homem rouba o primeiro beijo, implora o segundo, exige o terceiro, recebe o quarto, aceita o quinto, e suporta os restantes" (Helen Rowland)

"Um repórter de rock é um jornalista que não sabe escrever, entrevistando gente que não sabe falar, para pessoas que não sabem ler" (Frank Zappa)

"Mas eu desconfio que a única pessoa livre, realmente livre, é a que não tem medo do ridículo"
(Luis Fernando Veríssimo)

"Nunca tive problemas com droga. Só com a polícia..." (Keith Richards)

"O tempo é um ponto de vista. Velho é quem é um dia mais velho que a gente..." (Mário Quintana)

"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite" (Clarisse Lispector, escritora brasileira)

"Se vives de acordo com as leis da natureza, nunca serás pobre; se vives de acordo com as opiniões alheias, nunca serás rico" (Sêneca)

"Nunca deixo de ter em mente que o simples fato de existir já é divertido" (Katherine Hepburn)

"Os jovens, antes de sair para reformar o mundo, deveriam primeiro dar um jeito em seus armários" (Anônimo)

"Um homem só está em má companhia" (Paul Valéry)

"Mais importante que adquirir uma grande sabedoria é a humildade na hora de transmiti-la" (Anônimo)

"Muitas coisas não ousamos empreender por parecerem difíceis; entretanto, são difíceis porque não ousamos empreendê-las" (Sêneca)

"Pode-se vencer pela inteligência, pela habilidade ou pela sorte, mas nunca sem trabalho"
(A. Destoef)

"Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho" (Clarice Lispector)

"Não paramos de nos divertir por ficarmos velhos. Envelhecemos porque paramos de nos divertir" (Anônimo)

"A vida não é curta, você é que fica morto tempo demais" (Anônimo)

"Rir de tudo é coisa dos tontos, mas não rir de nada é coisa dos estúpidos" (Erasmo de Rotterdam)

"A Tradição é a personalidade dos imbecis" (Albert Einstein)

FRASES sobre livros

"Um livro clássico nunca termina o que tem a dizer" (Ítalo Calvino)

"A leitura é uma conversa com os homens mais ilustres dos séculos passados" (Descartes)

"A biblioteca, como estilo, é o homem" - Hugo Estenssoro

"O sucesso de muitos livros deve-se à afinidade entre a mediocridade das idéias do escritor e as do público" (Nicolas Chamfort)

"Escrever é transformar os seus piores momentos em dinheiro" (J. P. Donleavy)

"Um país se faz com homens e livros" (Monteiro Lobato)

"Se os líderes lessem poesia, seriam mais sábios" (Octávio Paz)

"O difícil é aprender a ler. O resto está escrito" (Anônimo)

"Leia primeiro os melhores livros, pois de outro modo descobrirá que não terá tempo" (Henry David Thoreau)

"Cuidado com o que você lê" (Adágio popular)

"A consciência é o melhor livro que podemos consultar" (Blaise Pascal)

"Ler demais é prejudicial à sua independência de pensamento. Os maiores pensadores que encontrei entre os estudiosos são pessoas que não leram demais" (Georg Christoph Lichtenberg)

"Por isso gosto tanto de ler. Quando leio, de alguma maneira me transformo em autor" (Jostein Gaarder e Klaus Hagerup)

"Como os santuários e os outros locais de encontros sagrados, as livrarias são artefatos essenciais à natureza humana" (Jason Epstein)

"A sensação de um livro retirado de uma prateleira e seguro nas mãos é uma experiência mágica, que une o escritor e o leitor" (Jason Epstein)

"Um livro é a prova de que os homens são capazes de fazer magia" (Carl Sagan)

"Organizar bibliotecas é exercer, de modo silencioso, a arte da crítica" (Jorge Luis Borges)

"A verdade não cabe nos livros,
Está nos livros,
No papel que foi celulose,
Na celulose que foi árvore,
Na árvore que foi semente,
Na semente que foi mistério" (Paulo Bonfim)

"É ainda possível chorar sobre as páginas de um livro, mas não se
pode derramar lágrimas sobre um disco rígido" (José Saramago)

"Um livro pode ser o machado que quebra o mar gelado em nós" (Franz Kafka)

"Agora livro meu, vai, vai para onde o acaso te leve." (Paul Verlaine)

"No fundo, o mundo é feito para acabar num belo livro." (S. Mallarmé)

"A literatura, como toda a arte, é uma confissão de que a vida não basta." (Fernando Pessoa)

"Um livro é uma janela pela qual nos evadimos." (Julien Green)

"Peço a um livro que crie em mim a necessidade que ele me traz." (Jean Rostand)

"Quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma." (Fernando Pessoa)

"Se um livro é mau, nada o pode desculpar; sendo bom, nem todos os reis o conseguem esmagar." (Voltaire)

"Uns livros lêem-se na cozinha, outros no salão. Um livro verdadeiramente bom, lê-se em toda parte." (Thomas C. Haliburton)

"A literatura é sempre uma expedição à verdade" (Franz Kafka)

"A leitura torna o homem completo; a conversação torna-o ágil e o escrever dá-lhe precisão" (Francis Bacon)

"Um livro é um pássaro com mais de cem asas para voar" (Ramon Gomez de la Serna)

"A verdadeira viagem se faz na memória" (Marcel Proust)

"Para escrever só existem duas regras: ter algo a dizer e dizê-lo" (Oscar Wilde)

"Se não escrevo, não vivo; fico angustiado..." (Dias Gomes)

"Um verdadeiro escritor escreve pela fatalidade que leva o pinto a
quebrar a bicadas a casca de um ovo..." (Érico Veríssimo)

"A gente escreve por excesso de ser ou por falta de ser..." (João Cabral de Mello Neto)

"Escrevo porque não sou feliz. É uma maneira de lutar contra a infelicidade..." (Mario Vargas Llosa)

"Se ao lado da biblioteca houver um jardim, nada faltará. Marcus Tullius" (Cicero)

"A biblioteca é o templo do saber, e este tem libertado mais pessoas do que todas as guerras da história." (Carl Rowan)

"O livro é uma voz que se ouve, uma voz que nos fala; é o pensamento vivo de uma pessoa separada de nós pelo espaço e pelo tempo: é uma alma. (E. Suboulaye)

"Cada livro é um produto de sua época, dos ideais e padrões
estéticos dessa época." (Érico Veríssimo)

"Ler é pensar com a cabeça dos outros." (Arthur Schopenhauer)

"O livro é lido para eternizar a memória." (Jorge Luis Borges)

"O verdadeiro propósito dos livros é fazer uma armadilha à mente
para dentro de seus próprios pensamentos." (Christopher Darlington Morley)

"Um bom livro é aquele que se abre com expectativa e se fecha com proveito." (Louisa May Alcott)

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ZOMBANDO:

"Sempre começo um livro pela última página. Assim, se eu morrer antes de terminá-lo, já saberei o final" (Nora Ephronn)

"Só empreste livros que você não se importa em perder" (S. Brown)

"Citação: ato de repetir de modo errado as palavras alheias"
(Ambrose Bierce)

"É bom comeres enquanto lês, mas não é bom leres enquanto comes" (Milton Severiano)

"A museologia é uma ciência cleptomaníaca" (Maurício Arruda Mendonça)

"Há duas espécies de livros: uns que os leitores esgotam, outros que esgotam os leitores." (Mário Quintana)

"Há pessoas que têm uma biblioteca como os eunucos um harém." (Victor Hugo)

"Escrevo por necessidade. Quando eu tenho um furúnculo e ele está maduro, eu o aperto..." (Graham Greene)

"Escrevo romances para me perpetuar, ter fama, glória, dinheiro, amor, essas coisas comezinhas da vida..." (Paulo Francis)

"Só se escreve para provocar um amigo, comer alguma mulher ou ganhar muito dinheiro..." (Ivan Lessa)

"No Líbano, os livros são lidos de trás para frente. É por isso que Agatha Christie não vende nada por lá." (Eugênio Mohallem)

"Não se deve emprestar nem livro nem mulheres. Nunca devolvem os livros; as mulheres, sempre." (Provérbio português)

"A Academia Brasileira de Letras se compõe de 39 membros e 1 morto rotativo." (Millôr Fernandes)

"Levei quinze anos para descobrir que não sabia escrever, mas aí não podia mais parar. Tinha ficado famoso demais." (Robert Benchley)

FRASES que fizeram a História

1ª parte
por Carlos I.S. Azambuja em 02 de dezembro de 2006

Resumo: Uma série de frases demonstra como o velho ditado "nada como um dia depois do outro" permanece mais adequado do que nunca.

“Democracia é bom, mas tem hora” (Lula, referindo-se à expulsão de Paulo de Tarso Venceslau, do PT, por ter denunciado corrupção no partido, revista Isto É, 25 de março de 1998).

“É só pegar os panfletos e as entrevistas dos líderes dos partidos para perceber que eles estão de esquerda para enterrados. São como cadáveres insepultos vagando por aí. A maioria dos grupos que se dizem de esquerda são igrejinhas, seitas, um bando de loucos e dogmáticos” (Herbert José de Souza, Betinho, setembro de 1995).

“Não sou do PT e quero distância desses loucos que se limitam a usar a retórica de esquerda sem ter propostas concretas. Defendo a economia de mercado e creio que a estabilidade da economia é um valor popular definitivo. Acho que o socialismo não é mais possível” (Ciro Gomes, Rádio CBN, 25 de agosto de 1997).

“Não sou e nem nunca fui socialista. Como posso ser a favor de um regime no qual quem produzir oito garrafas de cerveja ganhará o mesmo que quem produz dez?” (Lula, revista VEJA, 13 de agosto de 1997).

“A política é o último refúgio do salafrário e a primeira vocação do esperto” (Guillermo Cabrera Infante, escritor cubano exilado, 19 de abril de 1980).

“Matar o elefante é fácil. Difícil é remover o cadáver” (Gorbachev).

“O revolucionário deve ser uma fria e seletiva máquina de matar” (Che Guevara, citado por Jorge Castañeda, jornal La Época, do Chile, 31 de janeiro de 1997).

“A esquerda não é compatível com quem toma banho todos os dias. A melhor propaganda anti-comunista é deixar os comunistas falarem” (Paulo Francis, citado em O Estado de São Paulo de 5 de fevereiro de 1997).

“Enquanto qualquer outra organização governamental deve ser transparentemente aberta e franca, com todos sabendo qual é exatamente sua função, com um Serviço de Inteligência dá-se justamente o oposto. O Serviço deve ser opaco e confuso quando visto do exterior, embora todos devam conhecer aquilo que dele se espera” (O Serviço Secreto, Reinhard Gehlen, Editora Artenova, 1972, página 228).

“Informações sigilosas sobre assuntos políticos e, até certo ponto, sobre assuntos militares, são, em grande parte, uma questão de previsão. O fato de que alguns acontecimentos poderão ocorrer não significa que necessariamente irão ocorrer” (O Serviço Secreto, Reinhard Gehlen, Editora Artenova, 1972, páginas 226 e 227).

“O Serviço de Informações é o apanágio dos nobres. Se confiado a outros, desmorona” (Cel Walter Nicolai, chefe do Serviço de Informações da Alemanha durante a I Guerra Mundial).

“Se olhares à frente um ano, semeia trigo e irás receber nesse ano; se olhares 10 anos, planta um pomar e terás frutos o ano inteiro. Mas, se fores inteligente, instrui o povo” (Provérbio chinês, de 2 mil anos).

“Sou um sonhador, que pretende conciliar o inconciliável: a política e a moral” (Vaclav Ravel, que foi presidente da República Checa).

“Um apaziguador é aquele que alimenta um crocodilo na esperança de ser comido por último” (Winston Churchil).

“Em um sistema econômico de mercado em que tudo pode ser potencialmente transformado em mercadoria, também o voto está sujeito a esse risco” (Norberto Bobbio, cientista social italiano, em entrevista a revista Isto É de 6 de dezembro de 1989).

“A esquerda conserva o hábito de não acatar as críticas, mas de atacar os críticos” (Apparício Torelly, Barão de Itararé, 1895-1971).

“O mal de certos políticos não é a falta de persistência. É a persistência na falta” (Apparicio Torelly, Barão de Itararé, 1895-1971).

“A tendência dominante no Brasil é o abstracionismo” (Pietro Maria Bardi, em abril de 1990, quando diretor do Museu de Arte de São Paulo).

“A complacência de hoje se paga com as angústias de amanhã. E se ela persiste, com o sangue de depois de amanhã” (Suzanne Labin, livro Em Cima da Hora).

“Lutar e vencer em todas as guerras não é a glória suprema. A glória suprema consiste em quebrar as resistências do inimigo sem lutar” (Sun Tzu, A Arte da Guerra, ano 500 AC).

“O dinheiro é uma coisa esquisita: quem tem diz que não tem e quem não tem diz que tem” (Woody Allen, cineasta norte-americano).

“A verdade é revolucionária” (Leon Trotsky)

“A CUT é o braço do neoliberalismo, porque concentra suas greves no serviço público, para debilitar o Estado” (Leonel Brizola, 22 de junho de 1994, em Porto Alegre/RS).

“Como meu adversário tem 9 minutos no programa eleitoral e eu apenas 3, ele pode mentir 3 vezes mais” (candidato Lula, JB, 15 de setembro de 1994).

“Se eleito, vou botar na cadeia todos os donos de Institutos de Pesquisas e das emissoras de TV, por manipulação das informações sobre as eleições. Se o povo me eleger, não me chamo mais Brizola se não botar essa gente na cadeia” (Leonel Brizola, 18 de setembro de 1994, no Circo Voador, Rio).

“Enquanto houver desigualdade e injustiça, esse conceito - conceito de esquerda - vai continuar cabendo. Eu sou contra a desigualdade, contra a injustiça, portanto, considero-me de esquerda” (Fernando Henrique Cardoso, revista Esquerda 21, nº 2, janeiro-fevereiro de 1996).

“Sou um homem de esquerda (...) A esquerda está disposta a arriscar a Ordem em nome da Justiça. Já a direita coloca a Ordem acima da Justiça (...) E como prefiro arriscar a Ordem em nome da Justiça, considero-me uma pessoa de esquerda” (Luiz Carlos Bresser Pereira, revista Esquerda 21, nº 2, janeiro-fevereiro de 1996).

“É justo a administração querer ficar livre dos maus funcionários, mas é preciso também mecanismos para livrar a sociedade dos maus governos” (José Genoino, revista Esquerda 21, nº 2, janeiro-fevereiro de 1996).

“Para ser de esquerda não é preciso ser burro” (Fernando Henrique Cardoso, julho de 1995).

“A elite que não luta por seus interesses históricos não é digna deles e perde legitimidade frente à população. O empresariado brasileiro, autocentrado em seus pequenos mundos, esquece que vive numa Nação e se recusa a defendê-la. Essa covardia, que renega o papel social e político de uma elite, no sentido clássico de liderança histórica, por sua vez, não anima o único grupo que pode barrar o adversário das trevas, as Forças Armadas, que, sem o estímulo da liderança civil, nada farão” (André Araujo, presidente do Centro de Estudos da Livre Empresa, livro Os Marxistas no Poder - A Esquerda chega ao Planalto, São Paulo, 1995)

“Esquerda sou eu, que me alinho a um pensamento de mudança e de reforma. Eles são neoliberais. Eu sou um combatente contra o neoliberalismo prático” (Fernando Henrique Cardoso, revista Veja, 10 de setembro de 1997).

“Ainda me identifico com uma velha tradição comunista, que é a lógica da revolução” (Roberto Freire, O Globo, 24 de maio de 1996).

“Sou a favor da idéia socialista. Mas uma vez disse a meu pai: “se isso é socialismo, eu sou contra o socialismo” (Yuri Ribeiro Prestes, historiador; filho de Luiz Carlos Prestes; viveu na Rússia de 1970 a 1994; jornal Folha de São Paulo de 2 de novembro de 1997).

“O Supremo já está falido. Nós é que não estamos dizendo ao Brasil que isso aconteceu” (José Carlos Moreira Alves, quando Ministro do Supremo Tribunal Federal, jornal Folha de São Paulo de 11 de dezembro de 1997).

“Ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos” (Al Gore, quando vice-presidente dos EUA).

“O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia” (François Mitterrand, 1989).

“Até Sergio Motta, lá do inferno, deve apoiar os saques” (João Pedro Stédile, logo após ter sido absolvido, no Rio, do processo por incentivar atos criminosos, como a invasão de supermercados; O Globo, 6 de maio de 1998).

“O presidente FHC não tem autoridade moral para criticar os que fazem saques no Nordeste, pois é um saqueador profissional (...) FHC é mentiroso e demagogo” (Lula, em Fortaleza/CE; O Globo, 6 de maio de 1998).

“A dialética comunista significa o negativo, o antigo e o novo, a negação da negação, a identidade dos contrários e a contradição dos idênticos. A inesgotável e miraculosa capacidade da história de ultrapassar-se negando sua positividade e afirmando sua negatividade. Isso não é sublime?” (Jorge Semprun, ex-prisioneiro no campo de concentração nazista de Buchenwald, ex-membro do Comitê Central do Partido Comunista Espanhol expulso em 1964 por ter resolvido começar a pensar com sua própria cabeça, livro A Montanha Branca).

“Não é, de fato, somente quando um comunista se torna agente do inimigo de classe que seus camaradas decidem expulsá-lo ou até mesmo executá-lo. É também quando ele se torna agente de si mesmo, ator e não mais somente instrumento da razão-do-partido, do espírito-do-partido. É quando ele decide tornar-se o indivíduo singular, um ser bastante louco, bastante irresponsável por querer marcar a história do movimento comunista com sua iniciativa pessoal. Mas ele só marcará essa história com o exemplo de sua punição exemplar, com a iniciativa da aceitação, abjeta e ao mesmo tempo gloriosa, dessa punição, em benefício da honra histórica da revolução” (Jorge Semprun, livro A Montanha Branca).

“Não tomei Viagra, mas estou com um tesão da porra. Vamos fazer campanha para ganhar” (candidato Lula, 28 de maio de 1998, em Petrolina/PE, O Globo, 29 de maio de 1998).

“Com uma canetada só, vou resolver o problema da reforma agrária no Brasil” (candidato Lula, Folha de São Paulo, 2 de junho de 1998).

“Ele é um otário, um boca mole que não tem pulso para conduzir esta Nação” (Brizola, sobre FHC, em janeiro de 1997).

“O Lula já tem até um visual de direita: fuma charuto, está gordo e não trabalha. Está se aproximando rapidamente de uma prática pessoal de direita” (Brizola, abril de 1994).

“Não seria fascinante fazer essa elite engolir o Lula, esse sapo barbudo?” (Brizola, em novembro de 1989).

“O Lula não é confiável. Eu apalpo, apalpo e sinto que ou há um mioma ou há dentes de jacaré” (Brizola, em fevereiro de 1989).

“Sobre o Lula, não se pode dizer in vino veritas. O mais apropriado é dizer in cachaça veritas” (Brizola, em dezembro de 1985).

Louis Aragon, poeta oficial do Partido Comunista Francês, simplesmente constatou: “Perdi meu tempo”, ao verificar o desmoronamento do socialismo real.

José Dirceu, em um seminário do partido, realizado dias 15 e 16 de abril de 1989, às vésperas da eleição presidencial, já vislumbrando uma provável vitória de Lula, candidato do PT, e recordando-se do treinamento militar que recebeu em Cuba, com o nome de “Cmt Daniel”, disse: “Em vez de comandar uma coluna guerrilheira, o grande sonho de minha vida, vou ter que comandar uma coluna de carros oficiais em Brasília”.

Anteriormente, em setembro de 1988, afirmou: “Nunca fui foquista. Participei da luta armada, apoiei, achava que era necessária, mas na verdade nunca acreditei nela como forma de luta” (página 110 do livro Abaixo a Ditadura, escrito por ele e por Vladimir Palmeira).

E depois, em 27 de dezembro de 1998, ao Jornal do Brasil: “O treinamento militar em Havana era um teatrinho, um vestibular para o cemitério”. (José Dirceu).

“Populismo é a arte de distribuir as riquezas antes de produzi-las” (senador Roberto Campos, no discurso de despedida do Senado, em janeiro de 1999).

“Um regime revolucionário tem que se desembaraçar de um certo número de indivíduos que o ameaçam, e não vejo outro meio de fazer isso senão a morte. Da prisão, sempre se pode sair. Os revolucionários de 1793 provavelmente não mataram o bastante”. (Jean-Paul Sartre).

“Cuando teniamos todas las respostas, se cambiaram las preguntas” (frase pintada em um muro em Quito/Equador, logo após o desmantelamento do socialismo real).

“Ele (Celso Daniel) se encontrará com Marighela, Guevara, Paulo Freire, Henfil, Betinho, Chico Mendes, Toninho e os sem terra” (Declaração de Lula sobre a morte do prefeito Celso Daniel, jornal Correio do Povo, Porto Alegre, 16 de janeiro de 2002, página 2).

Frei Beto, no II Fórum Social Mundial usou da palavra e, lá pelas tantas, disse que “a sociedade do futuro mais livre, mais igualitária e mais solidária se define em uma só palavra: socialismo. Pediu uma salva de palmas para Karl Marx e disse que o homem novo deve ser filho do casamento de Ernesto Che Guevara e Santa Teresa de Jesus”.

Umberto Eco: "Para uso exclusivo das editoras"


"Lamentamos comunicar-lhe que seu livro..."
Umberto Eco se pergunta: Que teria acontecido com os grandes clássicos se tivessem se submetido à máquina editorial moderna? (Para uso exclusivo das editoras e seus funcionários assessores;o)
(Tradução: Miguel Angel)

Homero
A ODISSÉIA
Pessoalmente, gosto do livro. A historia é bela, apaixonante, cheia de aventuras. Tem a dose certa de amor, de fidelidade e de escapadas adulterinas (muito boa a figura de Calipso, uma verdadeira devoradora de homens); tem, inclusive, um momento "à la Lolita", com uma garotinha chamada Nausicaa: ao longo do episódio, o autor se permite mais de uma ousadia, mas em nenhum momento incorre em excessos.
O todo resulta excitante. Há bons efeitos, gigantes de um só olho, canibais e até um pouco de droga (o suficiente para não transgredir os limites fixados pela lei). As cenas finais se inscrevem na melhor tradição western: as lutas são brutais; a cena do arco se mantém na corda bamba do suspense de forma magistral.
Quê dizer?: lê-se de uma arrancada só, melhor que o primeiro livro do mesmo autor, que era estático demais com sua insistência de unidade de lugar, chato pela superabundância de acontecimentos (na terceira batalha e ao décimo duelo, o leitor já compreendeu o mecanismo). Ademais, a historia de Aquiles e Patroclo, com seu fio de homossexualidade apenas latente, nos colocou em situações difíceis.
Em cambio, neste segundo livro todo anda que é uma maravilha; até o tom é mais sereno: pensado, sem ser reflexivo. E, ademais, a montagem, o jogo de flash-backs, as histórias intercaladas!... Em suma: alta escola. Realmente, este Homero tem talento.
Demasiado talento, diria eu... Me pergunto si será tudo farinha de sua colheita. Entretanto, o que me faz duvidar (e, nesse caso opinar negativamente) é a confusão que pode se armar no tocante a direitos. Falei do assunto com Eric Linder e creio que não sairíamos muito bem dessa parada.
Antes de qualquer coisa, é impossível localizar o autor. Os que o conheceram dizem que, de qualquer maneira, resultaria tedioso discutir com ele as pequenas modificações a introduzir no texto, pois é cego como uma toupeira, não segue o manuscrito e em más de uma ocasião deu a impressão de não conhecê-lo bem. Dizem, também, que citava de memória, e que não estava seguro do que tinha escrito e alegava que o copista havia introduzido interpolações. Será que ele mesmo escreveu ou é tão somente um testa-de-ferro? (...)
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"Lamentamos comunicar-lhe que seu livro..."

A BÍBLIA
"Devo dizer que ao começar a ler o manuscrito, e durante as primeiras cem páginas, fiquei entusiasmado. É pura ação e tem todo o que o leitor de hoje exige de um livro de evasão: sexo (muitíssimo), com adultérios, sodomia, homicídios, incestos, guerras, desastres etcétera. O episódio de Sodoma e Gomorra, com travestis que pretendem estuprar os dois anjos, é rabelaisiano (i.é: Libertino, devasso, licencioso); as histórias de Noé são o mais puro Salgari; a fuga ao Egito é uma historia que cedo ou tarde será levada ao cinema. Em suma, o verdadeiro romance-rio, bem construído que não poupa efeitos, cheio de imaginação, com essa dose de messianismo que agrada, sem atingir o trágico.
Depois, mais adiante, percebi que se trata, na verdade, de uma antologia de diversos autores, com muitos, demais, fragmentos de poesia, alguns francamente lamentáveis e aborrecidos, verdadeiras jeremiadas (i.é: Lamúria ou queixa importuna e vã) sem pé nem cabeça. E o resultado disso é um engendro monstruoso que corre o risco de não agradar a ninguém porque tem de todo. Além disso, será um aborrecimento estabelecer os direitos dos diferentes autores, a menos que o representante de todos eles se encarregue disso. Mas o nome de tal representante não consta nem sequer no índice, como se houvesse certa reserva em nomeá-lo. Seria mais seguro tentar a possibilidade de publicar separadamente os cinco primeiros livros. E com um outro título, tipo 'Os desesperados do mar vermelho'"
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"Lamentamos comunicar-lhe que seu livro..."

Kafka, Franz
O PROCESSO
Não está mal o livrinho; é policial, com momentos ao estilo de Hitchcock: por exemplo, o homicídio final, que terá seu público.
Sem embargo, pareceria que o autor o escreveu sob censura. Quê significam essas alusões imprecisas, essa falta de nomes de pessoas e de lugares? E por quê o protagonista está sob processo? Esclarecendo mais tais pontos, ambientando de forma mais concreta, dando fatos, fatos, fatos, a ação resultaria mais límpida e mais seguro o suspense.
Esses escritores jovens acreditam fazer "poesia" porque dizem "um homem" em vez de dizer "o senhor Tal a tal hora em tal lugar". Em síntese: se der para meter a mão, bem; do contrário, devolver.

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"Lamentamos comunicar-lhe que seu livro..."

Proust, Marcel
EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO
É, sem mais nem menos, uma obra comprometida, quiçá longa demais: mas pode vender-se fazendo uma serie de pocket.
Assim como está não funciona. Está faltando um vigoroso trabalho de editing. Por exemplo, há que revisar toda a pontuação. Os períodos são muito cansativos, alguns ocupam toda uma página. Com um bom trabalho de redação que os reduza a duas ou três linhas cada um, com uma mais freqüente utilização do ponto e vírgula, o trabalho seguramente melhoraria.
Se o autor não concordar, melhor será não editá-lo. Assim como está, o livro resulta... como direi?: bastante asmático.

FALA! Wilhelm Reich


DE WILHELM REICH

"A vida brota a partir de milhares de fontes vibrantes, entrega-se à todos que a agarram, recusa-se a ser expressa em frases tediosas, aceita apenas
ações transparentes, palavras verdadeiras e o prazer do amor (...)"
Wilhelm Reich (1939), em "Beyond Psychology", Ed. Farrar, Straus and
Giroux, 1994

"A raça humana enfrentaria o pior, o mais devastador desastre dos desastres se, de repente, chegasse, de uma só vez, a ter pleno conhecimento da função da Vida, da função do orgasmo, e dos segredos do assassinato de Cristo. Há boas e justas razões para que a raça humana tenha-se recusado a conhecer a profundidade e a verdadeira dinâmica de sua miséria crônica. Uma tal erupção repentina de conhecimentos paralisaria e destruiria tudo o que, de certa
forma, mantém a sociedade caminhando, a despeito das guerras, da fome, dos
massacres emocionais, da miséria das crianças, etc."
Wilhelm Reich (1951), em "O Assassinato de Cristo", Ed. Martins Fontes,
4.a edição, 1991

"Ao longo de toda minha vida, tenho amado os bebês, as crianças e os adolescentes, e também sempre fui amado e compreendido por eles. Bebês costumam sorrir para mim pois tenho um profundo contato com eles, e crianças de dois ou três anos mui freqüentemente ficam compenetradas e sérias quando olham para mim. Isto foi um dos grandes privilégios de minha vida, e quero expressar de alguma maneira meus agradecimentos por este amor que meus pequenos amigos me concederam. Possa o destino e o grande oceano de energia vital, do qual eles vieram e para o qual retornarão cedo ou tarde, bendizê-los com satisfação, alegria e liberdade durante suas vidas. Espero ter dado o melhor de mim para sua futura felicidade".
Wilhelm Reich (1951/52), na dedicatória de seu livro "Children of Future -
On the Prevention of Sexual Pathology", Ed. Farrar, Straus and Giroux, 1983

"O psíquico faz parte do vivo, mas o vivo não é nem uma parte nem idêntico
ao psíquico. Por conseguinte, pode-se corretamente avaliar o território
psíquico a partir do ponto de vista do vivo, mas não se pode compreender o
vivo apenas do ponto de vista do psíquico. Podemos avançar, assertivamente,
do psíquico para o vivo apenas se tomarmos como ponto de partida aquilo que
o psíquico tem em comum com o vivo, e não aquilo que o diferencia do vivo.
Em termos concretos, tem sido demonstrado, através da descoberta da energia
cósmica (isto é, do orgone), que é possível avançar dos afetos psíquicos via
as excitações fisiológicas, para a luminação celular biológica, e daí para a
energia celular biológica, e da energia celular para a energia orgone
atmosférica. Mas é impossível ir em direção à energia orgone atmosférica a
partir de uma idéia obsessiva ou uma fantasia histérica de estupro."
Wilhelm Reich (1947/48) em "The Devolopmental History of Orgonomic
Functionalism - Part Three". Revista Orgonomic Functionalism, publicada por
The Wilhelm Reich Infant Trust, Vol.3, 1991.

"O porquê de o funcionamento vital (inclusive o pensamento racional) ser tão
temido, constitui um dos grandes mistérios da estrutura irracional humana."
Wilhelm Reich (1951/52), em "People in Trouble - The Emocional Plague of
Makind", Ed. Farrar, Straus and Giroux, 1976

"O que toda religião chama de 'alma' é o sentimento de si mesmo (self), um
tipo de auto-percepção."
Wilhelm Reich (1952) em "The Silent Observer". Revista Orgonomic
Functionalism, publicada por The Wilhelm Reich Infant Trust, Vol.1, 1990.

"No fundo, a natureza — dentro e fora de nós —, só é intelectualmente
acessível através de nossas impressões sensoriais. As impressões sensoriais
são, basicamente, sensações de órgão, ou, colocando de outra maneira, nós
tateamos o mundo que nos rodeia através de movimentos de órgãos (=movimentos plasmáticos)."
Wilhelm Reich em "Ether, God and Devil/Cosmic Superimposition",
Ed. Farrar, Straus and Giroux, 1973

"Se nossas 'impressões' dos movimentos vitais refletem corretamente sua
'expressão'; se as funções básicas da vida são idênticas em toda a matéria
viva; se as sensações nascem das emoções; e se as emoções brotam de
movimentos plasmáticos reais, então nossas impressões devem ser
objetivamente corretas, contanto que, obviamente, nosso aparelho sensorial
não esteja fragmentado, encouraçado ou alterado de algum outro modo."
Wilhelm Reich em "Ether, God and Devil/Cosmic Superimposition",
Ed. Farrar, Straus and Giroux, 1973

"Fui acusado de ser um utópico, de querer eliminar o desprazer do mundo e
defender apenas o prazer. Contudo, tenho declarado claramente que a educação tradicional torna as pessoas incapazes para o prazer encouraçando-as contra o desprazer. Prazer e alegria de viver são inconcebíveis sem luta, experiências dolorosas e embates desagradáveis consigo mesmo. A saúde psíquica não se caracteriza pela teoria do nirvana dos iogues e dos
budistas, nem pela hedonismo dos epicuristas, nem pela renúncia monástica;
caracteriza-se, isso sim, pela alternância entre a luta desprazerosa e a felicidade, o erro e a verdade, o desvio e a correção da rota, a raiva racional e o amor racional; em suma, estar plenamente vivo em todas as situações da vida. A capacidade de suportar o desprazer e a dor sem se tornar amargurado e sem se refugiar na rigidez, anda de mãos dadas com a
capacidade de aceitar a felicidade e dar amor."
Wilhelm Reich (1942) em "Function Of The Orgasm - Vol 1 Of The Discovery Of
The Orgone", Ed. Farrar, Straus and Giroux, 1989

"Os adolescentes de hoje [1936] carregam um fardo infinitamente mais pesado
do que a juventude na virada do século. Esta ainda podia ser completamente reprimida; mas, hoje, todas as forças da adolescência estão irrompendo.
Porém, a juventude carece tanto de suporte social quanto de capacidade estrutural para lidar com essas forças".
Wilhelm Reich (1936), em "The Sexual Revolution", Ed. Farrar, Straus and
Giroux

domingo, 10 de dezembro de 2006

TEATRO: "As Velhas"

AS VELHAS

©Peça em dois atos de Miguel Angel Fernandez

Personagens:

FILOMENA: MÃE. 90 anos

MARIANA: FILHA. 65 ANOS

JOSÉ: "NOIVO" DE MARIANA, 35 E 66 ANOS.

PRIMEIRO ATO

Cenário: Dois quartos; o da direita pertence a FILOMENA; uma cama, criado-mudo. À esquerda, o de MARIANA, cama e guarda-roupa; no centro, a sala. Um antigo armário. Cadeiras, mesa. Ao fundo, o resto da casa.

Mãe e filha entram chegando da missa: Terço na mão, manto nos ombros; livro de missa. Ambas de saias longas, pretas. Filomena senta numa cadeira, põe tudo sobre a mesa, e adormece imediatamente. Mariana vai até o móvel, tira dele vidro com pílulas; a jarra de água ao lado: enche copo. Guarda o vidro no bolso

MARIANA − Mãe! Acorda. Aqui o remédio das nove. Vamos. Toma. (Ela faz caretas enquanto bebe) O sermão do padre foi longo, não foi? Por hoje chega de jejum. Vou preparar o chá.

Ela sai. Assim que a outra sai, Filomena levanta com desenvoltura, vai até o móvel e tira pacote de bolachas escondido. Guarda alguma no bolso; esconde novamente o pacote. Come. TEMPO. Entra Mariana com bandeja pronta: chá, xícaras. Coloca tudo sobre o móvel. Abrindo gavetas, procura.

MARIANA − Os biscoitos acabaram? Vou sair para comprar.

(A outra resmunga enquanto disfarça o mastigar. Sai. Filomena levanta e prontamente se serve de chá: bebe e come. Assim que termina vai para seu quarto, à direita. Tira do bolso envelope e com algum esforço o esconde no colchão. Deita suspirando. Entra Mariana na sala com embrulho nas mãos.

MARIANA − Mãe, já foi deitar? Não vai tomar seu chá?

Ao colocar o embrulho sobre a mesa, percebe migalhas nela. Senta. Come e toma seu chá em silêncio longo. TEMPO. Ao acabar, vai ao seu quarto. Tira a blusa. Abre a porta do guarda-roupa e a pendura. Senta na cama; enquanto tira os sapatos, do guarda-roupa sai, cheirando a blusa, JOSÉ, vestido de branco igual a padeiro, aparenta uns 32 anos, seu rosto completamente branco de farinha; senta atrás dela; observando-a espera reação.

MARIANA (Sem olhar para ele; habituada) − Ai, José, José. Aquela velha ainda há de me enterrar. Será que se pode morrer de aborrecimento? Quem sabe? Mas nos disseram que mães são sagradas. Era o que também dizia aos meus alunos. "Mãe, é como o altar da igreja aos domingos" E como pesam esses domingos, José! (Pausa. Ela pega a blusa das mãos dele e a coloca novamente dentro do móvel, se deita e segura a mão dele carinhosamente, ele a imita) Dormir um pouco. Descansar uma horinha. Vai ser dia longo. Tão longo, José. Se não fosse por tua companhia, sei não se despertaria.

Blecaute. TEMPO. Luz dia.

Mariana entra vindo da rua, carrega sacola. Coloca-a sobre a mesa; senta para retomar o fôlego. Levanta e sai. Tempo. Filomena entra, vê a sacola, examina o conteúdo. De uma caixa de ovos, tira dois deles e rápida vai ao quarto de Mariana; debaixo do travesseiro esconde−os. Volta para a sala. Finge indiferença mexendo nas gavetas quando Mariana volta.

MARIANA − Procurando alguma coisa?

FILOMENA − Não preciso responder a perguntas idiotas.

MARIANA − Se é doce que procura, não vai achar. Sabe que está proibida.

FILOMENA − A velha quer que eu acredite que se importa com minha saúde.

MARIANA − É meu dever de filha.

FILOMENA − E meu direito de mãe é te mandar pro inferno, ou pra cozinha. Escolhe.

MARIANA − Isso não é escolha. É sentença. Vou trazer o chá.

Levando a sacola, sai. Filomena, contente com o que tira de dentro da gaveta: um doce evidentemente escondido por ela mesma, guarda-o no bolso. De uma outra gaveta, retira as coisas de missa: terço, livro, manto. Tempo. Está pronta para sair. Entra Mariana com xícara de chá.

FILOMENA − Será que as galinhas botaram hoje? (Disfarça risada)

MARIANA − O último bicho que andou por aqui, foi aquele gato que você envenenou. Toma. (Tira do bolso frasco e dele uma pílula. Junto com a xícara, dá para Filomena bebe.) Vai passar no correio depois da missa?

FILOMENA − Faz mais de 30 anos com essa mesma cantilena! (Imitando) "Vai passar no correio?" Vergonha de você mesma ir, não é? (Pausa.) Se vou lá é pra visitar minhas velhas colegas, não por tua causa. Pelo menos com elas se pode conversar decentemente. E esperando o quê ainda? Milagre nos envelopes? Alguma encomenda de véu e grinaldas? Velha louca! (Pausa. Pronta para sair. Como lembrando subitamente) Dá uma olhada se a galinha botou lá, no galinheiro! (Assinalando o quarto de Mariana. Tosse com risadinha e sai. Mariana adivinhando, vai ao seu quarto; assim que entra, do guarda-roupa sai José, fica parado ao perceber a fúria dela. Observa-a procurar no guarda-roupa, debaixo da cama, até encontrar os ovos debaixo do travesseiro)

MARIANA (Com os ovos na mão) − Não me importo mais com estas coisas. Estou acostumada. A velha está cada dia mais louca. Não sei. Mas às vezes me parece que tem ciúme de nós. (Pausa.) Parecia tudo tão certo. No começo o sol, depois a lua no céu daquela festa, e você equilibrando pães mágicos.

(Como aguardando a deixa, José tira do bolso dois pãezinhos espetados por garfos e imita passos de balé com eles, como Chaplin no filme "Em busca do ouro”. Mariana sorri.) Rindo de tuas palhaçadas, no final da quermesse já estávamos apaixonados.

(Acaricia José que deita a seu lado. TEMPO. Do fundo, entra Filomena na sala. Livra-se do manto e do livro de missa. Vai até a porta do quarto de Mariana. Ouve com atenção).

MARIANA − Se você morreu, José, quero deitar a teu lado esta vida seca que me resta. (Pausa) A morte virando esperança. (TOM) Ai, Mariana quanto pecado! (Acariciando-se) Mas dentro de meu ventre, ainda levo nosso filho inascido. Ele está lá, José. Aninhado com tua ausência.

(Leva a mão dele até o regaço e o faz acaricia-lo. Grudada na porta, Filomena espia escondendo risadinha. Satisfeita vai para seu quarto. Tira garrafa de esconderijo e bebe. A esconde novamente. Pausa. De lá, para a sala, grita)

FILOMENA − Tô chamando você!

Rapidamente, José entra no guarda-roupa. Ela esconde os pãezinhos no móvel. Suspira. Vai para o quarto da mãe.

FILOMENA − Olha aqui! O médico falou que preciso me cuidar mais, que não estou melhorando. (Imitando-o) "Na sua idade, precisa de mais cuidados". Ele sempre disse! "Na sua idade".Velho imbecil, velhice não é doença! (Imitando-se) "Doença, doutor, é minha filha. Essa coitada que vive misturando fantasmas naqueles refogados temperados com sementes de tédio! (Para ela) Ou sementes de loucura, heim?

MARIANA − A loucura pode temperar o tédio, mãe. Vou pegar teu remédio.

Vai até a sala. Filomena, lembrando subitamente, tira do bolso envelope e o esconde no colchão. Mariana volta de copo e remédio nas mãos.

MARIANA − Toma. (Bebe, se engasga. Escarra ruidosamente no chão) Doente e velha demais para ficar aí, imaginando coisas...

FILOMENA − Doente? Estou é sendo envenenada por uma velha louca. Imaginando? Pensa que me engana?

MARIANA − Deita um pouco agora e pára com essas besteiras.

FILOMENA (Resmunga, preparando-se para deitar) − Besteira, besteira foi ter-me casado com aquele desgraçado. (Pausa.) Com a noite vinha o pavor de me deitar a seu lado, sempre me procurando com aquela "coisa" esfregando-a em mim. O único que fez foi ter ajudado parir você, pra morrer logo em seguida. Como se ele tivesse abortado! Na sua sabedoria, o Senhor me deu a luz compensando-me com a morte dele. (Olhando Mariana dos pés à cabeça.) O meu tormento com você foi outra "coisa.”

MARIANA (Esfregando o chão.) − De volta ao velho castigo.

FILOMENA − E porque não? As filhas servem para serem castigadas.

Aqui ela se transforma: forte e ereta, com desenvoltura anda ao redor de Mariana, ajoelhada.

FILOMENA − Viram como é prendada? Ela é tão educada, prestativa e gentil. Parece até gente grande!

MARIANA (Levanta o rosto sem emoção; mecanicamente.)

− Professora...

FILOMENA (Emendando as frases) − ...Como já devem ter adivinhado, dará uma excelente professora! Não é filhinha?...

MARIANA − ...Ou então freira...

FILOMENA − ...para não correr o risco de ser mãe de estupradores! Uma comunidade de santas religiosas! Reinaria nela como exemplo, não acham?...

MARIANA − ...Cordeirinho...

FILOMENA −− ...sem pecado, padre! Incapaz de fazer mal a quem quer que seja...

MARIANA − ...Sacrifícios...

FILOMENA − ...pelos outros que ninguém é capaz de fazer. Prestimosa que só vendo...

MARIANA − ...Sorte e felicidade...

FILOMENA − ...Deus me deu ter filha assim, que não larga da mãe nem por um minuto. Até preparar chá, ela já sabe.

MARIANA − ...O que seria dela...

FILOMENA − ...se a mãe lhe faltasse? Só Deus sabe. Mas Ele haverá de cuidar desta santa se um dia me chamar a seu lado. Até lá, não existe sacrifício suficiente...

MARIANA − ...Sensível e frágil...

FILOMENA − ...como é, podem imagina-la andando pelo mundo, sem a ajuda e a força de sua mãe? Só de pensar dá um aperto no coração, não dá?...

MARIANA − ...Homem...

FILOMENA (Sua voz mudando com o "correr dos anos")

− ...Homem nenhum merece flor assim. Essa vida cheia de demônios em cada esquina. Mas a mãe não há de lhe faltar, para protegê-la dos pecados dos outros...

MARIANA − ...Professora...

FILOMENA (O tempo curva suas costas) − ...Agora que minha filha é professora, precisa ter cuidado nesse ir e vir da escola. Vou pedir ao padre mudar esse horário tão tarde. Nunca se sabe o que pode acontecer, não é, querida?...

MARIANA − ...Festa...

FILOMENA − ...Só se for a da quermesse da igreja. Não posso te imaginar andando com essa corja esfregando-se em impudências que me dão arrepios. Não a minha filha, por favor! Você tem mãe! Agora, os outros...

MARIANA (Ainda de joelhos) − ...os outros na rua, brincando ou brigando, pulando na chuva, na lama.

FILOMENA ("Volta" ao presente) − Pulando de galho, não é? Fugir para a lama com aquele padeiro indigente! Não vou te perdoar nunca por ter querido me abandonar.

MARIANA − Abandonar?

FILOMENA − Ainda bem o ensebado desapareceu! Morto deve estar. Amém! Podias ter casado com aquele velho farmacêutico, um palerma decente e com dinheiro.

MARIANA − Se não for com José, será com ninguém.

FILOMENA − Homem serve pra nos dar teto e comida. Depois disso é melhor que morram e levem para os vermes aquela porqueira que estão sempre querendo meter dentro da gente! Ah! e tem as pestes dos filhos! E o que é nosso ainda será deles! É o calvário do senhor que repetimos neste mundo. Agradece a Ele por estar viva. Não a mim!

MARIANA (Senta na borda da cama) − "Viva" estava naquele dia na praça... E você parou na minha frente...

FILOMENA (Relembrando, interpreta) − "Vai demorar muito esta vergonha? Tá esperando o quê?" (TOM) E você com ar de idiota romântica...

MARIANA − "Meu noivo. Vamos casar."

FILOMENA (Revivendo, erguida e forte) − Ele não virá. Vamos pra casa. Agora!

MARIANA (Desafiadora) − Ele virá, claro que virá.

FILOMENA − Vamos evitar a humilhação de mais alguém ficar sabendo deste vexame. Levanta daí e vamos pra casa!

MARIANA − Ficarei aqui até ele chegar. Goste você ou não.

FILOMENA − Falei com ele.

MARIANA − Não acredito em você. O sol que ilumina é testemunha.

FILOMENA − Esse sol não adianta. Porque ele não virá.

MARIANA − O sol veio.

FILOMENA − Veremos quem tem razão. Filha patética.

Filomena se afasta, e vai até a sala, permanecendo nas sombras. Mariana sentada na cama, igual o faria "num banco de praça".

MARIANA − E fiquei esperando, esperando até cair a tarde e começar a chover. (Faz que abre um guarda-chuva) A noite acendeu as luzes da praça. (Luzes do quarto diminuindo pouco a pouco) E nunca mais vi José.

Lentamente se dirige à sala. As luzes vão aumentando de intensidade, acompanhando sua chegada. Revivendo o momento da volta de Mariana da praça, (quarto) Filomena impaciente, a aguarda. Vira-se ao vê-la chegar.

FILOMENA − Mas olhem só para ela! Enlameada como prostituta abandonada. Eu disse que ele não iria. Quando você sair dessa letargia de coitada e desanuviar as idéias, vai entender melhor. Agora tira essa roupa imunda, vai tomar banho.

MARIANA ("Voltando" ao presente) − Prestativa e gentil. Protegida do pecado dos outros...

FILOMENA − No fundo você sempre quis que fosse assim. Não pretendo ter de ouvir lamentações a esta altura. É tarde demais. Vamos voltar. Tá na hora de preparar a comida. Vá logo. (Indo para seu quarto) Vou dar uma cochilada antes da comida. (Alto) Espero sobreviver a mais esta!

Mariana vai a seu quarto. Ao entrar, a porta do guarda-roupa se abre suavemente, dele sai José.

MARIANA − E você acreditou que me abandonar seria o melhor. Agora olha pra mim. Requentando recordações nas panelas...

Senta na cama. Ele a ajuda a tirar os sapatos, deita e a convida a fazer o mesmo.

Tempo. O casal parece dormir. Filomena levanta, cuidando não fazer barulho vai ao quarto de Mariana. Encosta o ouvido na porta. José a pressente e levanta assustado, entrando imediatamente no guarda-roupa. Filomena entra sem fazer barulho, se acerca da cama, olha fixamente para a filha dormindo. Pé ante pé, vai até o guarda-roupa, procura até encontrar embrulho, dele tira dois pãezinhos, cheira-os e faz caretas. Abaixa-se, pega os sapatos de Mariana; com algum esforço esmaga os pães deixando as migalhas caírem no interior deles; leva a mão à boca, escondendo seu divertimento e volta ao quarto. No meio do caminho:

BLECAUTE. TEMPO.

"Luz de noite”. Filomena entra ligeira vindo do fundo, se livra do manto e do livro de missa jogando-os sobre a mesa e vai direto para seu quarto; do bolso tira envelope que esconde no colchão. Senta para retomar fôlego. Entra Mariana na sala vindo do fundo, vê o manto sobre a mesa.

MARIANA − Mãe? (Sai e volta pouco depois) Aconteceu alguma coisa? Cadê você? (Filomena se esconde atrás da "porta" do quarto. Mariana vai até lá. Não a vê. Volta à sala) Onde será que a velha se meteu?

Sai. Filomena no quarto assoma a cabeça, constata que Mariana não está na sala; tira garrafa escondida, abre-a no momento que Mariana volta, vindo do fundo. Da sala, ouve o barulho da rolha. Vai ao quarto e pega a mãe no flagra tomando um gole do gargalo. Pausa.

MARIANA − Que está fazendo? (Pausa. Tentando lhe arrancar a garrafa) Me dá isso! Então eram meus refogados que estavam te matando, não é? Velha bêbada!

FILOMENA − Não te mete na minha vida, velha maluca!

MARIANA (Pegando a garrafa) − Olha só quem está falando! (Tom) Nessa idade! Deixa o médico saber disso.

FILOMENA − E como é que aquele velho idiota vai saber disso?

MARIANA − Ora, eu vou dizer a ele.

FILOMENA − Se você fizer isso, vou contar teu segredo para todo mundo...

MARIANA − Que segredo?

FILOMENA − Aquele que escondes no teu galinheiro. Esse povo de fariseus adora intrigas. Ficarás mal falada na cidade. Apedrejada até! Eu juro!

MARIANA − E isso, por causa de uma garrafa de vinho?

FILOMENA − Que é minha! E a quero de volta. (Mariana sai do quarto levando a garrafa) Onde cê vai?

MARIANA − Ao banheiro!

Sai. Ouve-se a descarga. Mariana volta. Gritando, da sala.

MARIANA − E agora me deixa dormir! Dorme você também alcoólatra!

Entra no seu quarto. TEMPO. Filomena abre outra garrafa tirada de esconderijo, cuidando para não fazer barulho. Bebe. Pausa. Tira de algum lugar um estojo de maquiagem. Cantarola enquanto se maquia.

FILOMENA − "O vinho faz bom sangue, bom sangue produz bom humor." (Bebe mais um gole, continua a se maquiar.) "O bom humor faz nascer bons pensamentos, bons pensamentos dão origem a boas ações.". (Desnudando os ombros, levantando a saia acima do joelho, faz pose de bailarina de cabaré.)... e as boas ações conduzem a Deus"...Viva Deus!

(Fica estática, ouvindo sua última palavra, olhos fixos no nada, seu rosto virou uma máscara deformada pela maquiagem exagerada. Pausa. Abaixa a saia, cobre os ombros, tenta se recompor, subitamente constrangida. Olha na direção da platéia. Pausa. Leva as mãos à boca.)

FILOMENA − Alguém viu meus dentes?

(Longo silencio)

MARIANA (Deitando. Grita do quarto.) − Vai ficar aí até a meia-noite? Velha doente!

FILOMENA − Doente e longa meia-noite.

MARIANA levanta o braço e apagam todas as luzes. BLECAUTE.

TEMPO. FADE. Luz de dia. Mariana lendo um livro na sala. TEMPO. Do fundo, ouve-se longo barulho de descarga do banheiro. Pausa.

FILOMENA (Off) − Boboca! Vem me limpar!

MARIANA (Fecha o livro com violência) − Outra vez, dona Filomena!? (Para si) Velha fingida. Isso que dá beber até morrer!

FILOMENA (Off) − Mas ainda estou viva! Depois de morta não vai mais precisar! (Pausa) E então?

Ela reluta, anda pela sala. TEMPO. Entra Filomena lentamente. Mariana não a vê. Assusta-se quando a outra fala.

FILOMENA (Finge não ver ninguém) − Não tem ninguém na casa.

MARIANA − Já estava indo. Como cê fez?

FILOMENA − Não fiz.

MARIANA − Mas não pode...

FILOMENA − Sei que não posso sozinha. Por isso não o fiz. Agora que estou sozinha nesta casa, preciso aprender a conviver com minhas próprias sujeiras.

MARIANA − Que cê tá falando? Vamos lá, eu te ajudo.

FILOMENA − Quem é você, velha?

MARIANA − Mãe, não precisa...

FILOMENA − Confusa senhora, não posso ser sua mãe. Só tive uma filha. E ela fugiu há muito tempo com o fantasma de um padeiro. Estou sozinha depois disso, como pode ver.

MARIANA − Está toda molhada. Não pode ficar assim...

Ao chegar perto, Filomena tenta dar-lhe um tapa.

FILOMENA − Que está fazendo na minha casa, sua desconhecida! Vá embora! Não vai conseguir levar nada. Minha filha, hipócrita depravada, preferiu a genitália de um fantasma, emporcalhando os valores desta casa e envenenando o sacrifício de uma mãe! Nada mais resta, só o martírio de uma velha moribunda. Vai-se embora de minha casa!

Mariana corre para seu quarto. Senta na cama com o rosto entre as mãos. TEMPO. Filomena aproveita o momento. Vai até o móvel e retira algum doce. Sovina, come gulosamente. Mariana no quarto levanta de repente, resolvida, vai pra sala. Surpreende Filomena de boca cheia, o rosto sujo de chocolate, ela a olha petrificada.

MARIANA − A pobre velha moribunda! Desobediente come às escondidas, “emporcalhando-se" de doces. "Nada mais resta" a dividir, não é?

FILOMENA − Ainda está na minha casa?

MARIANA − Se quiser arrebentar vá "emporcalhar" só tua cama, por que eu limpei a casa. Que é minha também! Vá, velho martírio! Vai, porca!

FILOMENA − Porca é aquela cama fedida...

MARIANA − ...De teus vômitos!

FILOMENA − ...Vomito para não morrer envenenada com teus refogados!...

MARIANA − ...Então faça você mesma a maldita comida!

FILOMENA − Se pudesse... comigo era limpa e não fedia como certas pessoas que não conseguem viver sem emporcalhar as panelas de más intenções. (De braços abertos) Pai! Por que me abandonaste neste inferno?

MARIANA − Deus não tem nada a ver com o inferno que você criou!

FILOMENA − O inferno é preciso! Sem ele perderíamos as forças que protegem as virtudes. (TOM) As tuas, sempre frágeis, aliás... É o que você queria, não é? Se deliciar acariciando a genitália às escondidas... E chama a mim de porca.

MARIANA − Já posso ver as portas se abrindo para um novo inferno.

FILOMENA − E por que não? Estamos quase mortas, e você não pode me abandonar. Sem mim nada existe que te prenda neste mundo, como nunca ouve.

MARIANA − Ouve José.

FILOMENA − "Aquilo?" Ora, minha aprendiz de pecadora, você é tão aborrecida. Carregando a cruz dessas misérias carnais, como um pobre Cristo! Cristo que coisa grave devia ter aprontado, afinal o Pai poderia tê-lo salvado, mas não o fez. Por quê? Culpa, minha filha. Pecado. Você entende disso muito bem.

MARIANA − Não era o que você dizia de Cristo quando eu era criança...

FILOMENA − Aquilo era catecismo! Precauções contra as perversões que infernizam a mente das crianças. É preciso que aprendam a se sentirem culpados. É uma luta, por que o pior defeito das crianças é não conhecerem o pecado. Foi melhor assim.

MARIANA − Coitadas das crianças. E de nós.

FILOMENA − É verdade. Poderíamos ter tido vida mansa, com as regalias de um rico casamento. Mas graças a você...

MARIANA − Escolhe outra culpa, velha.

FILOMENA − Culpa tenho de ter todas as razões do mundo? Veja eu. Casei com aquele bocó por tua causa! Você precisava de um pai para acalmar esse povo faminto de escândalo...

MARIANA − Eu? Precisava de um pai?

FILOMENA − ...E que foi que ganhei com isso? Como já disse, estamos quase mortas e não preciso esconder mais nada. Tive que casar com aquele imbecil de quem você sempre perguntava: (Imitando) −"Como era meu pai, mãe?" − Inventei tudo que você sabe. A única verdade é que morreu na noite que você nasceu.

MARIANA ( Na defensiva) − Quem era esse outro, o meu pai “de verdade”, mãe?

FILOMENA − Ele foi a fonte de meu ódio. E você a filha bastarda de um pesadelo. Graças a Deus o patife me abandonou... (Olhando-a fixamente) Cuidado com esse olhar! Nada de esperança! Deixa você debilitada... (TOM) querer morrer quando a ilusão passa pela porta de tua casa, de braço dado com uma prostituta. (TOM) Melhor o ódio, minha filha! É mais forte e protetor. E nem tenta te aproveitar dessa história suja. Está digerida e evacuada melhor que tuas comidas. E agora me deixa dormir com meu companheiro e santo ódio. Vai. (TOM) Tem mais, velha. Já contei tantas histórias da carochinha para você! (Ri. Tosse) Não esquece meu remédio!

MARIANA − Já que estamos quase mortas, conta direito a história de como morreu o meu "falso" pai. Pode contar, velha. Vamos nos divertir juntas.

FILOMENA − Essa história não é pra teu bico, "velha.”

MARIANA − Morreu mesmo ou também ele te trocou por outra.

FILOMENA − Não tinha coturno para tanto... Foi numa antiga meia-noite. Os berros daquela criança não paravam... Você, não parava de berrar! E aquele imbecil manchado de sangue. Do meu sangue! O palerma com cara de benfeitor! (Se empolgando) Ganias igual a um cão! E ele rindo, como um cavalo! Parecia que a filha era dele. De repente seu coração arrebentou. Aquele pateta ridículo querendo festejar às minhas custas! Agradecendo a Deus e à vida pelo meu parto! Torci para que tivesses morrido também. Passava da meia-noite. Apaguei todas as luzes e dormi dias. (De repente Filomena apaga a luz do abajur) E já passa da meia-noite.

MARIANA (Levantando-se.) − Você deve odiar toda luz, não é, mãe? (Sai do quarto. Na escuridão total ainda se ouve)

FILOMENA − E às lamúrias também! Não esquece do meu remédio!

BLECAUTE.

FADE. Até luz do dia.

Entra Mariana na sala, leva bandeja com pratos, xícaras etc.

MARIANA (Gritando) − Vai tomar o chá na cama? (Filomena na cama permanece imóvel. Mariana vai até lá.) Velha. Acorda. Vamos, deixa de pose. Abre esses olhos.

Mariana a sacode de leve. Pausa. Inquieta-se. A sacode com mais força; tenta levanta-la, mas sem jeito nem força, não consegue impedir que ela vá deslizando até cair da cama; agarrada ao colchão, parte dele levanta. No chão, ela acorda. Mariana vai ajudá-la, mas percebe que por uma das costuras, alguns envelopes assomam. Divide-se entre a curiosidade e a necessidade de socorrê-la. Vence a curiosidade. Pega um envelope. Dá uma rápida olhada. Espantada com a revelação, deixa-o cair. Ainda atordoada volta-se para pegar outros. São muitos, dezenas. Filomena entende imediatamente o que se passa. Tenta se levantar, sem conseguir.

MARIANA − Que maldição você merece, velha traidora?

FILOMENA (Semi-erguida, no chão) − Traição daquele desgraçado! O idiota jurou que desapareceria para sempre. Em seguida me aparece a primeira carta! (Pausa) Escondi, claro. Depois do que eu sofri te criando e te aturando, não ia permitir que essas cartas despertassem tuas intenções de me abandonar? (TOM) E além do mais, teria perdido este momento se as tivesse rasgado... (Tosse) Ontem você não trouxe o remédio. Ajuda-me a levantar.

MARIANA − Enganada sempre. Obedecendo sempre...

FILOMENA − Obediência teria sido casar com o velho da farmácia.

MARIANA (Olhando as cartas) − "Se não casei com José será com ninguém."

FILOMENA − Sempre pensando em si mesma. Aquele velhote da farmácia, além de apaixonado, tinha posses. Depois de morto teria deixado tudo para nós...

MARIANA (Sem tirar os olhos das cartas) − Envenenado por você, certamente.

FILOMENA − E pra que serve um homem? (Pausa.) Não teríamos passado todos esses anos dependendo das migalhas dessas aposentadorias de pobre.

MARIANA (Irônica, arrumando envelopes) − Amar é depender do outro. Não é, "mamãe"?

FILOMENA (Arrastando-se) − Isso! Dependentes uma da outra, ficaremos juntas nesta miséria até o fim.

MARIANA (Preparando-se para sair) − Não, "mamãe.” Enterrarei esta miséria numa cova bem funda. Junto com teu cadáver.

FILOMENA (Imitando. Com ódio) − "Incapaz de matar uma mosca.” "Mansa como cordeirinho.” (Se arrasta em direção a ela) Simuladora! (Engasga. Pausa) Mas meu ódio não será enterrado comigo, não; ficará pairando no ar que respires, amaldiçoando o dia em que te pari emporcalhada de sangue! (Agarra-se no vestido de Mariana. Esta a repele.)

MARIANA − Sangue do teu sangue, "mamãe.”

FILOMENA − Devia ter te envenenado naquela meia-noite, maldita bastarda!

MARIANA (Olhando as cartas) − Agora que descobri teu segredo, posso ir embora deste sepulcro.

FILOMENA − Partir, fugir! Isso também é sonho, velha ridícula! E de ilusões, você está infetada! (Subitamente engasga, se assusta. Está piorando) O remédio! (Mariana tira do bolso um frasco, o observa detidamente e o guarda novamente. Filomena adivinha as intenções) Leva ele contigo, maldita! Sem mim, verás que não existe remédio para a peste que te espera lá fora! (Tosse. Pausa, vingativa) Desafasta de uma vez por todas, velha decrépita! Vai-te embora atrás do outro cadáver, por que este aqui, é meu!

MARIANA, sem olhar para Filomena, que se debate cada vez mais contra o sufoco, ensaia saída. Pára na porta, por um instante parece indecisa. Pega alguns envelopes e os guarda. Pausa.

MARIANA − Adeus, velha morta!

Vai para o seu quarto, senta na cama. Filomena se debate entre estertores que vão paralisando-a até imobilizar-se de vez. Morre. Mariana pega um envelope ao acaso, o abre e lê. À medida que as cartas vão sendo abertas, num outro canto do palco, luz ilumina José de maneira fantasmagórica, irreal; fala enquanto ela lê em silêncio.

JOSÉ − "Já perdi a conta do número de cartas; não sei qual o número desta, mas, que importa? Se tivesses partido de vez, eu saberia. Por que minhas cartas nunca voltaram. Deves estar aí, na mesma cidade onde nos conhecemos. Partí de lá depois de nossa aventura, encorajado pela tua mãe, como já deves saber. Se te levasse comigo, que tinha eu para oferecer, além de minha ternura e minha mala sempre pronta? Eu, um aventureiro e aprendiz de todas as profissões. Fui padeiro na tua cidade, mas também fui motorista e lavrador em outras. Mas, dessa vez, trouxe comigo, dentro da mala, a maior tristeza: te perder. E a única alegria: te amar.

Hoje, depois de cada carta que envio, fico sempre esperando algum sinal. E nada. Mas o silencio é o berço da esperança. Esperança de tolo? Pode ser, mas tenho convivido tanto tempo com esta situação, que agora já é como um vício, dependendo dele para levar esta vida que não é totalmente vazia porque tenho você aqui dentro, junto do meu sangue. Mesmo que seja desta maneira louca e solitária. Até a próxima, amor. Para sempre teu, José."

Mariana recolhe outra carta, profundamente emocionada.

JOSÉ − "Quantos anos já se passaram desde a última vez que estivemos juntos? Quantos sonhos já tive? E aquele que mais se repete, é onde te vejo chegando neste lugar, de mala na mão. Te vejo abrindo-a e dela escapam centenas de cartas, e como se tivessem vida própria, voam pelos corredores, entram nos quartos até me encontrarem escondido dentro do guarda-roupa. Torcendo para ser denunciado por elas, te vejo pelas frestas vindo na minha direção. No instante em que abrirás a porta, o sonho acaba. Nunca abrirás aquela porta, Mariana? Me despeço até a próxima, amor. Posso te chamar assim? Para sempre teu, José"

Mariana escolhe outra. A luz sobre José vai aumentando de intensidade, como se a sua presença fosse se tornando mais real a cada momento.

JOSÉ − "...ouço o barulho do tempo passando pela minha janela aberta, e o vento entra e sacode estas folhas fazendo as palavras dançarem, como querendo fugir. Mas a lembrança de tua voz e de teu corpo, são meus. É para eles que escrevo. A única coisa viva que tenho neste lugar. Por que aqui os velhos estão como mortos. Eu não. O mundo não é pequeno para mim, porque nele está você, Mariana. Hoje trabalhei no jardim, arrumando o caminho da entrada. Um dia chegarás por esse caminho?

Despeço-me agora, antes de apagar a proibida luz. Até quando? Não sei, amiga. José.”

Mariana mais impaciente joga a carta sobre a cama, se abaixa, encontra o par de sapatos onde Filomena esmagara os pãezinhos, enquanto derrama o conteúdo, olha em direção ao quarto da mãe meneando a cabeça. Debaixo da cama, retira velha mala, guarda os sapatos, as cartas, pega algumas roupas das gavetas, enquanto José continua a fala; a luz sobre ele se intensifica, tornando-o cada vez mais "real.”

JOSÉ − São estas cartas que mantém minha lucidez e conseguir obedecer os regulamentos desta casa. Elas, essas enfermeiras que nunca riem, ficam atrás de mim querendo saber que cartas são estas que nunca têm respostas. As ouvi dizendo que é coisa de velho gagá. Pode ser, mas não me importo. Como não me importo de comer essas sopas sem graça nem sal. Semelhante à vida sem você. Deixo eles com suas fofocas e continuo a esperar. Sempre teu, José.

Ao terminar esta carta, Mariana pronta para sair se volta e abre a porta do guarda-roupa. Vazio. Sorri, pega a mala e vai embora. BLECAUTE.

SEGUNDO ATO

LOCAL: CASA DOS IDOSOS

O que era o quarto de Filomena à direita, virou o de Mariana aqui; antes a sala, doravante o hall de entrada. O de Mariana, à esquerda, é de José agora. O guarda-roupa no mesmo local.

FADE até luz de entardecer. No hall, imóvel, Mariana de pé com a mala ao lado. Pausa. Da esquerda aparece José, vestido de branco como nas cenas anteriores. Ao vê-la fica estático. TEMPO. Acercam-se e se abraçam. TEMPO.

JOSÉ (Como final de frase decorada, mas exultante) − ...E então você chegou. (Pausa.) Um dia aconteceria. (Preocupado) Você está pálida. Teus olhos...

MARIANA (Acabrunhada) − Olhos com muita noite... Cansada.

Ele tira lentamente o casaco de padeiro, o boné, mostrando cabelos brancos (ou calvície), limpa com ele restos de farinhas ainda no rosto, como ator que termina encenação; isto é: mostra seu atual e verdadeiro rosto. Mariana, como se estivesse esperando essa atitude, não parece se importar ou perceber a mudança.

JOSÉ − Vem comigo. Vem.

Ele pega a mala e a conduz até seu quarto. Sentam na borda da cama, se olham por muito tempo. Se tocam, descobrindo-se.

MARIANA − Estamos velhos, José? Olha para mim.

JOSÉ − Olhando que você está aqui.

MARIANA − Estava com medo que a morte...

JOSÉ − Medo do que não se conhece?

MARIANA − Minha mãe agora conhece.

JOSÉ − Nunca casou?

MARIANA − "Sem José, não tem ninguém!", dizia para minha mãe.

JOSÉ − Finalmente aqui! (Pausa. Tom) Com quem você falou na entrada?

MARIANA − Não tinha ninguém. Fui entrando até... Ver você.

JOSÉ − Ninguém viu você chegar?

MARIANA − Como a morte: ninguém viu!

JOSÉ − Mariana. Por aqui as coisas são um pouco complicadas, burocráticas. São muito severos eles.

MARIANA − Eles quem?

JOSÉ − As enfermeiras, os médicos. Todos.

MARIANA − O que eles podem fazer? O que foi que eu fiz?

JOSÉ (Disfarçando preocupação) − Dizem que os velhos devem estar sempre ocupados. Muito bem, estaremos ocupados então! Quero que me contes toda tua vida, desde o dia que sai daquela cidade feito trapo... (Tom) Você leu todas minhas cartas? (De repente se ouve o barulho em OFF, alguém tentando abrir uma porta, batem. José levanta assustado.) Tinha me esquecido dele!

MARIANA − Ele?

JOSÉ − Meu companheiro de quarto! Se ele te encontrar aqui, tenho certeza que vai dizer a todos que nos viu na cama juntos.

MARIANA − Por que ele faria isso?

JOSÉ − Ele inventa. Esse sim é um velho gagá. Já fez isso com outros. Foi um escândalo da última vez até descobrirem que era tudo mentira. Melhor se esconder até me livrar dele. (Olha procurando, acha: Abre as portas do guarda-roupa, pega a mala dela, ajuda-a entrar) Entra aqui. Depois veremos o que fazer.

MARIANA (Olhando em volta) − Mas, que lugar é este?

JOSÉ − Explico depois. Agora entra aí.

(Se ouvem mais batidas na porta) Vamos, depressa. (Ela entra no guarda-roupa.)

BLECAUTE. TEMPO.

José está sentado num banquinho, na frente de pequena mesa, joga damas com seu parceiro, que é muito velho, sentado na borda da cama; imóvel, pensa a jogada. José olha de vez em quando na direção do guarda-roupa. Impaciente. O homem deita. José levanta silenciosamente e abre o guarda-roupa com cuidado. Dele assoma Mariana.

MARIANA − José! (Ele faz sinais, ela percebe o homem deitado e abaixa a voz) O que vamos fazer agora?

(Ele a conduz até o hall. Olha ao redor temeroso. De repente soa campainha bem alta. Barulho de passos, vozes, portas, metais etc, tudo ensurdecedor. Ele pega Mariana pela mão e saem pelo fundo. BLECAUTE. TEMPO).

Iluminação "sinistra”. José está no quarto dele, Mariana no dela, à direita. Ambos sentados na borda da cama, quietos. Vão se levantando simultaneamente. Os dois encostam-se nas suas respectivas portas. TEMPO. De seus lugares.

MARIANA − "Romeu"?

JOSÉ − Fizeram muitas perguntas?

MARIANA − Todas estúpidas, José. Por quê?

JOSÉ − Porque somos velhos.

MARIANA − Nos castigar por isso?

JOSÉ − É que aqui não se pode fazer o que se quer.

MARIANA − Como dividir o prato?

JOSÉ − Visitar o quarto do outro.

MARIANA − Por que eles fazem isso?

JOSÉ − Porque ninguém nos quer lá fora.

MARIANA − Quem se importa com lá fora se o que quero está aqui dentro! Primeiro minha mãe, depois o tempo, agora essas pessoas. De quem é a vida afinal?

JOSÉ − Deles, Mariana.

MARIANA − Quero minha vida de volta, José.

JOSÉ − Para isso é preciso fugir...

FADE. Até BLECAUTE.

José está jogando damas com o companheiro de quarto. TEMPO. Ele está nervoso. O outro vai dormindo ate deitar de vez. José mexe de leve para ter certeza. Rápido vai até o guarda-roupa. Dele sai Mariana. Abraçam-se em silencio. (Cochicham)

JOSÉ − Vai ser esta noite, minha querida.

MARIANA − Estou pronta e ansiosa para te seguir.

(Sem eles perceberem, o companheiro vai "acordando")

JOSÉ − Todos estes dias de castigo!

MARIANA − Não devias ter empurrado aquela bruxa.

JOSÉ − Eu sei, mas ela te insultando... Não consegui me controlar. Foi quase sem querer.

MARIANA − Velho corajoso!

JOSÉ − Tolo, isso sim. Tudo piorou desde então.

Ele percebe o companheiro "ouvindo" a conversa; disfarça, rápido. Ela não percebe a manobra, mas entra no jogo saudoso. Luzes acompanham o momento, piscam e evoluem; música de valsa surge. A abraça) Como naquela primeira noite. Me acompanha?

MARIANA (Surpresa, mas se deixando levar) – Ah! Se as pernas fossem asas!

JOSÉ − Gostou de meus pãezinhos engraçados?

MARIANA − O senhor é que é engraçado. Onde aprendeu a fazer pães dançar?

JOSÉ − Aprendi com outro palhaço e... Senhor? Me chamam de José desde pequeno. Gosto de vê-la rir... "Senhorita"?...

MARIANA − Meu nome é Mariana.

JOSÉ (Sedutor) − Então são dois... Maria e Ana.

MARIANA − Na dúvida, minha mãe deve ter preferido os dois. Gostou?

JOSÉ − De sua mãe?

MARIANA − Do meu nome, seu bobo!

JOSÉ − Muito. São as caras da dona.

MARIANA − Não tenho duas caras!

JOSÉ − Mas vale por duas. Mariana faz o quê?

MARIANA − Leciono na escola paroquial. Todas aquelas crianças...

JOSÉ − São suas?

MARIANA (Rindo) − Claro que não! Sou... Solteira.

JOSÉ − Há muito tempo?

MARIANA − ...O suficiente. E... Você?

JOSÉ − Também o suficiente. (Olhando ao longe) Aquela é sua mãe? E olhando feio pra cá. Ela é brava?

MARIANA − É sim. Mas esta noite não tenho medo de nada!

JOSÉ − Vamos até o coreto? Podemos dançar melhor lá, mais... Sozinhos.

MARIANA − Não sei...

JOSÉ − Dançar?

MARIANA − ...Se devo. A minha barraca...

JOSÉ − A festa está quase no fim. Vamos aproveitar antes de tudo acabar e sua mãe venha tirar você de mim.

MARIANA − Está bem. Vá na frente. Disfarça...

JOSÉ − Não vai fugir... Maria... Ana.

MARIANA − Estou muito feliz para fugir!

JOSÉ − Você fugiria?

MARIANA − É claro que não! Já falei que não tenho medo esta noite!

JOSÉ − Fugiria comigo.

MARIANA − Com você?

(As luzes mudam subitamente. Música acaba. Silêncio)

JOSÉ − Poderíamos ter fugido naquela noite! (Ele percebe que o companheiro voltou a dormir.) Mas desta vez vamos. Sem medo. Vamos escapar esta noite... De todos!

MARIANA (Brincando) − "Vá na frente"!

JOSÉ − Juntos desta vez!

MARIANA − Vamos.

JOSÉ − Me dá tua mão.

MARIANA (Apertando-se num abraço) − Leva tudo!

JOSÉ − Pronta?

MARIANA − Desde que deixei minha mãe morta.

JOSÉ − Muito bem. Então ouve o que vamos fazer.

Enquanto ele murmura o plano de fuga para Mariana, luz sobre companheiro que aparenta estar "ouvindo" a conversa. As sombras que acompanharam a cena anterior, começam a "cercá−los"; gesticulando e segredando vão saindo seguidos pelas sombras. TEMPO. FADE. BLECAUTE.

Sirene alta. Barulhos de passos, correrias, vozes, gritos, luzes vermelhas piscando.

TEMPO. Até silêncio total.

Entra José do fundo, com aspecto abobalhado; senta na borda da cama. TEMPO. Entra Mariana, também está mudada: parece mais velha, de avental amarrotado, cabelos desgrenhados, abatida. Aperta com força o decote (onde esconde remédio). Pára no meio do hall; hesita, mas vai para o quarto dele; ao chegar bem perto da porta, imediatamente luzes começam a piscar no hall. Percebendo, não se importa, entra e senta ao lado dele.

MARIANA (Sem olhar para ele) − Meu corpo está frio. Pobre corpo dolorido e humilhado. Que rancor naquelas pessoas! Vingativos e cruéis como o deus celeste de minha mãe! Seria o desenterrado ódio de minha mãe? (Pausa) Antes, quando a memória dos momentos que passamos junto me fortalecia, a velhice estava só nas minhas rugas. (Percebe que ele está ausente. O acaricia) Depois, ao te saber vivo, a ilusão de mudar a vida me iluminou como as luzes daquela praça antiga... Agora estou velha, por fim. (Resolvida, levanta e puxa-o pelas mãos) Vem, José, vamos dançar! Apaguemos nossa luz para que nos percam na escuridão! Vem comigo! Vamos voar!

JOSÉ (Balbuciando) − Não me importa estar morto. (Como acordando) Estamos loucos?

MARIANA − Não, amor! Loucura é agarrar-se à vida quando o mundo não nos quer! Vem comigo meu querido. Toma. (Tira do colo pequeno frasco, o faz beber; também ela o faz.)

Nos esconderemos na morte... Com um beijo te levo, amor de minha noite!

(Ajuda-o a deitar. Ele obedece com sorriso infantil. Deita a seu lado.

FADE até BLECAUTE. TEMPO.

Luz intensa ilumina de repente todo o Cenário. O local e o ambiente são os mesmos do primeiro ato. Mariana está sozinha no seu quarto, sentada na cama; cabisbaixa. A porta do guarda-roupa escancarada. TEMPO. Acorda assustada quando se ouve o grito de Filomena ressoando alto pela casa)

FILOMENA (Gritando do fundo) − Boboca, vem me limpar!

Levanta lentamente e vai até o guarda-roupa. TEMPO longo. Dentro dele não há ninguém. Fecha a porta e sai do quarto; atravessando a sala vai atrás do chamado de Filomena.

Fim